Maputo, 5 de Jun (AIM) – A activista social moçambicana, Withney Sabino, defende a colocação dos recursos digitais ao serviço de igualdade de género, numa altura em que o preconceito em relação a capacidade da mulher lidar com as novas tecnologias de comunicação e informação continua a ser uma barreira de acesso, sobretudo nas zonas rurais.
Foi essa visão que conduziu a criação da plataforma denominada “Manas”, um espaço de partilha de ideias, informação e experiências relevantes entre mulheres, na busca de soluções para os desejos e inquietações que assolam mulheres e raparigas no país, tendo como perspectivas um mundo mais justo e igualitário.
A plataforma visa igualmente, servir de um mecanismo de denúncia contra todo tipo de violência ou maus tratos que as mulheres e raparigas estão expostas, sobretudo, num contexto em que, os casos de violência doméstica, assassinatos e outros males que afectam as mulheres, tendem a conhecer aumento exponencial no país.
Withney Sabino fez essa abordagem há dias, em Maputo, numa entrevista colectiva com os órgão de informação, para partilhar dados sobre o lançamento da revista MANAS ainda no fim deste semestre, espaço onde serão abordados temas ligados a mulheres e raparigas de todos os extratos sociais em Moçambique.
“A solução tem que ser digital. É a única forma das mulheres de todo o país estarem conectadas. Por isso achamos que é importante a colocação dos recursos digitais ao serviço das mulheres e raparigas. É através deste canal que as mulheres contam os seus desafios e histórias de superação”, disse a activista.
De acordo com a fonte, a iniciativa MANAS, ainda no contexto de inclusão digital, tem como prioridade a realização de eventos para a massificação de soluções digitais, nomeadamente, a realização de Podcasts, espaço onde tanto as organizações que actuam no empoderamento das mulheres e raparigas, bem como as próprias beneficiárias, podem se conectar partilhando actividades, relatórios e não só.
“Este espaço é mesmo de convergência. Através de potcasts vamos envolver organizações, activistas, mulheres e vários outros actores relevantes para discutir questões de género no espaço digital. A iniciativa está forte também nas redes sociais, página web e mais”, disse.
Segundo a fonte, um dos maiores ganhos com a revista digital, ee o facto de poder trazer para as TCs, conteúdos do “Cantinho da Rapariga”, um programa onde raparigas das províncias de Tete, Nampula e Quelimane, região centro e norte do país, contam as suas experiências como mentoras no programa Rapariga Biz, implementado há anos no país com o financiamento das Nações Unidas.
De acordo com Withney, o Cantinho da Rapariga, que funciona como a fase mais avançada do programa Rapariga Biz, traz histórias de meninas resgatadas dos casamentos prematuros e reintegradas no sistema nacional de ensino, devolvendo desta forma a dignidade e dando oportunidade para que possam beneficiar de formação e alimentarem outro tipo de perspectivas para suas vidas e das suas famílias.
“São raparigas que na sua maioria foram forçadas a casar cedo, até tiveram gravidezes precoces, mas que, através deste processo de mentoria foram reintegradas a sua vida normal e a escola. Nas nossas plataformas disseminamos mensagens chaves sobre a proteção da rapariga e engajamos a todos em prol da igualdade do género”, vincou.
Sobre a questão das gravidezes na adolescência, muita das vezes ligadas a uniões forçadas, a plataforma MANAS, chama atenção para um fenómeno que vem se enraizando nos últimos tempos, que é o facto de as gravidezes resultarem de abuso sexual e violações nas zonas rurais e não só, colocando em extrema pobreza raparigas expostas a várias vulnerabilidades.
“Há raparigas abusadas pelos pais, tios, professores e acabam grávidas. Nós temos vindo a denunciar com veemência esse tipo de actos que retardam o desenvolvimento das mulheres e raparigas no país. Estes actos perpectuam a pobreza nas famílias”, salientou.
Refira-se que, ainda este ano, a Ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, disse na sede das Nações Unidas, que os direitos das mulheres continuam a ser gravemente violados em
África, tendo defendido a inclusão digital da mulher para que possa participar nos processos de desenvolvimento.
(AIM)