Lisboa, 20 Mar (AIM)-No dia em que em Moscovo, a capital da Rússia, se falou de ‘amizade, cooperação e paz’, notícia agradável para Homens e Mulheres que amam a paz e defendem um mundo sem guerras, em Bruxelas, a sede da UE, os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da União Europeia deram “luz verde” a um novo (plano) apoio, no valor de dois mil milhões de euros, para comprar material bélico e para fazer entregas à Ucrânia.
A informação de Bruxelas foi avançada pela agência noticiosa France Presse, que cita fontes diplomáticas europeias.
O plano de acção, que está dividido em três etapas, prevê que se disponibilize pelo menos um milhão de munições de 155 milímetros.
Mil milhões de euros serão usados para reembolsar os Estados-membros pelas munições retiradas dos respectivos stocks, numa primeira etapa. Os restantes mil milhões servirão para financiar a compra conjunta destas munições destinados à Ucrânia.
A terceira parte do plano pretende aumentar as capacidades de produção de uma dezena de empresas de armamento da UE para reabastecer os stocks dos países do bloco e continuar a abastecer as forças ucranianas.
O chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, participou por videoconferência no encontro e saudou o acordo.
‘Mais munições de artilharia para a Ucrânia o mais rápido possível: era o objectivo principal do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia de hoje (segunda-feira)’, sublinhou o ministro através da rede social Twitter.
Por seu turno, a RTP diz que os Estados-membros da UE aprovaram esta segunda-feira um pacote de dois mil milhões de euros para produzir e enviar munições de grande calibre para a Ucrânia. Para já, dezoito estados assinaram o acordo, incluindo Portugal, mas outros países manifestaram a intenção de aderir à iniciativa.
‘Estamos a dar um passo fundamental para cumprir as nossas promessas de entregar à Ucrânia de mais munições de artilharia”, anunciou o alto-representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell.
Para já, o acordo junta Áustria, Bélgica, Croácia, Chipre, Chéquia, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Portugal, Romênia, Eslováquia, Suécia e Noruega.
‘O projecto abre caminho para que os Estados-membros da UE e a Noruega possam prosseguir em dois caminhos: um procedimento acelerado de dois anos para cartuchos de artilharia de 155 mm e um projecto a sete anos para adquirir vários tipos de munições’, acrescenta a RTP, citando um comunicado da Agência Europeia de Defesa.
Estes desenvolvimento ocorreram no dia em que o presidente chinês, Xi Jinping, iniciou uma Visita Oficial de três dias à Rússia, que Beijing chama de ‘uma viagem de amizade, cooperação e paz’.
Recorde-se que no primeiro aniversário da guerra na Ucrânia (em fevereiro), a China apresentou proposta para a paz, que surgiu dois dias depois de o chefe da diplomacia chinesa se ter reunido com o presidente russo, em Moscovo, e um dia depois de a China se ter abstido na votação de uma resolução da ONU a exigir a retirada russa.
A proposta, de 12 pontos, foi imediatamente desvalorizada pelos Estados Undos da América (EUA), principal fornecedor de armas à Ucrânia, e pela UE. Os EUA e a UE acusaram a China de fornecer armas à Rússia, alegação prontamente desmentida pela China.
Embora sem evidências dessa acusação, a UE chegou a ameaçar a Chine com sanções,
Depois de vários comentadores de diversas capitais europeias terem considerado ‘precipitado’ o posicionamento da UE sobre a proposta chinesa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, recuaram e confirmaram que, efectivamente, não havia evidências de que a China estaria a fornecer armas à Rússia. Em Washington, a Casa Branca também recuou, admitindo que não havia evidências.
Beijing destacou na proposta a importância de ‘respeitar a soberania de todos os países’, numa referência à Ucrânia, e apelou ao fim da ‘mentalidade da Guerra Fria’, numa crítica implícita ao alargamento da NATO.
O plano propõe a manutenção da estabilidade das cadeias de abastecimento e acções para garantir a exportação de cereais.
