Maputo, 06 Abr (AIM) – O Ruanda tenciona enviar mais tropas para a província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, para preencher o vácuo deixado pela saída da Missão Militar da SADC em Moçambique (SAMIM), cujo mandato expira em Julho próximo, revelou um comandante sénior das Forças de Defesa do Ruanda (RDF).
A logística deverá ser financiada por novas verbas da União Europeia.
Os ataques perpetrados por terroristas islâmicos já provocaram a morte de mais de quatro mil pessoas e levaram mais de um milhão a procurar refúgio em locais mais seguros.
O Ruanda possui actualmente um efectivo de cerca de 2.500 homens em Moçambique, disse aos jornalistas, em Kigali, o Brigadeiro-General Patrick Karuretwa, que dirige a cooperação internacional das Forças de Defesa do Ruanda, citado pelo portal sul-africano News24.
Os dois exércitos operavam em diferentes partes de Cabo Delgado e, no início, não partilhavam informações. Mais tarde, cooperaram em algumas operações.
Agora, o Ruanda está a preparar-se para agir sozinho.
A retirada das tropas da SADC “obriga-nos a tomar certas medidas”, disse Karuretwa.
“Vamos treinar soldados moçambicanos para ocuparem os lugares onde SAMIM estava destacado”, afirmou.
“Estamos também a aumentar as nossas tropas e a torná-las mais móveis para cobrir mais áreas”, acrescentou.
Karuretwa disse que a intervenção do Ruanda ajudou a restaurar uma calma relativa em Cabo Delgado. Entretanto, ainda persistem algumas bolsas de violência.
Em meados de 2023, a SADC afirmou ter atingido o seu objectivo de reduzir a capacidade da insurreição islâmica de desestabilizar Cabo Delgado.
Mas, pouco depois, começou uma nova vaga de ataques.
Alguns analistas receiam que os jihadistas possam recuperar uma posição sólida, o que poderia abrir caminho para o grupo terrorista Estado Islâmico, na África Austral.
A intervenção do Ruanda em Moçambique está fora do mandato das Nações Unidas, pois surge através de um acordo bilateral entre Maputo e Kigali.
No início desta semana, a União Europeia anunciou que vai desembolsar perto de 20 milhões de euros para ajudar a missão da RDF em Cabo Delgado.
Esta subvenção será concedida no âmbito do programa da UE para a promoção da paz mundial.
O Ruanda é um dos principais contribuintes do mundo para as missões de manutenção da paz. Actualmente, tem 2.100 soldados na República Centro-Africana (RCA) e mais de mil destacados nas forças da ONU.
Isto perfaz bem mais de 5.000 soldados destacados em outras regiões de África.
Karuretwa afirmou que a disponibilidade do Ruanda para contribuir com tropas para missões de manutenção da paz deve-se ao facto de ter experiência directa de como uma má manutenção da paz pode afectar um país.
Em 1994, as forças de manutenção da paz da ONU desiludiram o Ruanda quando se retiraram do país, não conseguindo assim evitar um genocídio.
Estimativas indicam que pelo menos 800 mil pessoas, na sua maioria Tutsis, morreram em consequência deste genocídio, embora o governo do Ruanda aponte para um número muito superior a um milhão.
(AIM)
News24/sg/dt