Quelimane (Moçambique), 08 Out (AIM) – A cidade de Quelimane, na província central moçambicana da Zambézia, apresentou-se, mais uma vez, na campanha eleitoral que hoje termina, como o primeiro palco de batalhas eleitorais no espaço autárquico zambeziano.
Quelimane é gerida pela oposição desde 2011.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Renamo, o principal partido da oposição no país, venceu o escrutínio com 59.17 por cento dos votos, que lhe conferiram 24 lugares na Assembleia Municipal local, contra 36,09 por cento da Frelimo, no poder no país, que conseguiu 15 assentos.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda força política na oposição, conseguiu um mandato, depois de arrecadar 4,07 dos votos.
Ao abrigo da actual lei eleitoral em Moçambique, os candidatos a presidentes de conselhos municipais são indicados através de uma lista de partidos políticos, coligações e associações e não por via de indicação directa.
Assim, mercê dos 24 lugares que a Renamo ganhou, em 2018, o seu cabeça de lista, Manuel de Araújo, cumpriu um mandato de cinco anos que termina com a eleição dos novos órgãos autárquicos na próxima quarta-feira.
A Renamo voltou a apostar nestas eleições em Manuel de Araújo como seu cabeça de lista, apesar das críticas que lhe eram feitas de que ele estava sempre a viajar e não vivia os problemas da cidade.
Por isso, na eleição interna de cabeça-de-lista da Renamo, Araújo foi contestado por Latifo Xarifo, actual delegado político distrital do partido em Quelimane e ex-deputado na Assembleia da República, e por Inês Martins, actual deputada parlamentar e ex-presidente da Liga Feminina da Renamo.
Xarifo e Inês Martins abandonaram depois a sua pretensão, assim como a liderança da Renamo teve de ceder a favor de Araújo. Isto foi visto como um esforço que o partido está a fazer para não perder aquela autarquia a favor da Frelimo ou MDM.
Assim, Araújo está a candidatar-se para mais um mandato como presidente do município, cargo que ocupa desde 2011.
Ele foi deputado da Renamo no parlamento de 2004 a 2009. Mas depois desertou da Renamo para o MDM e foi, como candidato, desse partido que lutou e ganhou uma eleição intercalar para presidente do município de Quelimane em 2011, e não só.
Foi reeleito autarca, novamente sob a capa do MDM, em 2013. O MDM queria recandidatar-lhe nas eleições autárquicas de 2018. Em vez disso, Araújo voltou para a Renamo e venceu as eleições de 2018 como candidato desse partido.
Na defensiva, Manuel de Araújo tem repetido nesta campanha eleitoral que, com o apoio de parceiros, sobretudo internacionais, “Quelimane é hoje umas das cidades mais limpas do país”.
Diz que com o apoio de parceiros, “cumpriu a promessa que havia feito aos munícipes de Quelimane, de tirar a cidade do buraco em que se encontrava”, sublinhando que “hoje, Quelimane deixou de ter poças de água no centro das vias de acesso’’.
Os munícipes, afirma Araújo, “deixaram de ter a obrigação de andar com carros com tracção às quatro rodas dentro da cidade e transformamos Quelimane de uma das cidades mais sujas para uma das limpas de Moçambique”.
A Frelimo discorda disso e diz que Manuel de Araújo deve ser afastado da presidência do município.
Para tal, apostou no músico Lourenço Acide Abdul Gani, ou simplesmente Ney Gany.
O primeiro secretário provincial da Frelimo na Zambézia, Paulino Lenço, entende que a escolha de Lourenço Gani como cabeça de lista do seu partido resulta da tentativa de dar continuidade aos projectos deixados por Pio Matos [da Frelimo, hoje governador da Zambézia], que abandonou o cargo de presidente do Conselho Municipal de Quelimane em 2011.
‘O Ney Gany vai reconstruir a cidade de Quelimane, vai construir o aterro de lixo, porque no programa da Frelimo vem a construção de aterro sanitário. Vai construir a ponte sobre o rio Ivagalane, o rio Chipaca e vai construir uma ponte que não custa muito dinheiro no Padeiro, em Namuinho. Ele [Manuel de Araújo] não conseguiu, mas o Ney Gani vai construir. Também construirá a ponte do Inhangome’, promoteu.
O cabeça de lista da Frelimo é delegado da seguradora pública EMOSE, tem 44 anos e é pai de cinco filhos. Uma das suas principais vantagens é que fala a língua dominante de Quelimane, o Chuabo.
Gany afirma que foi ‘pela graça de Deus’ que foi o escolhido da Frelimo e Quelimane e promete que irá ‘governar a autarquia com juízo’.
