Maputo, 24 Mai (AIM) – O antigo estadista tanzaniano, Jakaya Kikwete, afirma que a África Austral é sortuda por ter tido Julius Nyerere como um líder incansável que construiu as bases necessárias para a libertação dos povos africanos e em particular da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Segundo Kikwete, o pan-africanista Nyerere abraçou a causa da liberdade e teve que consentir sacrifícios que até colocaram em causa o bem-estar da sua própria família.
Kikwete assim se pronunciou segunda-feira (23), em Maputo, durante a conferência sobre os 100 anos do malogrado Julius Nyerere, assinalados em Abril último.
A conferência que teve lugar segunda-feira contou também com a presença dos dois antigos estadistas moçambicanos, Joaquim Chissano e Armando Guebuza.
″Ele era um visionário excepcional. Por isso a África Austral e a Tanzânia são sortudas por terem tido um líder como Julius Nyerere. Um grande pan-africanista que defendeu a liberdade dos povos oprimidos, tanto que teve que consentir sacrifícios que até colocaram em causa o bem-estar da sua própria família″, disse.
Explicou que ″Nyerere começou a dividir o seu tempo como professor e político, e as autoridades coloniais, na altura, não ficaram satisfeitas com isso e mandaram-lhe escolher entre o ensino e a política e ele escolheu a política″.
Afirmou que não foi uma decisão fácil pois isso significou, para Nyerere, abandonar o seu trabalho como professor que tinha um salário, para se tornar num líder de um movimento sem ordenado.
″Foi um grande sacrifício tomar essa decisão, uma vez que já havia casado com a sua esposa Maria e tinham um filho menor″, sublinhou.
Kikwete avançou que o nacionalismo de Julius Nyerere levou-o a participar na fundação da Organização da Unidade Africana (OUA), em 1963 e mais tarde da SADC e liderou o Comité de Descolonização da OUA.
Um dos maiores beneficiários da abertura de Nyerere foi a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), desde a sua fundação em Dar-es-Salam, a capital tanzaniana, até a luta pela independência nacional.
″Foi a partir daí que construiu-se uma forte relação de amizade e irmandade entre Julius Nyerere e o povo moçambicano como guia para libertação da colonização portuguesa″, salientou.
O ex-estadista tanzaniano recordou que Julius Nyerere era filho de um chefe tradicional e que durante a sua infância foi pastor de gado do seu pai. Começou a estudar aos 12 anos e depois de concluir o ensino secundário, no seu país, partiu para Uganda onde se formou como professor numa universidade.
No seu regresso ao país natal, trabalhou como professor por três anos, tendo depois rumado para a Escócia onde fez o seu mestrado em História e Economia Política.
″Foi lá onde as suas ideias nacionalistas foram desenvolvidas e moldadas. Quando regressou ao país em 1952, ainda sob domínio britânico, continuou a dar aulas, mas, depois, juntou-se a uma associação africana que lutava pelos seus direitos″, revelou.
Presente na ocasião, Graça Machel, viúva do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, disse que a sociedade deve apropriar-se dos pensamentos dos heróis não só nacionais assim como africanos e este mesmo conhecimento ser alvo de estudo para as futuras gerações.
Afirmou que os lideres e dirigentes africanos que partilharam momentos com esses nacionalistas devem desempenhar um papel mais activo na educação das novas gerações sobre o percurso de libertação dos seus países.
(AIM)
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