
Nacala (Mocambique), 09 Out (AIM) – A técnica artesanal de arpão, utilizada para a captura do atum e toda sua cadeia logística deficitária, desde o manuseio e conservação adoptada pelos pescadores artesanais do litoral da província nortenha de Nampula, contribui negativamente para a exportação deste produto pesqueiro.
Durante o processo de captura do atum nas águas dos distritos de Nacala, Angoche e Ilha de Moçambique e outros pontos, os pescadores artesanais disferem golpes que deixam lesões no pescado, danificando o seu aspecto visual, que acaba tornando o produto menos competitivo nos principais mercados de consumo do marisco a nível internacional.
O governo moçambicano investiu 850 milhões de dólares norte-americanos no controverso projecto EMATUM criado em 2012, que tinha como objecto a captura, conservação e exportação do atum, mas que, devido aos escândalos de corrupção ligados à sua criação, colapsou, deixando a frota das embarcações adquiridas para a pesca do produto a ganhar ferrugem na baia de Maputo.
A constatacão vem da A-One Enterprises, empresa que se dedica ao processamento e exportação de produtos pesqueiros em Nacala.
Em entrevista a AIM, o responsável administrativo da A-One Enterprises, Henrique Jango, confirmou que o atum de Nacala tem uma avaliação menos favorável nos mercados de exportação devido a técnica empregue para a captura, conservação e manuseio, tendo em conta que é um produto que o seu mercado tem níveis de exigências apertadas.
“O que complica a situação do atum é a técnica artesanal aplicada para a sua captura, bem como o próprio manuseio. Cria uma coagulação do sangue e cria manchas. Tivemos um festival de atum e trouxemos este aspecto. Trata-se de um recurso com estabilidade, mesmo em épocas menos produtivas, há uma boa quantidade disponível, mas o desafio continua a ser o manuseio”, disse.
A fonte da A-One Enterprises referiu que o atum na costa local ocorre em grandes quantidades e tem estabilidade em termos de abundância ao longo do ano, o que seria um factor decisivo para a exportação do produto, mas que acaba não sendo capitalizado devido aos desafios ligados a captura e manuseio.
Segundo Henrique Jango, com as condições favoráveis que a costa local apresenta, que permite a reprodução em escala do atum, se o produto tivesse o mínimo de qualidade exigida no mercado, a sua empresa tem capacidade instalada e condições para exportar acima de 250 toneladas por ano para os mercados de consumo.
Como consequência da deficitária cadeia logística do atum, e enquanto não se altera o tipo de armadilha empregue na captura e manuseio, a empresa apenas se dedica a comercialização do produto no mercado interno, para consumidores locais, restauração e para privados.
“O desafio é conseguir ter bom manuseio e conservar em temperaturas ideais, para que o atum não tenha carne escurecida. Temos trabalhado com os pescadores locais, dando instruções de novas formas de manuseio, tal como a necessidade de cortar a cabeça e fazer jorrar o sangue, isso ajuda a tornar a carne mais macia e com menos coágulo de sangue. Tirar as vísceras ainda no mar e colocar gelo na barrida do peixe, isso ajuda a conservar”, disse a fonte.
Refira-se que o Governo, chegou a aprovar, em 2013, quase na mesma altura em que foi criada a EMATUM, o Plano Estratégico do Desenvolvimento de Pescaria de Atum (PEDPA).
O executivo pretendia dinamizar a contribuição da pesca de atum na economia nacional, através da maximização da sua captura, porque na altura a actividade era feira de forma desintegrada, o que não permitia a geração da riqueza.
A imprensa chegou a avançar que cerca de 60 milhões de dolares que o pescado gerava, o Estado apenas arrecadava 1.3 milhões de dolares.
Para reverter o cenário que era descrito, o plano do governo era dinamizar a pesca artesanal e semi-industrial mas, volvidos anos, apesar de algumas melhorias gerados pelas iniciativas do executivo, a situação prevalece desafiadora no litoral de Nampula, sobretudo em Nacala, com uma Zona Económica Especial.
Moçambique tem uma extensa costa, 2.700 quilómetros, uma vasta Zona Económica Exclusiva (ZEE) marinha, a quinta maior da região ocidental do Oceano Índico, o que faz com que seja uma zona importante para espécies migratórias, com destaque para o atum.
(AIM)
Paulino Checo (PC)/sn