Maputo, 26 Nov (AIM) – O presidente do município de Quelimane, capital da província central da Zambézia, Manuel de Araújo, atacou sábado Mirko Manzoni, representante pessoal em Moçambique do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pelo seu silêncio perante o uso da força pela polícia contra manifestantes que protestavam contra os resultados das eleições autárquicas de 11 de Outubro, que consideram fraudulentas.
Manzoni foi uma figura chave no processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) da força residual da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique.
A Renamo cedeu as suas armas no âmbito do acordo de paz assinado em 2019 entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, em 2019.
Citado pelo canal de televisão STV, no sábado, Araújo disse que, pela primeira vez na sua história, a Renamo foi para uma eleição desarmada, mas alega que a Frelimo, partido no poder, mantém uma força armada – com o que ele aparentemente queria dizer a polícia.
“A partir de hoje”, disse Araújo, “as nossas marchas serão para o desmantelamento da Frelimo armada, e contra aquele homem da Suíça, Mirko Manzoni, porque ele fez-nos entregar as nossas armas. Ele continua a comer o dinheiro das Nações Unidas e não abre a boca. Ele está a comer o nosso dinheiro, à custa do sangue dos moçambicanos”.
Ele acrescentou que enviou uma mensagem a Guterres, pedindo-lhe para demitir Manzoni.
Araújo afirmou que Manzoni “não é honesto e não promove nem a paz nem a democracia. Um homem como este não merece ser conselheiro do Secretário-Geral da ONU”.
Pediu também a demissão do presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o bispo anglicano Carlos Matsinhe, e de Lolo Correia, o director-geral do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), que é o órgão executivo da CNE.
Mas elogiou os juízes do Conselho Constitucional, o órgão máximo do país em matéria de direito constitucional e eleitoral, e o Presidente Nyusi por, supostamente, se recusarem a aceitar a pressão de altos membros da Frelimo na Zambézia que queriam forçar uma vitória da Frelimo em Quelimane.
Afirmou que o primeiro secretário provincial da Frelimo na Zambézia, Paulino Lenco, e o governador provincial, Pio Matos, chegaram a deslocar-se a Maputo para persuadir Nyusi a ordenar ao Conselho Constitucional manter os resultados preliminares, que conferiam uma vitória da Frelimo.
Mas Nyusi não prestou atenção e, na sexta-feira, o Conselho anunciou os resultados definitivos, segundo os quais a Renamo ganhou em Quelimane e Araújo garantiu um novo mandato como presidente do município.
Araújo contou assim uma história divertida, mas não há provas que sugiram que Nyusi tenha exercido a sua influência junto ao Conselho Constitucional.
Embora Araújo tenha ficado satisfeito com o facto de o Conselho Constitucional ter anulado os resultados preliminares em Quelimane, ele acredita afectou muitos outros municípios.
Araújo afirmou que a Renamo venceu em 21 dos 65 municípios. Na sexta-feira, o Conselho Constitucional anunciou vitórias da Renamo em apenas quatro municípios (Quelimane, Chiúre, Alto Molocué e Vilanculo) e a recontagem em outros quatro (Marromeu, Nacala, Gurué e Milanje).
(AIM)
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