Beijing também defende o aumento da ajuda aos refugiados e assistência à Ucrânia na reconstrução pós-conflito.
A VISITA DE XI À RÚSSIA
O Presidente chinês chegou a Moscovo, esta segunda-feira, reforçando que a sua primeira visita de Estado à Rússia desde o início do conflito na Ucrânia iria dar ‘um novo impulso’ aos laços bilaterais.
‘Estou confiante que a visita será frutuosa e dará um novo impulso ao desenvolvimento saudável e estável das relações sino-russas’, disse o presidente na pista de aterragem do aeroporto de Vnukovo, em Moscovo, referindo-se aos dois países como ‘bons vizinhos’ e ‘parceiros confiáveis’.
Xi descreveu os laços bilaterais como entrando ‘numa nova era’, fazendo eco aos comentários do assessor do Kremlin Yuri Ushakov na semana passada, que disse que Xi e Vladimir Putin assinariam documentos que estabeleceriam laços mais estreitos durante a visita.
‘Num mundo de volatilidade e transformação, a China continuará a trabalhar com a Rússia para salvaguardar o sistema internacional com a ONU no seu núcleo’, acrescentou Xi, segundo as agências noticiosas russas, citadas pelo ‘Diário de Notícias’.
Momentos antes do desembarque do presidente da China em Moscovo, Xi Jinping e Vladimir Putin destacaram ainda a força da sua aliança bilateral.
‘Espero trabalhar com o presidente Putin para adoptar, em conjunto, uma nova visão nas relações’, escreveu Xi num artigo publicado no jornal Rossiyskaya Gazeta e também divulgado pela agência chinesa Xinhua.
Num artigo publicado esta segunda-feira por um jornal chinês, Putin, por seu lado, elogia ‘a vontade da China de ter um papel construtivo na resolução’ do conflito e afirma que ‘as relações Rússia-China alcançaram o ponto mais elevado’.
Segundo o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, depois do encontro ‘cara a cara’ de hoje (segunda-feira), entre os dois líderes, que têm vindo a estreitar relações e a partilhar críticas aos países ocidentais, na terça-feira será o ‘dia das negociações’ e em que Putin e Xi vão dar uma conferência de imprensa conjunta.
Putin vai também explicar a Xi Jinping ‘minuciosamente’ a posição de Moscovo sobre o conflito, para que o presidente chinês possa ‘obter em primeira mão a visão que o lado russo tem do momento actual’.
Os dois líderes reuniram-se pela última vez em setembro passado, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), no Uzbequistão. Xi expressou então a Putin ‘questões e preocupações’ sobre a guerra na Ucrânia, de acordo com o presidente russo.
A China afirmou ser neutra no conflito, mas um mês antes da invasão (na versão do ocidente), Xi e Putin proclamaram uma ‘amizade sem limites’, na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Beijing. Segundo Moscovo, na Ucrânia está em curso uma ‘operação especial’.
No entanto, após a participação na recente reconciliação diplomática entre a Arábia Saudita e o Irão, a China deseja agora actuar na mediação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, com um apelo de diálogo entre os dois países. A mediação chinesa está sendo considerada como ‘importante vitória’ diplomática de Beijing e ‘balde de água fria’ para os EUA.
Beijing recusou-se a criticar a invasão da Ucrânia, de acordo com o ocidente, ‘operação especial’ para Moscovo, mas condenou a imposição de sanções à Rússia e acusou o Ocidente de provocar o conflito e ‘alimentar as chamas’, ao fornecer à Ucrânia armas.
O país asiático considera a parceria com Moscovo fundamental para contrapor a chamada ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.
As relações entre Beijing e Washington deterioraram-se também rapidamente, nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.
INDÚSTRIAS ARMAMENTISTAS DOS EUA E UE SÃO AS GRANDES BENEFIÁRIAS DA GUERRA
As Indústrias armamentistas norte-americanas e europeias são as grandes beneficiárias da destruidora guerra na Ucrânia, com facturação estimada em biliões de USD, segundo especialistas na matéria de defesa e segurança.
