Panda, 10 Nov (AIM) – Os sistemas multifuncionais de abastecimento de água e reservatórios escavados estão a contribuir, em larga escala, para concentração voluntária das populações nas zonas seguras, no distrito de Panda, província de Inhambane, na zona sul de Moçambique.
O fenómeno, contrária uma tendência antiga de resistência das comunidades em deixarem as zonas de risco alegadamente porque já se encontravam estabelecidas ao longo de anos e com meios de subsistência assegurados nos locais, prática que custava perda de vidas humanas e danos avultados em situações de calamidades.
As infra-estruturas de provimento de água estão a resolver um problema crónico de dispersão da população, num dos distritos mais extensos de Inhambane, mas que, apesar da população ser reduzida, vive de forma dispersa e em zonas de risco a ciclones, cheias e secas, factor que dificulta a intervenção do governo para mitigação, prestação de assistência e aviso prévio.
Os sistemas multifuncionais e os reservatórios estão a ser construídos pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastre (INGD) e seus parceiros para mitigação dos efeitos da seca e não só.
A mais-valia das infra-estruturas foi confirmada hoje, em Panda, pelo director de Infra-estruturas e Planeamento, Arsénio Boa, em entrevista a AIM, durante a qual fez uma radiografia do nível de preparação do distrito, numa altura em que a província está em alerta sobre a forte probabilidade da ocorrência de seca severa, que pode perigar a segurança alimentar e nutricional a pouco mais de 25 mil pessoas no distrito.
“Se repararem, as pessoas estão a sair de locais de risco de seca e inundações para se fixarem naquelas zonas onde se construiu os sistemas. Por isso, os sistemas têm maior impacto. Além disso, também têm impacto para o nosso gado que passa a ter água perto, tendo em conta que os cursos de água secam e os bebedouros desaparecem”, disse o director.
Segundo Boa, as zonas escolhidas para a construção dos sistemas multifuncionais, nomeadamente Phumune e Mavume, foram também identificadas como de reassentamento das comunidades retiradas aquando do ciclone Freddy, que inundou a povoação de Inhassune, situação que forçou o governo distrital a declarar aquele lugar como de risco para habitação, sendo apenas para prática de agricultura e criação animal.
Segundo a fonte, Panda é ciclicamente fustigado por inundações, secas severas e ventos fortes e o projecto de Recuperação à Seca e Resiliência, que contempla a componente de fomento de actividades agrícolas, vai reduzir os efeitos de um ou de outro evento meteorológico extremo, desenvolvendo capacidade de resiliência dentro das comunidades vulneráveis.
“Esse projecto vai permitir que as populações, mesmo em contexto de seca, tenham algo para produzir e comer”, salientou.
Paralelamente, há acções de fomento à produção da castanha de caju nos postos administrativos, como cultura tolerante à seca e de rendimento, tendo já sido plantados 500 hectares, para que as populações não dependam apenas das culturas de consumo, num contexto em que é necessário a diversificação da renda no seio das famílias.
Só nesta cultura, Panda espera produzir 3.000 toneladas de castanha de caju, cifra a ser alcançada pelas associações, produtores particulares e famílias que abraçaram a iniciativa.
Enquanto o fenómeno El Nino ainda não se faz sentir em Panda, o distrito já alcançou a fasquia de produção na ordem de 83.000 toneladas de produtos agrícolas diversos, só este ano, incluindo culturas alimentares e de rendimento.
Entrevistados pela AIM, os beneficiários dos sistemas multiuso, confirmam que as zonas com implantação das fontes de água são as mais concorridas para fixação de residências pelas comunidades, que abandonam as zonas de risco.
“Aqui em Phumule, como podem ver, já estão a surgir casas, as populações querem estar perto da água. Sem água, não há vida. Eu vim de uma zona propensa a cheias e, durante vários anos, vivi nessa situação, mas agora estou aqui”, disse Armindo Mabote, líder comunitário em Phumule.
“Aqui posso vir lavar a roupa, não preciso de percorrer muita distancia”, disse uma moradora que utilizava os tanques de lavar roupa, também construídos no âmbito do projecto.
Para o director da Escola Primária Completa (EPC) de Mavume, Alfredo Machava, “este sistema contribuiu para a aderência dos alunos à escola e seu desempenho pedagógico.
“Antigamente, faltavam às aulas para irem tirar água para o consumo familiar ou levavam o gado à procura de água nos rios e isso impactava negativamente”, disse Machava, que vê melhoria da qualidade de vida das populações locais.
(AIM)
Paulino Checo (PC)/dt
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