África deve começar a depender de si para financiar sistemas de saúde resilientes
Maputo, 3 Nov (AIM) – Chegou a altura de África procurar alternativas próprios para financiar sistemas de saúde resilientes, envolvendo a comunidade empresarial local e promovendo movimentos filantrópicos.
Essa visão é defendida pelo Dr. Otto Chabikuli, Diretor do Escritório Regional da África Oriental e Austral (ESARO) na FHI 360. A área de especialização é em fortalecimento do sistema de saúde.
A abordagem do académico, mostra que a comunidade científica continental, entende que África Austral é a região mais vulnerável às alterações climáticas, particularmente aos fenómenos meteorológicos extremos, com uma frequência e gravidade crescentes de surtos epidémicos, desnutrição e doenças crónicas, incluindo doenças mentais e traumas.
Um dos impactos mais imediatos das alterações climáticas é a destruição de instalações de saúde e a perturbação na prestação de serviços de saúde essenciais.
Foi nesta senda que a AIM entrevistou o Dr. Otto Chabikuli hoje, praticamente nas vésperas da 3ª Conferência Internacional sobre Saúde Pública em África (CPHIA 2023) que terá este mês em lugar em Lusaka, Zâmbia, sob o tema “Quebrando Barreiras: Reposicionando África na Arquitectura Global da Saúde”.
Chabikuli, que participará num painel sobre movimentos filantrópicos para abordar questões de saúde pública, explicou a relevância da iniciativa, para mobilizar recursos financeiros para financiar os sistemas de saúde no continente.
“O meu entendimento é que não basta que os africanos estabeleçam a sua própria agenda. Não basta que os africanos digam que somos os donos da agenda se não pagarmos por ela”, afirma Chabikuli.
“Então, o que estamos a tentar fazer com este painel é falar sobre filantropia e doadores que são africanos porque o nosso continente tem agora muitos milionários com grandes empresas que deveriam criar as suas próprias fundações para financiar iniciativas de saúde como Bill Gates e Warren Buffet”, disse Chabikuli.
Ele argumentou que a questão mais premente para o continente deveria ser como ccaptalizar a riqueza dos africanos para impulsionar ainda mais a agenda de saúde pública.
“Com o nosso painel sobre filantropia”, diz Chabikuli, “queremos demonstrar-lhes que 100.000 dólares podem não significar muito para esses milionários africanos porque é isso que podem gastar durante umas férias nos Estados Unidos, mas essa soma poderia poupar milhares de dólares. vive em África”.
Relativamente ao CPHIA 2023, Chabikuli entende que, uma das coisas mais importantes que aconteceu em África é a realização frequente desta conferência de saúde pública organizada por africanos, liderada por africanos e, com uma agenda definida por africanos.
Segundo a fonte, nesta 3ª conferência é cada vez maior o número de pessoas que mostram interesse em participar.
“No passado, se quiséssemos participar numa conferência internacional de saúde pública, teríamos de viajar para a Europa, etc. Agora tudo isso está a acontecer em África”, disse ele. “Isto é realmente fantástico porque dá aos africanos a oportunidade de definir a sua própria agenda”.
De acordo com Chabikuli, espera-se que participem na conferência vários Chefes de Estado e de Governo e ministros, bem como académicos e investigadores de África.
Espera que esta interacção entre cientistas e investigadores ajude a moldar políticas adaptadas aos problemas africanos.
Para Chabikuli a reunião ajudará a desenvolver a capacidade dos africanos e a transmitir as vozes dos cientistas africanos e dos profissionais de saúde pública.
Quanto à resiliência dos sistemas de saúde em países africanos como Moçambique, Nigéria, Quénia e África do Sul, entre outros, Chabikuli acredita que foram testados o suficiente, especialmente durante a pandemia da Covid-19.
Observou que, quando a Covid-19 atingiu o mundo e as pessoas começaram a morrer em Itália, no Reino Unido, nos EUA e noutros países ocidentais, muitas pessoas, incluindo cientistas, pensaram que seria o fim de África, mas que a realidade provou o contrário e a maioria dos países africanos, incluindo Moçambique, relataram menos mortes por Covid-19 do que o resto do mundo.
A fonte realça o facto de muitos países africanos, incluindo Moçambique, contaram com a vasta rede de profissionais de saúde e de infra-estruturas existentes que foram criadas no passado para gerir epidemias como o HIV/SIDA e a tuberculose, e para realizar campanhas de vacinação.
Isto levou Chabikuli a afirmar que a quantidade de recursos mobilizados pelos países africanos a nível comunitário neste momento é uma característica importante da resiliência que outros países, particularmente na Europa e nos EUA, não têm.
“Temos agentes comunitários de saúde em quase todas as aldeias e temos voluntários. Em Moçambique há milhares deles na comunidade, uns a trabalhar no HIV, outros na TB, outros na vacinação, ajudando no dia a dia”, disse.
No caso de surgimento de novas pandemias, Chabikuli acredita que os países africanos estarão mais bem preparados porque contam com agentes comunitários de saúde que estão dentro da comunidade, já formados e ccapacitados para agir imediatamente em caso de emergência.
“Portanto, não temos de esperar que as pessoas saiam dos Estados Unidos, ou que Portugal para vir ajudar, porque já há pessoas que só precisam de alguns recursos para começarem imediatamente a prestar apoio aos seus vizinhos”, disse Chabikuli.
“Penso que esta é uma característica importante da resiliência dos sistemas de saúde africanos”, sublinhou. “África está a liderar o mundo ao demonstrar como podemos aproveitar os recursos das nossas comunidades através da rede de profissionais de saúde comunitários para responder rapidamente a uma emergência.
Sg/PF (878)
(AIM / AIMENG)