Impulsionadas pelas entregas em massa à Ucrânia, as importações de armas na Europa duplicaram no ano passado. De acordo com um relatório do Stockolm International Peace Research Institute (Sipri), divulgado recentemente, Kiev (Ucrânia) tornou-se o terceiro maior destino de armamento a nível mundial.
Em apenas um ano, as importações de armas na Europa aumentaram 93 por cento. Para além da guerra da Ucrânia, este aumento deveu-se também ao crescente investimento em Defesa de vários Estados Europeus, como a Polónia e a Noruega.
‘A invasão (na óptica do Ocidente) causou um aumento significativo na procura por armas na Europa, que ainda não mostrou todo o seu poder e, provavelmente, levará a novos aumentos nas importações’, segundo Pieter Wezeman, coautor do relatório, citado pela Agência France Press (AFP).
O relatório indica que, excluindo o armamento enviado para as forças ucranianas combaterem a ofensiva russa, registou-se em território europeu um aumento de 35 por cento das importações, em 2022.
Até ao início do conflito russo-ucraniano, as importações de Kiev eram pouco significativas. Mas desde que a ofensiva começou, em fevereiro de 2022, a Ucrânia tornou-se rapidamente o terceiro maior destino do mundo de armas, apenas atrás do Qatar e da Índia.
A Ucrânia, até então um importador insignificante de armas, repentinamente se tornou o terceiro maior destino mundial de armas no ano passado, atrás do Qatar e da Índia, como resultado directo da ajuda ocidental para impedir a invasão russa. As importações ucranianas, incluindo as doações ocidentais, aumentaram mais de 60 vezes em 2022, de acordo com o instituto com sede em Estocolmo.
Até agora, o comércio global de armas costumava ultrapassar os 100 mil milhões de dólares por ano. Mas em 2022, o valor total em gastos militares ultrapassou, pela primeira vez, os 2.000 mil milhões de dólares, segundo os especialistas.
Desde que a Rússia anexou a Crimeia, a União Europeia deu início ao rearmamento e reforço das capacidade militares dos Estados-membros. Mas com o conflito no leste do Velho Continente, a importação de armas está a aumentar e a tendência é a de “acelerar”.
“Os países europeus já encomendaram, ou preparam-se para o fazer, todo o tipo de armamento. Desde submarinos, aeronaves militares, incluindo drones, mísseis e radares”, sublinhou Wezeman. “Tudo é considerado, visto que a ideia é construir capacidades militares em todo o espectro”.
Nos últimos cinco anos, período analisado pelo Sipri para identificar tendências, as importações europeias aumentaram 47 por cento em relação aos cinco anos anteriores, enquanto o comércio mundial diminuiu cinco por cento. Ao contrário da Europa, todos os outros continentes apresentam um decréscimo das importações ao longo de cinco anos, com quebras acentuadas em África, na América do Norte e do Sul e ainda na Ásia e no Médio Oriente, que eram os principais mercados mundiais.
O mesmo documento refere que Médio Oriente se tornou a região do mundo que mais importou em 2022, com 32 por cento do total. Segue-se a região da Ásia e Oceania com 30 por cento, que ocupou o primeiro lugar durante os últimos anos. A Europa é a terceira maior importadora, este ano, com 27 por cento em comparação com menos de 11 por cento de há dez anos.
De acordo com os especialistas, a UE está a ajustar o plano de ajuda militar à Ucrânia e, paralelamente, a tentar aumentar a produção de armas na Europa. Este projecto europeu deve associar ‘quinze industrias em onze países’ membros, segundo o comissário europeu Thierry Breton.
Quanto às exportações, os Estados Unidos e a Rússia continuam a ser os maiores produtores e exportadores de armas, seguindo-se de França, China e Alemanha. A China é o maior importador, mas nos últimos anos, tem aumentado a produção interna.
As exportações de armas russas, que eram cerca de 30 por cento do total há apenas alguns anos, “claramente diminuíram” e com a guerra na Ucrânia, a questão agora é se a Rússia está a importar armas da China.
(AIM)
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