Maputo, 11 Dez (AIM) – A Frelimo, partido no poder em Moçambique, venceu as eleições autárquicas repetidas no domingo (10) em quatro municípios, marcadas por uma fraca afluência às urnas, uma forte presença policial e muitas das mesmas irregularidades que levaram o Conselho Constitucional (CC) a ordenar um novo escrutínio.
Em Marromeu, na província central de Sofala, onde as eleições foram repetidas em todo o município, apenas 16.211 dos 29.433 eleitores inscritos foram às urnas – uma afluência de pouco mais de 55 por cento, disse o director distrital do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), Daniel Cusaminho.
A Frelimo ganhou com 8.450 votos. A Renamo, o partido da oposição, ficou em segundo lugar, com 6.104 votos, enquanto o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) obteve apenas 607 votos.
Nos restantes três municípios, onde teve lugar o escrutínio em apenas algumas mesas de voto, a taxa de participação foi bastante inferior a 50 por cento. Em Gurúè, dos 8.646 eleitores inscritos apenas 2.872 votaram nas 13 mesas de voto onde a eleição se repetiu, uma afluência às urnas de 33,2 por cento.
A Frelimo obteve 1.681 votos. Em segundo lugar ficou a Nova Democracia (ND) com 853 votos. A Renamo obteve apenas 86 votos. Gurúè é o único município do país onde a ND é um sério concorrente ao poder.
Em Milange, onde as eleições foram repetidas em três mesas de voto, apenas 640 dos 2.397 eleitores inscritos decidiram votar – uma afluência às urnas de 26,7%.
Em Nacala, à primeira vista, a Frelimo parecia ter obtido uma vitória esmagadora, com 91 por cento de todos os votos válidos. Mas isso só aconteceu porque a Renamo boicotou o acto eleitoral.
Dos 12.983 eleitores que estavam registados nas 18 mesas de voto, apenas 3.694 votos foram expressos – uma afluência às urnas de apenas 28,7 por cento. A Frelimo obteve 3.227 votos (91 por cento).
Alguns membros e simpatizantes da Renamo foram às urnas. A Renamo obteve 221 votos (6,2 por cento). O MDM obteve 89 votos (2,5 por cento).
O Presidente do Município da Renamo em Nacala, Raul Novinte, que se candidatou a um novo mandato, afirmou que a taxa de abstenção massiva constitui uma vitória para a Renamo.
Entrevistado pela estação de televisão independente STV, Novinte negou que membros da Renamo tenham quebrado o boicote e votado. Os 221 votos a favor da Renamo foram “inventados”.
“Ninguém foi votar”, disse ele. “As mesas de voto estavam desertas.”
Mas embora a Renamo em Nacala possa ser disciplinada, não há maneira de Novinte e os seus seguidores obrigarem todos os apoiantes da Renamo na cidade a aderirem ao boicote – especialmente porque a liderança da Renamo em Maputo se opôs ao boicote.
O índice de abstenção, acrescentou Novinte, “mostra que a Frelimo não existe em Nacala. O povo sabe que a Frelimo roubou a sua vitória.”
A polícia recorreu à força para dispersar multidões de eleitores à porta das mesas de voto. O pior incidente ocorreu durante a contagem dos votos nas mesas situadas no interior da Escola Secundária de Gurúè, onde a polícia feriu cinco manifestantes da oposição, que foram todos tratados no Hospital Rural de Gurúè.
Quatro tiveram alta na manhã desta segunda-feira, mas o quinto, atingido nas duas pernas, ainda estava inconsciente na unidade de cuidados intensivos do hospital.
O chefe do departamento de Relações Públicas da Polícia, Miguel Caetano, disse à STV que a polícia começou por usar gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar a multidão e só quando isso não funcionou é que recorreu a munições reais.
Os observadores notaram que exactamente os mesmos crimes, incluindo o enchimento de urnas, que levaram o Conselho Constitucional a exigir a repetição das eleições, foram cometidos novamente no domingo.
Isto não é surpreendente, uma vez que muitas das pessoas que promoveram a fraude eleitoral em Outubro ainda estavam à frente das mesas de voto. Os serviços centrais do STAE tinham ordenado que ninguém suspeito de comportamento ilícito em Outubro fosse contratado novamente para a repetição das eleições no domingo.
Mas as Comissões Distritais de Eleições decidiram simplesmente ignorar esta instrução. A ONG anti-corrupção, o Centro de Integridade Pública (CIP), investigou oito funcionários acusados de crimes eleitorais em Gurúè, em Outubro, e descobriu que eles continuavam a presidir às mesas de voto de Gurúè.
(AIM)
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