
Maputo, 30 Jul (AIM) – Utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) consideram a prorrogação da greve dos médicos em Moçambique um ataque ao direito à saúde e ao bem-estar dos moçambicanos.
Este posicionamento, defendido por diversos usuários do SNS ouvidos pela AIM, em algumas unidades sanitárias da Cidade de Maputo, a capital do país, surge um dia depois de a Associação Médica de Moçambique (AMM) ter decidido prorrogar a greve dos médicos por mais 21 dias, por alegadamente ainda persistirem irregularidades no enquadramento destes profissionais na nova Tabela Salarial Única (TSU).
A terceira fase da greve dos médicos arrancou no dia 10 de Julho corrente, com a paralisação de actividades por 21 dias prorrogáveis.
À entrada do Hospital Geral de Mavalane, a AIM encontrou uma longa fila de pessoas à espera de serem atendidas por um médico.
Aparentemente cansada e bastante doentia, uma senhora, disse: “Esta greve dos médicos surgiu para sacrificar a vida dos moçambicanos. As pessoas estão a passar mal. Eu, por exemplo, tenho vindo ao hospital mas o atendimento tem sido muito moroso. A agravar esta situação, as filas são longas e muitas vezes há falta de um determinado médico para os meus problemas”.
Um outro paciente, também na fila de espera, disse que o Governo e os médicos deveriam encontrar rapidamente uma solução para acabar com a greve ‘”porque desta forma sacrifica-se a vida das pessoas. Pode parecer que não, mas há muita gente que está a perder a vida por causa desta greve.”
De acordo com o presidente da AMM, Milton Tatia, houve avanços nas negociações com o Governo em alguns pontos, tais como a redução do subsídio de exclusividade, que passou de 40 para 5 por cento, do subsídio de risco de 30 para 5 por cento e do subsídio de turno, que caiu de 30 para 5 por cento.
Por seu turno, o Ministério da Saúde (MISAU) disse, sexta-feira, através de um comunicado, ter resolvido o problema de falta de pagamento de salários e de enquadramento na TSU.
‘A troca de acusações entre as partes já não tem graça. Precisamos de ajuda, não há como o país funcionar devidamente com o sistema de saúde danificado e paralisado’, rematou o paciente.
Uma outra paciente, aparentando 60 anos de idade, acusou os médicos e o Governo de estarem a ridicularizar a vida dos moçambicanos.
“Desde que me conheço como gente, nunca vi algo do género. Com esta prorrogação, serão 42 dias de greve. Dentro desses dias, quantas pessoas terão perdido a vida? Quantas mulheres terão passado mal na maternidade? Quantas crianças terão ficado sem assistência médica? Quantas pessoas terão morrido por falta de uma cirurgia?”, questionou.
No Centro de Saúde de Xipamanine, os utentes foram unânimes em afirmar que o SNS está ‘deteriorado’, porque aqueles que juraram salvar vidas o tinham abandonado.
“Como se pode salvar uma vida colocando-se a mesma na linha da morte?”, questionou um paciente.
“As pessoas que juraram salvar-nos estão agora contra nós. Eu não percebo o que se discute entre as partes, mas acredito que o dinheiro não está acima das nossas vidas”, acrescentou.
“Até parece que cometemos algum pecado. Todos os problemas perturbam os moçambicanos, somos assassinados por terroristas (na província nortenha de Cabo Delgado) e agora vem esta notícia sobre a prorrogação da greve. Deus que nos salve”, afirmou um senhor, que acompanhava a esposa na esperança de ser vista por um médico.
De acordo com os médicos, outra causa da prorrogação da greve tem a ver com uma alegada existência de um documento dando conta da revisão do regulamento do estatuto dos médicos que “visa reduzir e eliminar os seus direitos.”
No entanto, o governo afirma que ‘o pagamento de horas extraordinárias em atraso de até 2020 é a última reivindicação ainda por resolver.
“Foi cumprido em 73 por cento, tendo sido pagos 5.022 profissionais de saúde de um total de 7.862”, sublinha o Governo, reafirmando a sua abertura para o diálogo com os profissionais de saúde.
(AIM)
Ad/FF