Lisboa, 14 Mar (AIM)- Em Portugal, jornalistas do sector Público estão, esta quinta-feira, em greve de 24 horas em protesto contra a precariedade e contra os baixos salários, o que acontece pela primeira vez em mais de 40 anos.
Durante o dia, várias manifestações de jornalistas vão acontecer por todo o país.
Os efeitos da greve já se fazem sentir em alguns Órgãos de Informação. Por exemplo, a RDP África não emitiu o noticiário das 07h00 locais (09h00 em Maputo).
O presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) espera uma “adesão muito forte” à greve, em protesto contra a precariedade, mas também “um grito de alerta” para apoiar o jornalismo antes que seja “tarde demais”.
“Espero uma forte adesão porque na verdade a precariedade é muito mais alta que na generalidade dos outros sectores, os salários são cada vez mais baixos, não temos progressões de carreira reiteradamente nos últimos 20 anos”, elencou Luís Simões, citado pela imprensa lisboeta.
“Não fazemos greve há 40 anos, neste momento temos mais que do que motivos para o fazer porque na verdade o exercício do jornalismo degradou-se de uma forma incrível” neste tempo, disse Luís Simões, acrescentando que actualmente os salários “são mínimos e a exigência para os jornalistas é máximo”.
Por isso, “temos todos os motivos para acreditar que vamos ter uma adesão muito forte à greve”, sublinhou o presidente do SJ.
Esta paralisação não assenta apenas em exigências laborais, mas também há outro factor que leva os jornalistas a paralisarem esta quinta-feira: “O jornalismo neste momento em Portugal não é de todo apoiado”, enfatizou, citado pela Lusa.
Num contexto em que na União Europeia se procura apoiar o jornalismo, “Portugal é dos países da União em que ‘per capita’ [por pessoa] menos apoios há para a comunicação social”, destacou.
Por isso, a greve é “também um grito de alerta para o poder político e para os decisores: ou se apoia agora o jornalismo livre e independente ou vai ser tarde demais”.
Até porque, ao contrário do que acontece no jornalismo, “o investimento na desinformação é enorme e é desta forma que se corroem os pilares da democracia”, pelo que “chegou o momento de dizermos ou apoiam agora ou vai ser uma tragédia”, reforçou Luís Simões.
O dia da greve será marcado por uma concentração de jornalistas em Coimbra, no Centro de Portugal, depois outra no Porto, no Norte, o mesmo acontecendo em Ponta Delgada, na Região Autónoma dos Açores.
Em Lisboa, a concentração terá lugar no Largo do Camões pelas 18h00, em que também se faz um apelo à sociedade civil para estar presente.
De um universo de mais de 5.000 jornalistas em Portugal, o SJ conta actualmente com “2.451 sócios”.
O número de sócios “tem aumentado”, adiantou Luís Simões.
No entanto, “o número de jornalistas vai aumentado, mas os salários são tão baixos que para cada um que sai são precisos entrar três ou quatro porque hoje ganha-se muito mal no jornalismo”, sublinhou.
“Não se pode ganhar muito mal numa profissão” com as exigências do jornalismo, “o salário médio de um jornalista hoje não chega aos 1.000 euros, quando a maior parte deles está nos centros urbanos”, onde os custos da habitação são elevadíssimos, apontou.
“É muito difícil fazer jornalismo assim”, rematou Luís Simões.
Já em 2016 um estudo do Observatório da Comunicação alertava para o facto de 40 por cento dos jornalistas estarem em situação precária.
Existem casos de profissionais que resistiram quase 20 anos em situação precária por amor à profissão.
A mudança nem sempre é fácil, mas a desvalorização e falta de estabilidade financeiras levam muitos a escolherem um outro caminho.
(AIM)
DM