‘Eu nunca saí de Quelimane, já recebi propostas para estar fora, mas hoje percebo que era um propósito de Deus. Tinha que estar em Quelimane para fazer esta cidade crescer, para devolver o sorriso de Quelimane’, afirmou.
Entre os problemas da cidade cujo sorriso considera estar ‘apagado’, destaca as inundações. ‘Quando chove, só pouca chuva, tudo fica alagado. Temos que levar as águas pluviais para o rio dos Bons Sinais, esse é que é um dos nossos propósitos, a nossa missão, temos que trabalhar para restaurar a cidade de Quelimane’.
Por seu turno, o MDM disse que “está pronto e preparado” para recuperar o município de Quelimane, perdido para a Renamo nas eleições de 2018.
“Estamos prontos, estamos preparados e vamos recuperar aquilo que perdemos”, disse Silvia Cheia, quadro sénior do MDM.
Nestas eleições, o MDM apostou numa lista encabeçada pelo académico Bruno Hubre Dramusse, que promote transformar Quelimane numa cidade de futuro.
Dentre os principais desafios identificados na cidade, Dramusse desta a escassez de água potável e a necessidade de melhorias na infra-estrutura urbana. Ele compartilha que, como estratégia, pretende melhorar a distribuição de água, estender o horário de funcionamento dos mercados para promover a segurança e desenvolver as vias de acesso e saneamento.
Nas eleições da próxima quarta-feira, a Frelimo, a Renamo e o MDM voltam a disputar os 40 assentos disponibilizados à Assembleia Municipal local, depois de terem sido recenseados 130.691 eleitores na urbe no recenseamento de Abril deste ano.
Na corrida, estão também a Coligação Aliança Democrática, a Associação para o Desenvolvimento Infantil e Juvenil na Comunidade (ACRIAJUDA) e a Associação Cidadãos de Moçambique (CIDADÃOS).
Ao longo dos 13 dias da campanha eleitoral, iniciada a 26 de Setembro passado, os concorrentes divulgaram os seus manifestos, investindo em comícios, estratégias de contacto interpessoal, passeatas pelas principais artérias da autarquia e “caça ao voto” numa abordagem porta-a-porta.
No centro dos manifestos apresentados a melhoria das condições de trabalho e mais dignidade aos operadores da área informal constituiu uma das linhas de prioridade dos cabeças-de-lista, que olharam para os mercados como epicentro dos seus trabalhos na busca da simpatia do eleitorado.
Ney Gani, Manuel de Araújo e Bruno Dramusse foram-se alternando nas suas visitas aos principais mercados da cidade.
Enquanto Manuel de Araújo estava no mercado Aquima, a prometer melhoria de condições da infra-estrutura, o seu “primo”, Ney Gani estava no mercado Brandão. Drmusse pisava os mesmos mercados mais tarde.
“Queremos colocar uma creche para que as mães vendedeiras coloquem os seus filhos a serem cuidados enquanto elas (as mães) estão a trabalhar. Nós recebemos ajuda dos nossos irmãos de Portugal. São dois contentores que têm os produtos que são para vocês que sofreram com o ciclone Freddy. Quando o meu primo [Ney Gani] vier aqui (no mercado Aquima), perguntam-lhe porquê [Filipe] Nyusi [Presidente da República] e [Adriano] Maleiane [Primeiro-Ministro] não querem libertar os vossos produtos”, disse Manuel de Araújo.
Por seu turno, o cabeça-de-lista da Frelimo disse ao eleitorado do mercado Brandão que o seu partido é a opção certa para governar Quelimane.
“Nós queremos melhorar as condições de saneamento, dar estradas de qualidade, água e teremos fundo para apoiar as mães e pais vendedores a crescerem no negócio”, prometeu.
Caso seja eleito, Gani promete que será um edil presente. “Eu serei o presidente que, se for para sair, será para ir buscar soluções fora do país para desenvolver o nosso município e melhorar a vida dos munícipes”, assegurou.
O cabeça-de-lista do MDM foi ao mesmo mercado partilhar o plano que tem para o município caso o seu partido vença as eleições.
“Nós vamos trazer sistemas de abastecimento de água para os bairros; queremos comprar autocarros para transporte de passageiros em todos os bairros e reabilitar todas as estradas. Isto faremos seis meses depois de sermos eleitos. Vamos comprar 12 camiões. O orçamento já está garantido”, prometeu Dramusse.
Figura multifacetada, Dramusse é, actualmente, funcionário efectivo da Universidade Licungo em Quelimane, onde é chefe de Repartição de Gestão Interna e Informação.
A presença dos três partidos com assento na Assembleia da República foi a mais notável neste processo, arrastando massas e exaltando os seus candidatos, mas também observou-se o contínuo esforço da coligação e das duas associações cidadãs.
(AIM)
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