Lisboa, 08 Mar (AIM)- Os portugueses vão às uras este domingo, dia 10 de Março, para as legislativas antecipadas depois da queda do Governo de maioria absoluta do Partido Socialista (PS), liderado por António Costa.
No domingo, mais de 10,8 milhões de eleitores portugueses serão chamados às urnas, dois anos antes do que seria suposto, para eleger os 230 deputados da Assembleia da República (AR), o Parlamento português, na próxima legislatura e escolher que partido deve formar Governo.
Para além do PS, com novo Secretário-Geral e candidato ao cargo de Primeiro-ministro, e da Aliança Democrática (AD), uma coligação formada pelo Partido Social-Democrata (PSD), CDS-PP e o Partido Monárquico, concorrem às legislativas o Chega, partido da extrema-direita, populista, xenófobo e racista, o Bloco de Esquerda (BE), a CDU- Coligação Democrática Unitária – PCP (Partido Comunista Português)-PEV (Partido Ecologista “Os Verdes”), Iniciativa Liberal (IL), o Livre, o PAN (Pessoas-Animais e Natureza), entre outros.
Esta sexta-feira termina a campanha eleitoral de duas semanas, período durante o qual os partidos concorrentes percorreram os distritos de Norte a Sul para mobilizar o eleitorado a escolher o “melhor programa de governação”, numa altura em que os portugueses se debatem com a pobreza, graves problemas nos sectores da habitação, saúde, educação, justiça e nas Forças de Defesa e Segurança (FDS). Permanentes paralisações exigindo salários condignos e melhores condições de trabalho ocorrem na saúde, educação, justiça e as FDS, considerado sector de soberania, já ameaçaram boicotar o processo eleitoral.
Recta final da campanha
Na recta final da campanha, as figuras de proa do PS e da AD viraram os holofotes para o voto feminino. Pedro Nuno Santos, candidato do PS ao cargo de Primeiro-ministro (PM), afirmou esta quinta-feira que as eleições do próximo domingo são decisivas para os direitos das mulheres. Já Luís Montenegro, líder do PSD e candidato a PM pela AD, garante uma verdadeira igualdade de oportunidades.
Com efeito, o Secretário-geral do PS afirmou, em entrevista à RTP, que as mulheres sempre foram importantes para o partido, ao contrário da AD, na sua óptica. “O PSD nunca valorizou o papel da mulher na sociedade. Nós valorizamos e queremos continuar a valorizar e a defender as mulheres”, sustentou.
Questionado sobre o número de mulheres que ainda não decidiram o sentido de voto, Pedro Nuno Santos recordou que “as grandes matérias em direitos das mulheres foram sempre conseguidas com governos do Partido Socialista”.
“Elas é que têm sido ao longo da sua vida prejudicadas na progressão na carreira, porque normalmente ficam sempre a tratar da casa e da família. Por isso quando nós investimos na rede de creches gratuitas, ou no pré-escolar nós queremos dar mais oportunidades às nossas crianças, mas também às suas mães para poderem ter as suas carreiras e as suas profissões”, realçou.
Referindo-se à recente proposta de um novo referendo para reverter a lei do aborto, feita pelo vice-presidente do CDS-PP, Paulo Núncio, sem mencionar o seu nome, Pedro Nuno Santos afirmou que os partidos de direita “gabam-se de criar dificuldades no acesso à interrupção voluntária da gravidez”.
“Nós valorizamos e queremos continuar a valorizar e a defender as mulheres (…) As mulheres que trabalham em casa, trabalham fora de casa e merecem continuar a ser respeitadas e a ver o seu papel valorizado”, frisou o Secretário-geral socialista, também citado pela Lusa.
AD “olha” para as mulheres
Pouco depois da entrevista do Secretário-geral do PS à RTP, o líder da AD, Luí Montenegro, dedicou, num comício em Barcelos, na região Norte e pertencente ao Distrito de Braga, grande parte da sua intervenção “às mulheres portuguesas”, considerando que têm sido “uma força, um alento” nesta campanha”.
