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Esperanca Sevene, investigadora na area de saude. Foto de Ferhat Momade
Maputo, 23 Out (AIM) – A malária, como doença altamente infecciosa, continua um problema crónico para a saúde pública no continente africano e os governos e Chefes de Estados são chamados a apostar na imunização das populações através de vacinas.
Trata-se de um método que se supõe menos oneroso e mais eficaz para estancar a doença à médio e longo prazo.
Em Moçambique, mais de 77 por cento da população vive em regiões com incidência acima de 100 casos de malária por 1000 habitantes, factor que agudiza a vulnerabilidade de crianças e mulheres grávidas, e maior causa de internamento nas pediatrias.
О cenário torna o país como de alta prevalência, apesar de registo de redução de casos nos últimos anos graças às intervenções do Programa Nacional do Controlo da Malária.
A nível continental, em países como República Democrática do Congo (RDC), Burkina Faso, e Mali, o cenário é crítico. Os surtos têm sido agravados por inundações, secas, ciclones e outros fenómenos meteorológicos extremos, desafiando ainda mais os líderes africanos a tomar medidas urgentes para reforçar a resposta.
A abordagem foi avançada hoje (23), em Maputo, em entrevista a AIM, pela pesquisadora da Faculdade de Medicina, na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição de ensino superior em Moçambique, Esperança Sevene.
Sevene participou, activamente, dos ensaios da vacina da malária RTS´S, pesquizada em Moçambique, no Centro de Investigação em Saúde da Manhiça, distrito da província de Maputo, sul de Moçambique.
A fonte falava na antecâmera da realização da Conferência Internacional Sobre a Saúde Pública em Africa CPHIA-2023, a ter lugar entre os dias 27 e 30 de Novembro na capital zambiana, Lusaca, sob o lema “Quebrando barreiras e reposicionando África na Arquitectura da saúde global”.
O fórum irá, entre outros pontos, discutir a malária como doença endémica.
“Nós, como cientistas, tentamos mostrar aos governos que investir na vacina contra a malária é melhor, como complemento às outras intervenções em curso. Os Estados estão a gastar dinheiro quando alguém morre de malária porque a pessoa deixa de produzir e de contribuir para o desenvolvimento”, disse.
Acrescentou que “o gasto que o governo tem com hospitalização, medicamentos, compra de redes mosquiteiras e pulverização, entre outros, é muito maior do que, por exemplo, investir nas vacinas”, disse a fonte.
De acordo com a fonte, o maior avanço científico no controlo da malária foi,
mesmo, a descoberta das vacinas, que durante muito tempo estudos nesse sentido haviam fracassado, dada a complexidade do parasita da malária.
Com a descoberta da primeira vacina que foi estudada em Moçambique criaram-se condições para o surgimento rápido da segunda.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a segunda vacina da malária, a R21, deixando antever que, a curto prazo, mais avanços no campo das vacinas contra a malária poderão ocorrer.
O contexto actual é considerado ideal para os tomadores de decisão a nível do continente, com vista a tirar dividendo das plataformas mais flexíveis de produção de vacinas criadas no âmbito da COVID-19, para acelerar a produção de novas vacinas contra a malária, tuberculose e HIV/Sida que constituem maior preocupação para o continente.
“Como farmacologista clínica fiz parte do grupo restrito de especialistas que vigiam se o candidato da vacina RTS´S não produz efeitos colaterais que não são aceitáveis para administração ou comercialização. Participei como membro de comité de monitoria de dados e de efeitos adversos da vacina, e considero esta vacina que foi o maior avanço no controlo da doença”, garantiu.
Advertiu, igualmente, a apostar-se no avanço tecnológico e digital, alicerçado num ambiente científico académico propício e infra-estruturas de pesquisa que possam permitir acelerar o processo de busca de soluções africanas baseadas em evidências científicas para resolver os problemas de saúde no continente.
“Mais laboratórios para o diagnóstico, mais laboratórios para ensaios de novos produtos para que o continente não esteja sempre na dependência internacional. Os Governos devem estar preparados para necessidade de investirem recursos para os avanços tecnológicos. É necessário garantir recursos para desenvolver essa capacidade. Criar uma indústria farmacêutica capaz de produzir vacinas e medicamentos”, deixou o repto.
Fez saber que Moçambique já concorreu para a introdução da vacina para malária no país, mas enquanto se avalia a candidatura por parte dos organismos internacionais, ciente de que a disponibilidade será uma limitante, tendo em conta que, a nível global, ainda não há doses suficientes, o executivo já aprovou a nova estratégia para o controlo da malária com duração de sete anos (2023-2030).
Na nova estratégia do controlo da malária, para além das intervenções tradicionais, já conhecidas, a abordagem actual passa pela administração de medicamentos, nomeadamente, a quimio-prevenção, que inclui o tratamento intermitente preventivo, que é dado as mulheres grávidas e crianças de menos de cinco anos com recurso a sufadoxina-pirimetamina para o combate as parasitas no organismo.
Também dar-se-á primazia a prevenção sazonal que consiste em administrar medicamente para malária (amodiaquina e sufadoxina-pirimetamina) as populações sempre no início da época chuvosa, como forma de reduzir a carga de parasitas no organismo e controlar a propagação nas zonas de alta transmissão da doença, concretamente na zona norte do país.
De acordo com a investigadora, do ponto de vista de pesquisa, terminaram recentemente os derradeiros ensaios piloto sobre a vacina da malária estudada em Moçambique (RTS´S), a implementação piloto que ocorreu nos últimos cinco anos no Gana, Quénia e Malawi, era para aferir o risco da vacina durante a sua implementação no contexto real, fora do ensaio clínico, tendo-se concluído que está pronta e é segura para ser administrada a população.
A especialista, elogiou igualmente o papel desempenhado pelo Centro de Controlo de Doenças de África (África CDC), que Face ao surgimento de doenças emergentes no continente, num contexto marcado por calamidades naturais e conflitos de vária ordem que aumentam a vulnerabilidade da população, tem liderado os países a encontrar estratégias comuns para diagnóstico, tratamento e fornecimento de medicamentos.
Constam da agenda dos debates no CPHIA23 diversos temas incluindo os programas de vacinação a nível do continente, dentre avanços e recuos, desafios e perspectivas.
(AIM)
Paulino Checo (PC)/mz