Aburi Hills (Gana), 27 Jan (AIM) – O antigo Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, diz que o tema prosperidade em África é assunto que não começa hoje, por se tratar de uma matéria que vem desde o início dos movimentos de emancipação da África, as lutas pelas independências.
Falando a jornalistas no Lodge presidencial de Peduase, em Aburi Hills, no Gana, na esteira do Diálogo sobre Prosperidade em África (APD) edição 2024, que reuniu, quinta (25) a sábado (27), várias entidades entre líderes políticos, empresariais, entre outros, referiu que no próprio Gana, o falecido presidente Kwame Nkrumah falou da independência política e económica.
“Só que depois ele disse que primeiro vamos adquirir a independência política e todo o resto virá, é assim que está a acontecer,” referiu.
Segundo Chissano, criou-se a OUA (Organização da Unidade Africana) e prevaleceu a ideia de primeiro atacar as questões políticas, e ajudar a libertar os países que ainda estavam colonizados, “mas sempre na perspectiva de criar condições para construir a prosperidade para os povos.”
Disse que nos anos 1990 ocorreram reuniões em Lagos, na Nigéria, onde se discutiram questões económicas na perspectiva de como fazer para a prosperidade até que veio a questão da regionalização em África, nomeadamente a criação da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral), e CEDAO (Comunidade Económica dos Estados da Africa Austral), “sempre na busca de como os países podiam complementar as suas actividades, a procura da prosperidade.”
De acordo com Chissano, a ideia de que a África deve se apropriar dos seus projectos e até procurar financiar as suas actividades é seguimento de todo esse esforço.
Durante os três dias da cimeira sobre a prosperidade em África foram organizados vários painéis entre os quais o que se debruçou sobre as infraestruturas. “Este assunto não é de hoje. Mesmo em Moçambique começamos a nomear quais as infraestruturas que deviam ter relevância na África Austral como é o caso de corredores, e linhas de transporte de energia.”
“Eu vejo que o que se está a fazer aqui é um passo avante em relação ao que foi sendo construído paulatinamente e que nos dá confiança de que no futuro se continuarmos com este espírito positivo haverá resultados desejados, desde que não haja concorrência entre países africanos,” afirmou.
O ex-Presidente da República disse haver muita concorrência entre os países africanos, o que não é salutar. “Agora deve se falar da complementaridade.”
Chissano explicou que “ouvimos aqui, neste fórum, a falar-se do papel dos bancos. Como é que devem trabalhar, em conjunto, para minimizar as dificuldades das trocas em moeda estrangeira.”
“Ė uma conferência útil, mas como muitos repetiram, aqui, vai ser mais útil se os países receberem mensagens e começarem a pôr em prática as recomendações,” anotou.
Disse que como participante do APD 2024 não avançou com nenhuma recomendação porque tratou-se do primeiro convite que “recebemos mas do pouco que ouvimos achamos que vamos interagir para que se olhe para o fórum como um repositor de ideias porque todos os seus membros foram chefes de Estado, e dirigentes de grandes organizações.”
Disse ainda ter sido uma falha não ter-se convidado muitos membros com larga experiência em matérias afins.
“Isso é uma falha. Há também antigos chefes de Estado, em África, que deviam trazer a sua experiência sobre como é que tudo isto começou”, indicou. “Isto que aparece hoje é uma evolução. Para os mais jovens parece que eles criaram tudo, mas não é bem assim. Encontraram algo já desbravado,” acrescentou.
Segundo Chissano, a concretização da zona de comércio livre seria um ganho muito grande porque vem confirmar a possibilidade de integração pelo menos económica da África e, quiçá, no futuro, a integração política.
Quanto ao facto de o continente ser rico em recursos naturais mas, mesmo assim, continuar pobre, o antigo estadista moçambicano referiu que tudo deriva da falta de conhecimento.
“Está se a falar de como fazer com que esses recursos pertençam aos seus próprios países e povos. Podemos dizer que temos muitas areias pesadas em Moçambique, mas será que sabemos transformar as areias pesadas em dinheiro para construir fábricas de outros bens? Temos técnicos que vão trabalhar nessas areias pesadas ou vamos continuar a depender de engenheiros estrangeiros? Temos mercado para os produtos das areias pesadas?” questionou.
Chissano sublinhou que a falta de conhecimento é a principal razão da prevalência da pobreza em África. “Não só conhecimento de envergadura, mas o conhecimento das populações sobre o que é que elas próprias podem fazer para o seu próprio auto-sustento, ter um pouco de dinheiro e poderem aumentar a sua capacidade de produção e produtividade.”
Explicou que na transformação das matérias-primas a educação de qualidade tem muita perseverança, principalmente para o nosso povo que já sabe utilizar o celular para enviar dinheiro, por exemplo. “Isso é um avanço, mas há muito mais coisas que é preciso aprender nesse nível da nossa população.”
Disse que o analfabetismo não se coaduna com as novas tecnologias “nesta era digital, nesta era de inteligência artificial. Temos que tratar de lutar contra esse analfabetismo.”
PAPEL DA IMPRENSA
Chissano afirmou que a imprensa também deve saber abordar as questões que têm a ver com a prosperidade. “Mostrar às pessoas de que isto é possível.”
“Ė bom martelar o governo, bater um bocadinho, mas também é preciso dizer às pessoas de que é possível contribuírem e não ficar de mãos estendidas a espera para as coisas caírem do governo,” recomendou.
Reconheceu a componente falta de infraestruturas, mas referiu que os problemas, a este respeito, que existiam quando deixou de ser presidente já foram ultrapassados.
“Ė preciso falarmos também do progresso que existe. Ė verdade que quando agente diz que isto não anda é porque há crescimento das necessidades, crescimento da população, o que cria espaço para exigir-se mais.”
“Temos que encontrar uma forma positiva de levarmos todos para um trabalho que puxa para frente,” destacou Joaquim Chissano.
Chissano participou no Diálogo Africano sobre Prosperidade, na sua segunda edição, como convidado na sua qualidade de Presidente do Fórum dos Antigos Chefes de Estado e, também, na qualidade individual através de conhecidos que “acharam que devia começar a associar-me a esta actividade.”
O lema do APD 2024 centrou-se no tema “Proporcionar Prosperidade em África: Produzir, Acrescentar Valor e Desenvolver o Comércio”.
(AIM)
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