
Navio de transporte de escravos de África para as Américas
Lisboa, 28 Abr (AIM)- O Governo da Aliança Democrática (PSD, CDS-PP e Partido Português Monárquico), chefiado por Luís Montenegro, respondeu este fim de semana ao chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a reparação histórica às antigas colónias, dizendo que “não está em causa nenhum processo”.
“Não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de acções específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português, diz o Governo minoritário da AD, em comunicado divulgado este sábado pela Presidência do Conselho de Ministros.
No comunicado, o Governo defende que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.
“A propósito da questão da reparação a esses Estados e aos seus povos pelo passado colonial do Estado português, importa sublinhar que o Governo actual se pauta pela mesma linha dos Governos anteriores. Não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de acções específicas com esse propósito”, acrescenta o comunicado, citado pelo canal de Televisão SIC Notícias.
De acordo com executivo, “o Estado português, através dos seus órgãos de soberania – designadamente, do Presidente da República e do Governo -, tem tido gestos e programas de cooperação de reconhecimento da verdade histórica com isenção e imparcialidade”
A reacção do Governo chefiado por Luís Montenegro surge depois de o Presidente da República ter insistido este sábado que Portugal deve avançar com a reparação histórica às antigas colónias. Marcelo Rebelo de Sousa esteve na inauguração do Museu Nacional da Resistência e Liberdade, em Peniche, no distrito de Leiria.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o Governo português deve avançar com a reparação histórica às antigas colónias, considerando que o país deve assumir um processo que não pode ficar “debaixo do tapete”.
O chefe de Estado defende que não basta pedir desculpas pelos aspectos negativos do colonialismo.
O presidente da República sublinhou que não basta pedir desculpa pelas acções de Portugal durante o período de colonialismo.
Para o Presidente, é preciso retirar consequências e encontrar formas de reparação às antigas colónias.
Marcelo Rebelo de Sousa afirma que Portugal deve liderar este processo e não deve ignorar o assunto nem varrê-lo para debaixo do tapete.
À margem da inauguração do Museu, em Leiria, Marcelo Rebelo de Sousa foi instado a esclarecer declarações feitas na terça-feira, durante um jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, no qual afirmou que Portugal deve “assumir a responsabilidade total” pelo que fez no período colonial e “pagar os custos” e que mereceram críticas dos partidos de direita e da extrema-direita, nomeadamente o Chega, Iniciativa Liberal e CDS-PP.
CHEGA DIZ QUE MARCELO TRAIU OS PORTUGUESES
O presidente do Chega, André Ventura, acusou o Presidente da República de trair os portugueses ao defender o pagamento de reparações por crimes da era colonial, considerando que Marcelo Rebelo de Sousa devia “amar a História” de Portugal.
“O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indemnizar outros países pela História que temos connosco”, criticou André Ventura no discurso que proferiu na sessão solene que assinalou os 50 anos do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República, o Parlamento.
O líder do Chega disse que Marcelo Rebelo de Sousa “tem de respeitar” os portugueses “antes de tudo”, porque foi “eleito pelos portugueses, não foi pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses”.
“Pagar o quê? Pagar a quem? Se nós levámos mundos ao mundo inteiro. Se hoje em todo o mundo se elogia a pátria e o mundo da língua portuguesa”, acrescentou.
Também falando na mesma sessão solene, Paulo Núncio , líder parlamentar do CDS-PP, criticou o Presidente da República.
“No CDS não sentimos necessidade de revisitar heranças coloniais, não queremos controversas históricas, nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono”, afirmou Paulo Núncio.
O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha considera que o Presidente da República “tem tido uma semana penosa” e que é descabida a reparação pelo passado colonial, defendendo que o Governo reagiu “no sentido certo” e que o bom senso prevalecerá.
(AIM)
DM