Domingos Mossela, da AIM, em Lisboa
Lisboa, 26 Abr (AIM) – Volvidos 49 depois da Revolução dos Cravos que derrubou o regime de Salazar, Portugal é desafiado a pedir desculpas às antigas colónias pela exploração, escravatura e ir mais longe, assumindo “a responsabilidade, para o futuro, daquilo que de bom e de mau fizemos no passado”.
Esta terça-feira, na sessão solene de comemoração da Revolução dos Cravos (25 de Abri 1974) o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, que Portugal deve pedir desculpas às antigas colónias (incluindo Moçambique e Angola) pela exploração e pela escravatura. O 25 de Abril abriu o processo de descolonização.
O Chefe de Estado considerou que a sessão com Lula (presidente brasileiro) no Parlamento, ocorrida antes, “faz todo o sentido”, uma vez que “o 25 de Abril começou por existir por causa da descolonização” e que, ao tornar-se independente, em 1822, o Brasil “foi pioneiro” desse processo.
No entender de Marcelo, essa realidade deve servir “para olharmos para trás”, a propósito não só do Brasil mas “de toda a colonização e de toda a descolonização, e assumirmos plenamente a responsabilidade por aquilo que fizemos”. Para o presidente, os aspectos negativos da presença portuguesa nas ex-colónias devem ser assumidos “tal como assumimos o melhor dessa presença”.
Marcelo frisou que essa atitude deve ir para além do simples pedido de desculpas, já que esse acto é, “às vezes, o que há de mais fácil: pede-se desculpa, vira-se as costas e está cumprida a missão”. Marcelo quer que Portugal vá mais longe, assumindo “a responsabilidade, para o futuro, daquilo que de bom e de mau fizemos no passado”.
No que toca aos aspectos negativos da colonização, o chefe de Estado destacou a “exploração dos povos originários, denunciada por António Vieira”, bem como a escravatura e, no caso do Brasil, “o sacrifício do Brasil e dos brasileiros”. Já a língua, a cultura e a “unidade do território brasileiro” são, para Marcelo, componentes positivas da colonização levada a cabo pelos portugueses.
Em Setembro do ano passado (2022), o Primeiro-ministro português, António Costa, pediu desculpa pelo massacre de Wiriyamu, na província de Tete, no noroeste de Moçambique, que classificou como um “acto indesculpável que desonra” a História de Portugal, num acto raro e histórico de reconhecimento deste massacre, ocorrido em 1972, e revelado pela imprensa inglesa em 1973 e durante muitos anos ignorado em Portugal.
Estas declarações foram proferidas junto do Chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, no fecho da visita do primeiro-ministro a Maputo, a capital moçambicana.
“Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriyamu, acto indesculpável que desonra a nossa história”, afirmou António Costa.
No seu discurso, no jantar oferecido pelo Primeiro-ministro ao Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, António Costa apontou que “uma relação tão intensa e com tal longevidade”, como a dos dois países, “está inevitavelmente marcada pela diversidade, da diversidade dos encontros e dos desencontros, da escravatura e da libertação, do progresso e da pobreza, da guerra e da paz, por momentos que queremos seguramente recordar mas também por momentos e acontecimentos que temos o dever de nunca por nunca esquecer”.
A 16 de Dezembro de 1972, em Wiriyamu, cerca de 400 civis desarmados foram assassinados por militares portugueses.
“As relações entre amigos são feitas assim, são feitas da gentileza de quem é vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer aquilo que praticou e perante a história se deve penitenciar”, assinalou.
(AIM)
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