
Guijá (Moçambique), 09 Nov (AIM) – A agricultura de sequeiro continua a dominar o modo de produção no distrito de Guijá, província de Gaza, sul de Moçambique.
A situação agudiza vulnerabilidades das populações face a ocorrência do fenómeno El Nino, que pode desencadear insegurança alimentar devido a escassez da chuva condição “sin qua non” para a produção agrícola.
Com um universo de 93 mil habitantes, dos quais 70 por cento vive ao longo das margens do rio Limpopo, com todos os riscos quando há chuvas acima do normal ou quando há escassez, tal como está previsto para este ano e o próximo, situação que pode prejudicar o desempenho agrário e perigar as comunidades que tem na agricultura a base de subsistência.
Cerca de 30 por cento da população vive no interior e está mais exposta a secas cíclicas devido as mudanças climáticas que se observam desde 2016, uma vez que o distrito não possui nenhum regadio e depende exclusivamente da chuva para produzir.
A situação foi reconhecida hoje, em Guijá, pelo Administrador local, Jaime Mugabe, durante uma entrevista com órgãos de informação no quadro de mapeamento das zonas críticas face a previsão do fenómeno El Nino.
“Podemos dizer que todo o nosso distrito é crítico. Como sabem não temos infra-estruturas agrárias. Não temos regadios e estamos a praticar agricultura de sequeiro e praticamente toda a nossa população está numa situação critica. Temos particularidades em zonas dos postos administrativos de Lalaze, Chivonguene e Mubanguene que o cenário é mais critico”, disse o Administrador.
O chefe do governo local aponta três áreas de intervenção tidas como prioritárias para mitigar os impactos do fenómeno El Nino, nomeadamente a construção de infra-estruturas de abastecimento de água, agricultura e atribuição de meios de subsistência, actividades também previstas no plano de acções antecipadas, documento elaborado pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) para se posicionar face a época chuvosa 2023-2024.
“As acções antecipadas têm como objectivo potenciar as populações para responder da melhor forma os fenómenos que tem estado a assolar o distrito nos últimos anos. O Comité Operativo Distrital foi activado para delinear as estratégias de mitigação dos impactos do El Nino”, disse o Administrador.
Face ao cenário e para mitigar os impactos dessa realidade, o INGD e seus parceiros de cooperação estão a acelerar a construção de reservatórios escavados de água nas zonas áridas da província de Gaza e, em especial no distrito de Guijá, infra-estruturas que tem vindo a melhorar significativamente a qualidade de vida das comunidades que vivem em zonas propensas a seca.
O distrito conta, actualmente, com 11 reservatórios escavados que minoram o sofrimento de aproximadamente 30 mil pessoas que estavam expostas a insegurança alimentar devido a escassez de chuvas que, também, se vai verificar este ano e próximo, de acordo com antevisão climática que aponta para a ocorrência do fenómeno El Nino para toda zona sul do país.
A acção do INGD enquadra-se na segunda fase da recuperação à seca e resiliência, (CLINFIREP) financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) orçado em 47 milhões de dólares norte-americanos que prevê construir, até 2026, na zona sul, 20 reservatórios escavados e 16 furos multiuso para mitigar os impactos da seca.
A reportagem da AIM esteve nos povoados de Mafada e Mandzene, em Guijá, que beneficiaram, recentemente, de dois reservatórios escavados com capacidade para 25 mil metros cúbicos, infra-estruturas que jogam papel preponderante para o abastecimento de água às comunidades locais, abeberamento de gado e para actividade agrícola nos perímetros dos empreendimentos.
No povoado de Mafada, que dista 60 quilómetros da vila sede de Guijá, as populações eram obrigadas a percorrer perto de 10 quilómetros à busca de água nos rios locais que na sua maioria estão secos.
Fora isso, a água é partilhada com os animais com todos os riscos que isso acarreta para a saúde da vida humana, sobretudo crianças e mulheres gravidas, como camadas sociais mais vulneráveis.
Em conversa com AIM, Fenias Mondlane, produtor, de 22 anos de idade, e Argentina Fenias, moradora local de 50 anos, partilham o drama pelo qual passavam para obter água e todas as suas implicações na qualidade de vida das pessoas, bem como o impacto projecto de Recuperação à Seca e Resiliência (CLINFIREP), que construiu as infra-estruturas em alusão.
“O cenário que se vivia antes dos reservatórios escavados era dramático. Aqui não havia agricultura porque não tínhamos água para irrigação. O meu gado percorria vários quilómetros para beber água e isso não é bom para o animal. Agora o cenário mudou e temos água aqui perto. Agradecemos ao Governo e gostaríamos que aumentasse mais reservas destas”, disse Fenias Mondlane.
“Já podemos lavar a nossa roupa aqui. Antes tínhamos de percorrer distâncias grandes para encontrar água. As nossas crianças perdiam aulas para ir procurar água e ou levar o gado aos rios que estão bem distantes daqui. A qualidade da nossa vida melhorou”, salientou Argentina Fénias, moradora de Mafada.
Refira-se que, o impacto positivo dos reservatórios escavados também foi constatado no distrito de Magude, província de Maputo.
Mas ocorre o problema de vandalização e roubo de equipamentos, cenário que recua os ganhos alcançados no provimento de água às populações por via desses sistemas.
(AIM)
PC/mz