Maputo, 03 Jul (AIM) – A Associação Industrial de Moçambique (AIMO) considera a estrutura de custo de financiamento oferecida pelos bancos ao sector da indústria pouco atractiva para a materialização de projectos concretos e sustentáveis no quadro da revitalização da indústria transformadora nacional.
A visão foi defendida pelo presidente da AIMO, Rogério Samo Gudo, em entrevista à AIM, num contexto marcado por expectativas e dúvidas sobre as fontes de financiamento do ambicioso Programa Nacional de Industrialização (PRONAI) aprovado pelo governo em 2021.
“Temos que olhar para a estrutura do custo do financiamento, e ver de que forma podemos ter um financiamento adequado para a indústria. O financiamento que actualmente temos, no país, é para o comércio que é mais simples”, disse.
Samo Gudo, que falava ha dias, em Maputo, defendeu a existência de bancos de investimentos com financiamento do Estado e especializados para o desenvolvimento da indústria ou agências internacionais específicas para o tipo de concessão de empréstimos para o sector industrial, sem olhar exclusivamente para a questão do lucro.
Na sua visão, as taxas de juros devem ser mais favoráveis para um ambiente de produção em escala, tratando-se de um sector de capital intensivo e de longo prazo, comparado com actividades comerciais, onde a estrutura é mais baixa e seu ciclo de vida é de transacções mais curtas.
“A industrialização custa dinheiro. Temos que importar as máquinas, as infra-estruturas, a energia, a matéria-prima e a própria operação em si. Para além dos salários, impostos, entre outros elementos. Aqui a estrutura é mais pesada e é necessário políticas para incentivar”, avançou.
O timoneiro da AIMO refere que a sua associação esperava que o Banco Nacional de Investimento (BNI) tivesse a função de contribuir para a industrialização, através de concessão de empréstimos com taxas de juros adequados para as necessidades do sector, mas que, a realidade é contrária, uma vez que, o BNI, ocupando a 15/a posição no ‘ranking’ do Banco de Moçambique em termos da sua importância sistémica, mostra-se financeiramente incapaz de liderar esse processo.
“O BNI é mais um banco comercial que temos aqui no país. Nós esperávamos que numa situação em que se desenvolve um programa como PRONAI, tivéssemos um BNI com produtos específicos para dinamizar a industrialização, mas não é o que está a acontecer”, salientou.
A fonte disse que não se sabe ao certo donde virá o financiamento para a industrialização, no entanto mantem boas expectativas sobre o projecto PRONAI, defendendo que é preciso encontrar-se formas adequadas para o financiamento do sector, dada sua complexidade, sem descurar da necessidade de mais incentivos fiscais e preparação de infra-estruturas para suportar o processo, tal como a rede viária nacional que é um desafio.
“O desafio no mercado nos impõe que temos que isolar os problemas para criar um novo contexto que possamos dinamizar a indústria, e isso pode ser através de parques industriais. Como estamos a competir com outras indústrias é necessário que esses parques busquem eficiência para criar uma indústria sustentável”, vincou.
A fonte reconhece que a indústria transformadora nacional atravessa um estágio tenebroso, caracterizado por enceramento de grandes unidades produtoras, que outrora desempenharam um papel crucial, concretamente durante o apogeu da economia centralizada, lamentando que o declínio da indústria nacional tenha sido precipitado pela fraca competitividade.
“Na prática, a nossa indústria fechou porque deixou de ser competitiva. E essa é a razão que hoje em dia temos estado a promover a industrialização tendo em conta factores que permitam que a nossa indústria seja competitiva num contexto de mercado aberto”, salientou.
Desafiou as empresas moçambicanas a investirem na sua capacitação, encontrando vantagens comparativas dentro dos padrões internacionalmente aceites, para alterar o cenário actual em que a matéria-prima está a ser exportada em bruto retornando em forma de produtos com valor acrescentado, situação que fragiliza ainda mais a economia.
(AIM)
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