Lusaka, 30 Nov (AIM) – A antiga Ministra de Saúde de Guiné-Bissau, Magda Robalo, expressa a sua preocupação com o impacto directo do conflito em Cabo Delgado, no acesso aos cuidados de saúde para as mulheres moçambicanas.
Robalo, que actualmente ocupa o cargo de vice-Presidente do Comité de Ética e Governação e Membro Suplente do Conselho do Fundo Global de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e a Malária na África Ocidental e Central, explica que conflito contribui para a redução do número de consultas pré-natais, aumento de partos fora dos hospitais, entre outros desafios que colocam a mulher a mercê de situações além do seu controlo.
Especialista em saúde pública, a fonte deixou ficar sua visão sobre Cabo Delgado, hoje em entrevista a AIM, na capital zambiana, Lusaka, ao terceiro dia da Conferência Internacional de Saúde Pública em África (CPHIA2023), evento organizado pela União Africana e o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de África (AFRICA CDC).
“A mulher que se encontra no meio de fogo cruzado de um conflito, está numa situação mais precária porque está num ambiente desconhecido e, por isso, exposta a todo tipo de abuso. O conflito coloca as mulheres a mercê de situações que não controlam e daí todo o perigo e risco para sua saúde, já condicionada pelo facto de ser mulher”, explicou Robalo.
A fonte, que afirma estar a acompanhar atentamente a situação em Cabo Delgado, refere que o conflito que se desenrola naquele ponto do país empurra as mulheres para uma situação de crise de saúde, bem como à insegurança alimentar, sujeitas a agressões e sequestro por grupos insurgentes.
“Elas sofrem muito também com a destruição de património, agressões físicas e assassinatos, violações sexuais, raptos e impossibilidade de acesso à justiça”, disse.
Por isso, Magda Robalo entende que o maior desafio para o Governo, organizações humanitárias e da sociedade civil é garantir um investimento massivo na formação e na inclusão económica das populações afectadas, especialmente das mulheres como grupo mais vulnerável.
“A falta de privacidade em termos de habitação e o poder das armas torna a mulher exposta a todo o tipo de abuso e desprovida de assistência sanitária. Por isso, cabe as entidades de direito velar pelas mulheres nas zonas de conflito” salientou.
Robalo, que também participou num painel sobre a Saúde da Mulher, Jovens e Raparigas, deixou recomendações para os governos, sociedade cível e todos os actores relevantes a realizarem pesquisas sobre a saúde da mulher, para que se desenvolvam ofertas, soluções e intervenções que atendam as necessidades deste segmento social em toda a sua vida, não só na sua idade reprodutiva.
“Temos que quebrar essas barreiras, a mulher é muito mais do que o seu útero, é muito mais do que fazer filhos, é preciso saber que a mulher tem problemas de saúde desde o seu nascimento até a morte. A mulher enfrenta, por exemplo, problemas de menopausa, de saúde mental e tudo isso carece de atenção especial”, disse.
Partilhou igualmente, os problemas que seu país Guine Bissau enfrenta em relação a exclusão e estigmatização da mulher em vários aspectos, tais como a persistência da mutilação genital feminina em certas regiões, casamentos precoces, dificuldades de acesso a educação, entre outros.
“Quando as mulheres conseguem quebrar esses ciclos e avançarem, enfrentam a discriminação nos postos de trabalho, círculos políticos e lugares de tomada de decisão. Agora, por exemplo, tivemos eleições parlamentares e o número de mulheres reduziu drasticamente em relação as legislativas anteriores”, avançou.
Refira-se que, em relação aos desafios relativos a Cabo Delgado, visando reduzir o impacto da guerra sobre a mulher, a ONU Mulheres e a Agência de Cooperação Internacional da Coreia (KOICA) estão a providenciar ajuda humanitária no âmbito do projecto intitulado “Promovendo a recuperação socioeconómica e a resiliência de mulheres e meninas internamente deslocadas e repatriadas no Norte de Moçambique”, orçado em seis milhões de dólares norte-americanos.
(AIM)
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