Maputo, 27 Mai (AIM) – O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kulebados, disse este sábado (27) à AIM que antevê um futuro promissor nas relações entre o seu país e Moçambique.
Falando em Maputo no final da sua primeira visita a Moçambique, Kuleba afirmou que “vemos muitas oportunidades para desenvolver trocas comerciais benéficas para ambos os povos”.
Aliás, ambos países acordaram em criar um fórum de negócios e Kuleba asseverou que a Ucrânia está “muito aberta” a perspectivas de negócios. Kuleba projecta a exportação para Moçambique não só de cereais ucranianos, mas também de alimentos processados e produtos farmacêuticos.
Kuleba acredita que a Ucrânia também pode ajudar Moçambique em termos de cibersegurança. “Temos uma vasta experiência em repelir ataques cibernéticos”, observou.
Kuleba sublinhou que a Ucrânia espera abrir uma embaixada em Moçambique antes do final deste ano. Disse acreditar que antes do final do ano o edifício e o pessoal estarão operacionais.
Na sexta-feira, Kuleba foi recebido pelo Presidente mocambicano, Filipe Nyusi, e pela sua homóloga moçambicana, Verónica Macamo.
Durante o encontro, Nyusi expressou a sua solidariedade para com o povo ucraniano.
Quanto ao fim da guerra russa contra a Ucrânia, Kuleba disse não acreditar que as negociações sejam a melhor resposta “quando existe claramente um agressor e um país que está a lutar pela sua liberdade”.
Um dos golpes da propaganda da Rússia em África foi a confusão deliberada entre a actual Federação Russa e a antiga União Soviética. Os apologistas pró-russos afirmam frequentemente que a Rússia apoiou as lutas de libertação contra o domínio colonial em África – mas Kuleba salienta que, nos tempos da extinta União Soviética, a Ucrânia também tinha um lugar nas Nações Unidas, “onde trabalhámos incansavelmente contra o apartheid e a favor da descolonização”.
Além disso, muitos cidadãos russos soviéticos que trabalharam em Moçambique nos anos pós-independência não eram todos russos, disse Kuleba. Muitos ucranianos trabalharam na formação das forças armadas moçambicanas, como engenheiros e em várias outras funções.
Quanto à afirmação frequente de que o conflito na Ucrânia é “uma guerra por procuração” entre os Estados Unidos e a Rússia, travada em solo ucraniano, Kuleba afirma que se trata apenas de mais uma campanha de propaganda. Kuleba recordou que, nos primeiros dias da guerra, o governo russo acreditava que a Ucrânia era fraca e poderia ser facilmente subjugada “pelo todo-poderoso exército russo” em poucos dias.
Mas quando a Rússia começou a perder algumas batalhas, o seu governo tinha de explicar a derrota ao povo russo e, por isso, afirmava que não estava a lutar contra a Ucrânia, mas sim contra os Estados Unidos.
É evidente que a Ucrânia recebeu armas dos seus aliados americanos e europeus, mas nunca pediu o apoio de tropas estrangeiras. “Na realidade, a Rússia está a lutar contra os ucranianos e nunca pediremos a outros países que enviem as suas tropas. Esta é a nossa guerra”, disse Kuleba.
À semelhança de Moçambique que lutou pela sua liberdade, “também nós estamos a lutar”, acrescentou. “E, tal como em Moçambique, vamos prevalecer”.
A desvalorização demonstrada pelo governo russo para com o exército ucraniano é semelhante ao desprezo demonstrado pelo regime português para com os combatentes da liberdade moçambicanos. “Mas vocês ganharam e nós também vamos ganhar”, disse Kuleba.
O diplomata ucraniano escusou-se a especular sobre a data provável para o fim da guerra. “O meu trabalho é fazer o maior esforço possível para garantir a vitória”, disse. “Quando somos atacados na rua, não dizemos ‘só vou lutar durante alguns minutos’. Lutamos o tempo que for necessário”.
Kuleba sublinhou que a Ucrânia não tem quaisquer intenções de ceder parte do seu território – nem mesmo a Península da Crimeia, ocupada pela Rússia desde 2014. A Ucrânia também não está disposta a aceitar um “conflito congelado”, ou seja uma guerra sem fim à vista.
Kuleba recordou que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, já apresentou várias propostas para um plano de paz nos primeiros dias da guerra, baseado no respeito pela Carta das Nações Unidas, mas a Rússia sempre recusou-se a ponderar sobre o assunto.
“É o plano ucraniano que deverá ser tomado como base para um acordo”, afirmou.
Quanto à possibilidade de o conflito propagar-se pela Europa, Kuleba afirma ser pouco provável enquanto a Ucrânia continuar a resistir. “Putin não pode derrotar a Ucrânia e, por isso, não está em posição de lutar contra nenhum outro país”, afirmou.
(AIM)
Pf/ sg