Maputo, 12 Fev (AIM) – O Papa Francisco considera que os progressos notáveis das novas tecnologias da informação, sobretudo na esfera digital, apresentam oportunidades entusiasmantes, mas também graves riscos com sérias implicações na prossecução da justiça e harmonia entre os povos.
Por isso, segundo escreve numa mensagem ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, por ocasião da celebração do Dia Mundial da Paz – 2024, o Papa afirma: “torna-se necessário que os Homens se interroguem sobre algumas questões urgentes: quais serão as consequências, a médio e longo prazo, das novas tecnologias digitais? E que impacto terão elas sobre a vida dos indivíduos e da sociedade, sobre a estabilidade e a paz?”
A mensagem do Santo Padre, citada num comunicado da Presidência da República a que AIM teve acesso, foi endereçada sob o lema “Inteligência Artificial e Paz” e é subdividida em oito subtemas, nomeadamente: “O progresso da ciência e da tecnologia como caminho para a Paz; O futuro da inteligência artificial, por entre promessas e riscos; A tecnologia do futuro: máquinas que aprendem sozinhas; O sentido do limite, no paradigma tecnocrático; Temas quentes para a ética; Transformaremos as espadas em relhas de arado?; Desafios para a educação; e Desafios para o desenvolvimento do Direito Internacional.”
Sobre “O futuro da Inteligência Artificial, por entre promessas e riscos”, o Santo Padre reconhece que os progressos da informática e o desenvolvimento das tecnologias digitais, nas últimas décadas, começaram já a produzir profundas transformações na sociedade global e nas suas dinâmicas.
Observa que “os novos instrumentos digitais estão a mudar a fisionomia das comunicações, da administração pública, da instrução, do consumo, dos intercâmbios pessoais e de inúmeros outros aspectos da vida diária.”
Todavia, o Santo Padre adverte que “o resultado positivo da Inteligência Artificial e de todas as transformações tecnológicas só será possível se a sociedade se demonstrar capaz de agir de maneira responsável e respeitar valores humanos fundamentais como a inclusão, a transparência, a segurança, a equidade, a privacidade e a fiabilidade.”
No subtema sobre “A tecnologia do futuro: máquinas que aprendem sozinhas”, o Papa Francisco reconhece que nas suas múltiplas formas, a Inteligência artificial, baseada em técnicas de aprendizagem automática (machine learning), embora ainda numa fase pioneira, “já está a introduzir mudanças notáveis no tecido social, exercendo uma influência profunda nas culturas, nos comportamentos sociais e na construção da paz.”
Em relação ao “sentido do limite no paradigma tecnocrático”, Sua Santidade destaca a vastidão do mundo, ao mesmo tempo que o vê como variado e complexo para ser completamente conhecido e classificado.
Nestes termos, o Papa Francisco entende que a mente humana nunca poderá esgotar a sua riqueza, nem sequer com os avanços tecnológicos agora registados. E adverte à humanidade sobre o risco de, “na obsessão de querer controlar tudo, perder o controlo sobre si mesmo; e na busca de uma liberdade absoluta, de cair na espiral de uma ditadura tecnológica.”
Na sua abordagem sobre “Temas quentes para a ética”, o Sumo Pontífice afirma as formas de Inteligência Artificial parecem capazes de influenciar as decisões dos indivíduos através de opções predeterminadas associadas a estímulos e dissuasões, ou então através de sistemas de regulação das opções pessoais baseados na organização das informações.
Com efeito, sublinha que estas formas de manipulação ou controlo social “requerem atenção e vigilância cuidadosas, implicando uma clara responsabilidade legal por parte dos produtores, de quem os contrata e das autoridades governamentais.”
Ao abordar o subtema “Transformaremos as espadas em relhas de arado?”, o Papa Francisco pede que não se ignore as graves questões éticas relacionadas ao sector dos armamentos. Igualmente, apela que não se ignore a possibilidade de “armas sofisticadas caírem em mãos erradas, facilitando, por exemplo, ataques terroristas ou intervenções visando desestabilizar instituições legítimas de Governo.”
Para se ter um futuro melhor para a humanidade, o Papa defende “a necessidade de um diálogo interdisciplinar, voltado para um desenvolvimento ético em que sejam os valores a orientar os percursos das novas tecnologias.”
Sobre “Desafios para a educação”, o Sumo Pontífice destaca a necessidade de um desenvolvimento tecnológico que respeite e sirva a dignidade humana, pois esta tem implicações claras para as instituições educativas e para o mundo da cultura. E sugere que a educação para o uso de formas de Inteligência Artificial devesse visar sobretudo a promoção do pensamento crítico.
No capítulo sobre “Desafios para o desenvolvimento do Direito Internacional”, o Papa Francisco refere que o alcance global da Inteligência Artificial deixa claro que, junto da responsabilidade dos Estados soberanos de regular a sua utilização internamente, as Organizações Internacionais podem desempenhar um papel decisivo na obtenção de acordos multilaterais e na coordenação da sua aplicação e implementação.”
(AIM)
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