
Maputo, 14 Abr (AIM) – O secretário-geral da Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS), José Manel, disse hoje, em Maputo, que o reverendo e músico Arão Litsure deixa um grande legado na cultura e na religião onde mais se notabilizou durante a sua vida.
Arão Litsuri morreu na madrugada deste domingo (14), na vizinha África do Sul, onde se encontrava internado, vítima de doença.
Em vida foi músico, presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), pastor da Igreja Congregacional Unida de Moçambique (ICUM), presidente do Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e director nacional de Assuntos Religiosos no Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJACR).
José Manel aclara que Arão Litsuri morre num momento em que estava a ser preparada uma homenagem para ele.
“A par da religião e da música, podemos considerá-lo uma biblioteca. Para nós, é uma dor muito grande, uma perda, nós, os membros do grupo que ele fez parte para o grande projecto “10 anos depois”, tínhamos criando um grupo de Whatsapp para fazer uma homenagem ao Litsuri no ano passado”, lamentou Manel.
Acrescentou que, “falhou a homenagem no ano passado e até já estávamos a pensar em retomar o projecto para fazermos a homenagem este ano e infelizmente o infortúnio aconteceu”.
O músico Roberto Chitsondzo lamenta a morte e considera Litsuri um exemplo de vida a seguir.
“Perdemos uma pessoa que era para nós um espelho, era uma pessoa que no dia-a-dia conseguia trazer um pouco de esperança para aquilo que é a nossa música. […] e porque não dizer que era uma pessoa de Deus”, sublinhou Chitsondzo.
Já para o director nacional dos Assuntos Religiosos no MJACR, Saíde Abibo, o finado deixa um legado a ser seguido por todos na instituição.
“O director Arão Litsuri representa muito para a nossa família do Ministério da Justiça, em particular aqui na Direcção Nacional de Assuntos Religiosos, uma vez que ele foi o nosso director. Mais do que director, ele foi um pai, um professor. Com ele, aprendemos preciosas lições de vida que até hoje continuam a espelhar aquilo que é o nosso trabalho”, avançou.
Natural de Inhambane, Litsure cresceu em Maputo, onde passou a morar aos quatro anos de idade. A mãe era maestrina e o pai pastor.
O seu primeiro contacto com a guitarra foi, em 1964, no bairro de Chamanculo, em Maputo. Ao longo do tempo cantou e tocou outros instrumentos, incluindo o saxofone.
Na década de 1980, co-fundou o Alambique, em resultado, tal como afirmou “do nosso crescimento musical – eu e o Hortêncio Langa”.
Sobre essa fase, Litsure disse que “depois de um espectáculo na Jamaica, ficámos tão impressionados que dissemos que as nossas duas guitarras não eram suficientes. Era preciso ter mais elementos, e o grupo passou a contar com o baterista Celso Paco, o baixista Childo e o pianista Aderito Gomate”.
Ele contou que “o Alambique é um instrumento que serve para destilar algumas bebidas alcoólicas, o tho-tho-tho (aguardente), por exemplo. Mas, num sentido positivo, nós queriamos dizer que, ao colocar, nesse recipiente, substâncias diferentes – jazz, música africana e moçambicana – sai um produto original. Também escolhemos o nome Alambique porque rima com Moçambique e nas viagens era bom para idenficar o nosso país”.
Além do Alambique, Litsure fez um percurso a solo, e no seu disco, “10 anos depois”, incluiu as populares canções Malangavi, Nhina dzame e Vukani vanhu va Jehova.
Além de músico, Litsure era escritor, e publicou o livro Há Negros na Bíblia.
Formou-se em teologia no Zimbabwe.
(AIM)
Fernanda da Gama (FG)/ff