O régulo Mangunde, Macacho Marceta Dhlakama, pai do falecido líder da Renamo, o maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, foi, finalmente, reconhecido, esta segunda-feira, pelo Estado moçambicano como régulo de primeiro escalão.
Mangunde é reconhecido cerca de 50 anos depois de ter sido legitimado pela comunidade local, conforme os costumes para se assumir as chefias tradicionais.
O influente régulo Mangunde, de 91 anos de idade, foi indicado líder tradicional em 1970, quando tinha apenas 39 anos de idade.
A história do régulo começou nos últimos anos da luta de libertação nacional, quando foi legitimado pela sua comunidade para ser líder comunitário.
Depois da independência nacional, Mangunde não foi reconhecido pelo Estado moçambicano, apesar de, a partir de 1994, depois das primeiras eleições multipartidárias em Moçambique ter começado a fazer parte dos eventos locais organizados pelo Governo.
A cerimónia do reconhecimento solene do régulo pelo Governo teve lugar na região com o mesmo nome, localidade de Toronga, distrito de Chibabava, em Sofala, e começou com uma cerimónia tradicional.
Mangunde explica que o não reconhecimento não foi por vontade própria, mas devido ao passado histórico, político e militar dos seus filhos, principalmente Afonso Dhlakama que, como se sabe, foi líder da Renamo, durante 40 anos.
“Nunca recusei ser reconhecido e também nunca faltou vontade por parte do Estado. O problema é que eu estava sujeito a um outro comando, que não permitia que eu fosse reconhecido”, explicou Mangunde, citado pela STV, estação privada de televisão.
Acrescentou que “um comando que não me autorizava trajar a farda e colocar as insígnias, mas que permitia que eu liderasse a minha comunidade e até manter contactos com o Governo em prol do desenvolvimento da população”.
O rito de reconhecimento apos o líder tradicional estar formalmente trajado como régulo seguiu-se a colocação das insígnias e a entrega da bandeira nacional, acto dirigido pelo administrador local.
“Estou satisfeito, muito satisfeito, e agradeço o apoio e todo o esforço feito por todos para que esta cerimónia fosse uma realidade”, disse Mangunde.
O administrador do distrito de Chibabava, Paulo Majacunene, pediu à comunidade de Mangunde e aos outros régulos para continuarem a respeitar o régulo Mangunde “porque ele precisa da nossa motivação para nos dirigir como sempre o fez desde 1970”.
As reacções em torno do reconhecimento do régulo foram todas positivas.
A filha do falecido líder da Renamo, Marta Dhlakama, afirmou que estava muito satisfeita “pois, tendo em conta a idade do meu avô e a sua saúde já debilitada, nunca acreditei que seria, um dia, reconhecido como líder. É um acto merecido e este facto enche-nos de orgulho”.
Por seu turno, o régulo de Gooda, uma região do distrito de Chibabava, Manuel António, referiu que “será uma honra para ele poder colher experiência de um régulo como Mangunde. Apenas ouvia falar dele, mas agora teremos a oportunidade de colher os seus ensinamentos, que, para mim, poderão contribuir para o bem-estar e desenvolvimento das nossas comunidades”.
A cerimónia contou também com a presença de representantes de várias congregações religiosas.
A irmã Gilda, da missão comboniana, disse que o acto de reconhecimento é sinónimo de paz. “É muito positivo para o país, é um acto que vai contribuir para consolidar a unidade nacional e contribuir para o desenvolvimento de Moçambique”.
Refira-se que o régulo Mangunde é o mais antigo e mais velho dos 537 líderes comunitários que Chibabava possui.