Maputo, 17 Mar (AIM)- Sandura Ambrósio, membro sénior da Renamo, o maior partido da oposição em Moçambique, defende que o Conselho Jurisdicional desta formação política pode ter cometido falhas à volta de toda a polémica que gira em torno da figura do seu presidente, Ossufo Momade, e da própria Renamo.
Ele junta-se às vozes daquele partido que querem ver uma Renamo forte, unida e coesa quando se aproximam as eleições gerais de 9 de Outubro.
De passagem por Quelimane, província central da Zambézia, a título privado, Ambrósio entende que o Conselho Jurisdicional não fez o seu trabalho de mostrar o caminho certo ao presidente para a marcação da reunião do Conselho Nacional e do Congresso tempestivamente.
“Vejo que há cúmplice nesta situação, não é só o presidente porque o partido tem órgão que é o Conselho Jurisdicional onde está lá o Dr. Macuiane, Molde Gussi, entre outros responsáveis. Afinal são doutores de que?”, disse Ambósio à STV, estação privada de televisão.
Questionou para depois responder que “são estas pessoas, quando viram esta situação do presidente estar a esticar a corda destituindo e nomeando delegados da Renamo nas províncias, eles podiam de algum modo sentar com o presidente, aconselhando sobre a tal legitimidade ou não de tomar aquele procedimento, e indicar melhores caminhos, porque o presidente já estava no fim do seu mandando. Quando uma pessoa está no fim do seu mandato, independentemente de serem órgãos eleitos, administrativamente não podia o presidente mexer com os quadros”.
Afirmou que o presidente do partido pode “não ser culpado desta crise política toda, mas os órgãos sociais e de Conselho Jurisdicional, porque lá tem pessoas formadas e entendidas na matéria que tem por fim aconselhar, e, no meu entender, estes indicaram a Ossufo Momade para tomar medidas desnecessárias, se calhar para no fim ridicularizar o próprio Momade. O órgão jurisdicional é órgão máximo que controla o funcionamento dos estatutos e de posições, são eles que podiam falar com o presidente, daí que eu responsabilizo estes e deviam ser destituídos”.
Ambrósio entende que se o Conselho Jurisdicional tivesse feito o seu papel antecipadamente, a imagem de Ossufo Momade e do partido não estariam denegridas.
Lamenta o facto de estar haver um “sentido de isolamento” dos membros da Renamo à escala nacional, pelo que deixa ficar alguns caminhos para a reconciliação interna por forma que a Renamo volte aos seus momentos.
“Os membros da Renamo devem se encontrar, o presidente Ossufo Momade não pode ter medo dos seus elementos para o bom porto do partido. Veja só que talvez se todos os membros, com destaque para aqueles que estão comprometidos com o sucesso, crescimento e boa imagem do partido, isso tudo que ocorre neste momento, talvez pudesse acabar. Ainda que algum membro tivesse um processo para o tribunal, talvez não seria preciso”, disse Ambrósio, sublinhando que, “chegado o processo em tribunal é uma clara exposição do partido de forma desnecessária.
Se não vejamos, quem são os juízes do tribunal, sem dúvidas são os membros da Frelimo [partido no poder no país]. É mau ver juízes que até desconfiamos de serem membros da Frelimo a julgar coisas que tem a ver com a Renamo. Nós, dentro do nosso partido, temos que ter mecanismos de como ultrapassar os nossos conflitos, isso é muito importante. Muitas vezes minimizamos os assuntos, alastram-se e tomam contornos como os que estamos a viver”.
Ambrósio baseou-se no posicionamento do Presidente da República, Filipe Nyusi, que no passado recente, tomou a iniciativa de se deslocar a Serra da Gorongosa [na província central de Sofala] para se encontrar com o falecido líder da Renamo Afonso Dhlakama em tempo de conflito armado, para a estabilidade e pacificação do país, como bom exemplo de reconciliação e que Ossufo Momade devia seguir caminhos iguais para se reconciliar com os demais quadros da Renamo, neste momento isolados da sua liderança.
“Acham que o Presidente da República na altura não tinha conselheiros, será que tudo que eles diziam era favorável aos encontros? Acredito que Filipe Nyusi ouvia e filtrava os conselhos dos seus assessores e tomava melhor posição para o bem dos moçambicanos. É aí que Ossufo Momade precisa seguir, no sentido de procurar pelos membros e sem esperar do comando dos conselheiros próximos a ele, grupo pequeno que até pode não dar boas ideias”.
Ele espera por uma Renamo melhor nos próximos momentos e à altura de entrar na corrida eleitoral este ano para amealhar bons resultados.
Ambrósio ficou conhecido aquando da sua eleição ao cargo de delegado político provincial da Renamo em Sofala em 2019, mas viria a não ocupar aquela posição por alegado mau entendimento com a liderança máxima do partido.
Mais tarde foi acusado de estar no grupo de cinco arguidos, considerado culpado do crime de conspiração contra a segurança de Estado, ao financiar a auto-proclamada Junta Militar da Renamo, que aterrorizava o centro do país.
Tratava-se de um grupo de dissidentes do maior partido da oposição que perpetrava ataques na região centro. Nessa altura, o Tribunal Judicial de Dondo [em Sofala] considerou que ficou provado o envolvimento dos cinco no apoio financeiro ao grupo e condenou-os a penas suspensas de cinco anos de prisão.
(AIM)
FF