Nampula (Moçambique), 02 Dez (AIM) – Cerca de 41 mil pessoas de aproximadamente 300 mil, abandonaram o tratamento contra o HIV-SIDA, ao longo dos primeiros 10 meses deste ano, na província de Nampula, no norte de Moçambique.
As organizações da sociedade civil engajadas no combate contra a pandemia, em Nampula, invocam como motivos para os doentes abandonarem o TARV, entre outros, a falta de transporte que facilite a sua deslocação de casa à unidade sanitária e vice-versa, associado a falta de assistência alimentar, o que piora o seu estado de saúde.
Dados das autoridades da saúde referem que a província de Nampula registou, no ano passado, 575 óbitos de pessoas que padeciam desta doença que assombra o mundo há cerca de 40 anos.
Por isso, o Secretário de Estado para Nampula, Jaime Neto, lançou sexta-feira, na cidade portuária de Nacala, a campanha local “Dezembro Vermelho”, que visa estender o período de reflexão sobre a pandemia e um conjunto de acções sobre o HIV e outras infecções de transmissão sexual.
Para sustentar esta iniciativa, Jaime Neto forneceu alguns números sobre o actual estado da pandemia na província de Nampula, a mais populosa de Moçambique, onde em cada 100 pessoas, 10 vivem com o HIV.
“A província de Nampula, com 6.649.881 habitantes, segundo projecções do último censo populacional, tem uma taxa de sero-prevalência de 10 por cento. De acordo com dados do último estudo do INSIDA, isto significa que em cada 100 cidadãos, 10 estão infectados pelo HIV. Perante esta situação, o governo e os parceiros têm envidado esforços com vista a proporcionar mais serviços aos utentes das unidades sanitárias”, afirmou.
Das 248 unidades sanitárias da província de Nampula, 233 providencia serviços de tratamento do HIV-SIDA, o que corresponde a 94 por cento, avançou a fonte.
“A província tem um cumulativo de 282.474 pacientes em TARV, dos quais 17.600 são crianças. De Janeiro a Setembro, 1.041.204 pessoas foram aconselhadas e testadas. Houve 37447 novos inícios de TARV e a supressão viral foi de 67 por cento em crianças e 88 em adultos”, apontou.
Jaime Neto destacou o contributo particular que as comunidades prestam nas acções de mitigação do HIV, tal como reza o lema escolhido para assinalar a efeméride e que por essa via, deve ser reconhecido o papel desses actores anónimos.
“O lema escolhido reforça a necessidade de se colocar as comunidades e organizações da sociedade civil no epicentro da reposta nacional ao HVI-Sida, pois evidências mostram que os sistemas comunitários desempenham um papel chave na resposta e asseguram a inclusão destas na identificação dos problemas, na planificação, oferta e monitoria de serviços de saúde”, afirmou.
O governante deixou ainda apelos para que a consciência colectiva saiba discernir que a doença não discrimina e afecta pessoas de todas as idades, género e raça.
“Ela não escolhe as suas vítimas, mas nós podemos escolher como responder a ela. Podemos educar, informar e apoiar para combater o estigma e a discriminação, promover a igualdade e a inclusão, juntos podemos alcançar uma sociedade livre do HIV-Sida”, sustentou.
Lembrou ainda os efeitos negativos que a doença tem na sociedade como um todo.
“Do ponto de vista económico representa um fardo significativo para o nosso país, os custos de tratamento e cuidados médicos são enormes, o impacto na força de trabalho é considerável”, destacou.
O Secretário de Estado fez notar também que a província de Nampula está a ser assolada pela cólera e diarreias, numa altura em que, com a época chuvosa em curso, a situação torna-se mais delicada.
Apelou para que os líderes comunitários não sejam maltratados, como tem acontecido, sob alegação de que são promotores da disseminação de doenças como a cólera.
“Não maltratem os nossos líderes comunitários que trabalham dia e noite para que esta doença não afecte as nossas comunidades. Em nenhum momento são portadores desta doença. Eles transmitem todas as orientações para que a nossa sociedade seja livre de cólera. Queremos que todos trabalhem de mãos dadas com as nossas comunidades”, concluiu.
Entretanto, a Confederação das Associações Moçambicanas de Pessoas Vivendo com HIV (CAMPV-HIV) considera que a ausência de políticas específicas que favorecem a capacitação das instituições que lidam com a doença, influencia na fraca resposta de combate dotando-as com técnicas e recurso.
“Se vencêssemos o estigma e discriminação, teríamos um número cada vez maior de pessoas vivendo com o HIV em TARV, mantendo-se em tratamento, cada vez mais pessoas indetectáveis e menos pessoas a infectarem-se, por isso, clamamos por mais campanhas como é o caso de “Somos Iguais”, afirmou Resgio Domingos, representante do CAMPAV-HIV em Nampula.
Esta organização deu nota positiva ao governo, devido aos progressos alcançados, mas mantém a preocupação fundada no aumento do número de novas infecções e mortes.
“Apesar dos progressos, continuamos preocupados com o número de novas infecções e de mortes relacionadas ao SIDA que se mantêm elevados. São 258 novas infecções diárias e cerca de 35 mil mortes por ano”.
Domingos concluiu afirmando que “o país tem a baixa retenção nos cuidados e tratamento, isto exige um esforço redobrado para o incremento da literacia para o tratamento das pessoas vivendo infectadas e os seus pares”.
Em Moçambique o primeiro caso de HIV-Sida foi detectado em 1986.
A efeméride foi celebrada no país sob o lema “Comunidades e sociedade civil na vanguarda da resposta ao HIV/SIDA”.
(AIM)
RI/FF