Gondola (Moçambique) 16 Ago (AIM) – Pelo menos 124 raparigas abandonaram o ensino formal no primeiro semestre deste ano (2023), no distrito de Gondola, na província de Manica, centro de Moçambique, devido às uniões prematuras, mudanças de residências, aliado à falta de condições nas famílias, entre outros factores.
A informação foi revelada, esta quarta-feira (16), pela administradora do distrito de Gondola, Etelvina Ambasse, no término da visita que o secretário de Estado da província de Manica, Dick Kassotche, efectuou ao distrito.
Segundo Ambasse, após serem identificadas, às raparigas foram sensibilizadas a regressarem à escola, tendo algumas sido reintegradas e estão a estudar com o acompanhamento do governo e das organizações da sociedade civil.
“As desistências acontecem em algumas escolas, na sua maioria aquelas que lecionam o ensino primário. As uniões prematuras, falta de condições na família, mudanças de residências e outras dificuldades concorreram para que as crianças deixassem de estudar”, disse.
Afirmou que uma das medidas tomadas para resgatar as raparigas das uniões prematuras foi sensibilizá-las sobre o perigo destas práticas.
A actividade está a acontecer com o envolvimento de pais e encarregados de educação, líderes comunitários, religiosos e outros intervenientes que trabalham na defesa dos direitos da criança e rapariga.
“É preciso perceber que as desistências não aconteceram só em raparigas. Também há crianças do sexo masculino que deixaram de estudar para abraçarem outras actividades. Nas nossas campanhas falamos sobre o mal de estas crianças deixarem de estudar. Chamamos a consciência aos adultos que o lugar da criança é na escola e não no mercado”, afirmou.
“A criança é o futuro de amanhã. É o futuro deste país. Se ela não for bem preparada quando pequena, podemos comprometer as próximas gerações. Portanto, devemos assegurar que ela estude e no futuro sirva este país”, apelou.
No presente ano lectivo (2023), o distrito de Gondola matriculou 11.158 alunos de diversos subsistemas de ensino, contra 10.215 do ano passado. Deste número, 5.582 são do sexo feminino. Existem no distrito 97 escolas.
Entretanto, em Gondola, existem 39 turmas a estudarem ao relento. Parte das salas de aula ficaram destruídas aquando da passagem do ciclone Idai e outros fenómenos adversos.
O sector de educação, com o apoio de alguns parceiros, reconstruiu 32 salas de aula. Neste momento, Gondola necessita de 2.365 carteiras para 19 escolas, em 95 salas de aula.
Intervindo na ocasião, o secretário de Estado na província de Manica reafirmou o compromisso do governo em prosseguir com acções para a melhoria das condições de vida da população.
Kassotche apelou para a necessidade de se reforçarem medidas de controlo para combater as desistências nas escolas, principalmente raparigas.
“Essa prática acontece muitas vezes com o envolvimento dos pais e encarregados de educação. Há pais que usam as filhas para alcançarem alguns objectivos. Outros fazem em troca de bens materiais. São problemas que devem ser combatidos e, para isso, é importante que sejam denunciados todos esses casos que podem comprometer o futuro da criança e rapariga”, referiu.
“As crianças precisam da nossa proteção. Precisam de crescer saudáveis e num ambiente seguro. Essa segurança vem de nós, como adultos. As crianças não podem ver o adulto como uma ameaça à sua própria saúde. É o nosso dever, como adultos, proteger às crianças e raparigas”, defendeu.
Apontou factores culturais e a pobreza como sendo outras razões que levam muitos pais e encarregados de educação a deixarem suas filhas se casarem prematuramente.
“Alguns pais e encarregados de educação se orgulham quando a sua educanda está a se relacionar com uma pessoa influente. Quando a filha está numa relação com um professor ou um empresário, o pai até se orgulha. Pensa que tem os seus problemas resolvidos. As nossas filhas não podem servir de moeda de troca para a busca de riqueza”, vincou Kassotche.
Durante dois dias, no distrito de Gondola, o secretário de Estado visitou alguns empreendimentos socioeconómicos, reuniu com os líderes comunitários, religiosos, representantes de partidos políticos e os desmobilizados no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
Também procedeu a entrega de diverso material médico-cirúrgico ao distrito de Gondola.
(AIM)
Nestor Magado (NM)/dt
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