Dirigindo-se às mulheres, Luís Montenegro afirmou que o programa da AD “olha para elas também”, na saúde, na educação, nas pensões.
“Às mulheres de Barcelos, às mulheres de Braga, às mulheres de Portugal eu quero assegurar-lhes: nós vamos mesmo dar passos seguros importantes para garantir uma verdadeira igualdade de oportunidades”, acrescentou.
O presidente do PSD enquadrou “a igualdade de género” como “um pilar fundamental da igualdade de oportunidades” e salientou que em Portugal ainda há “discriminação negativa sobre a retribuição do trabalho e do esforço das mulheres face aos homens” e “há poucas mulheres a assumir cargos de direcção”.
“É preciso fazer alguma coisa por isso”, salientou.
Para Montenegro, quando a AD se propõe “resolver o problema do Serviço Nacional de Saúde”, é também “a pensar nas mulheres” que “sofreram nos últimos anos um agravamento do seu sentimento de segurança” com a falta de resposta dos serviços públicos de obstetrícia e de pediatria.
“Tratar dos alunos de Portugal é também tratar das mães e das avós de Portugal”, continuou.
Luís Montenegro apontou “o acesso geral, universal e gratuito à educação dos zero aos seis anos” como outra medida que beneficia em particular as mulheres, para que possam “conciliar a vida pessoal, familiar, e a vida profissional”.
Por fim, destacou a proposta de aumento do Complemento Solidário para Idosos (CSI), para apoiar tantas mulheres que “trabalharam segundo as regras que existiam à época”, sem carreiras contributivas.
Luís Montenegro defendeu ainda que é preciso “travar os fenómenos de violência sobre as mulheres, de violência doméstica, de violência no namoro e outras manifestações de violência sobre as mulheres”, bem como “combater o assédio no trabalho, outro fenómeno de violência sobre a condição feminina”.
Campanha eleitoral à moda de André Ventura (líder do CHEGA)
Em Olhão, no Algarve, Sul de Portugal, André Ventura disse, de boca cheia, que quem estiver a pensar votar no PS tem de tomar a medicação.
O presidente do Chega fez uma das intervenções mais duras da campanha. Garantiu, na presença de Santiago Abascal, líder do Vox, partido de extrema-direita espanhol, que se for eleito primeiro-ministro, Lula da Silva, presidente do Brasil, fica proibido de entrar em Portugal.
Membro do Parlamento Basco entre 2004 e 2009, Santiago Abascal ocupou dois cargos livremente nomeados na administração autónoma da Comunidade de Madrid entre 2010 e 2013. Deixou o PP (Partido Popular) em 2013 alegando divergências irreconciliáveis com a liderança partidária, passando então a fundar o Vox.
Segundo analistas políticos, nas legislativa de domingo há maior risco de não haver maioria absoluta, e, consequentemente, Portugal mergulhar na ingovernabilidade.
O que dizem algumas sondagens
Contudo, sondagem da Universidade Católica, divulgada esta quinta-feira, concluiu que a Aliança Democrática (AD) vai vencer as eleições legislativas de 10 de março. Trata-se de sondagem para o jornal “Público” e a RTP.
O barómetro de Março da Intercampus para os jornais Negócios, Correio da Manhã e CMTV (Correio da Manhã TV) aponta para uma vitória da AD com 29,3 por cento (que regista uma subida de cinco pontos percentuais face a Fevereiro), contra 23,3 por cento do PS, que, no entanto, também sobe um ponto desde que começou a campanha eleitoral. O Chega recua cerca de um ponto percentual este mês, de 16,5 por cento para 15,6 por cento, enquanto a IL sobe de 6,6 por cento para 7,8 por cento, garantindo o quarto lugar.
À esquerda, a grande novidade é a subida acentuada do Livre de 2,7 por cento para 4,3 por cento, seguida da subida de meio ponto do PAN para 3,7 por cento, deixando a CDU para trás e em queda para os 2,1 por cento. O Bloco de Esquerda lidera esta divisão, mantendo-se praticamente inalterado nos 5,5 por cento.
(AIM)
DM