Maputo, 10 Jul (AIM) – O analista da consultora Rystad Energy que segue Moçambique disse hoje que a petrolífera TotalEnergies só deverá regressar a Moçambique no início de 2024, atrasando o início da produção de gás para 2028.
‘As coisas podem complicar-se já que os contratos podem precisar de ser renegociados e os novos acordos podem incluir o impacto da inflação, também, o que pode levar a atrasar o levantamento da ‘force majeure’ para o próximo ano; assim estimamos que o projecto só comece em 2028′, disse Pranav Joshi.
Em entrevista à Lusa a propósito do regresso da petrolífera francesa a Cabo Delgado, o analista da Rystad Energy afirmou que a TotalEnergies deverá também enfrentar um aumento dos custos no regresso à província moçambicana, não só devido à necessidade de renegociar os contratos, mas também devido a significativa subida da inflação, não só em Moçambique, mas também a nível global.
Em 2021, devido à insegurança na região, a TotalEnergies invocou ‘force majeure’ para suspender as operações e faz depender o regresso ao trabalhos não só da garantia de condições para trabalhar, mas também das conclusões de um relatório independente sobre as condições sociais e de segurança das populações locais.
‘A TotalEnergies parece estar a trabalhar nos bastidores para garantir um levantamento suave da ‘force majeure’ e estavam a apontar para o final do ano, tendo publicado recentemente um relatório assinado pelo perito em direitos humanos Jean-Christophe Rufin, que apresentava muitas recomendações, incluindo a constituição de um orçamento socioeconómico multianual de 200 milhões de dólares’, acrescentou o analista.
Também em declarações à Lusa na sequência de uma notícia do site Zitamar que apontava para um aumento de 25 por cento nos custos para a operação da TotalEnergies em Moçambique, o líder do Departamento de Energia na Rystad Energy vincou que esta subida nos preços é aplicável não só no país lusófono africano, mas também no resto do continente.
‘Globalmente os custos do gás natural liquefeito aumentaram 25 por cento; no entanto, baseado no âmbito e no modelo de execução, o valor varia de projecto para projecto, tipicamente entre 15 a 30 por cento, explicou Audun Martinsen.
‘Portanto, se a TotalEnergues não mudou o conceito do projecto, estarão expostos ao mesmo nível de aumento dos custos da inflação, tal como os outros’, concluiu.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projectos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.
O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.
A plataforma flutuante deverá produzir 3,4 mtpa (milhões de toneladas por ano) de gás natural liquefeito, a Área 1 aponta para 13,12 mtpa e o plano em terra da Área 4 prevê 15 mtpa.
A província de Cabo Delgado é aterrorizada desde 2017 por homens armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
Uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de terroristas, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde Agosto de 2020.
(AIM)
Lusa/FF