
Magude (Moçambique), 12 Mai (AIM) – A “postergada” circunscrição de Mahel, localizada nas zonas remotas do distrito de Magude, província de Maputo, sul de Moçambique, abandonou literalmente a escuridão a que estava sujeita, desde que existe como divisão territorial (posto administrativo).
Mahel figurava como parente mais pobre de entre os seus vizinhos, nomeadamente Mapulanguene, Panjane e Motaze pois estes já beneficiavam de energia eléctrica.
Mas, como não há mal que dure para sempre, a humilde e modesta comunidade de Mahel rompeu com o apagão do passado e abraçou a luz como condição “sin qua non” para sua inserção na rota de desenvolvimento.
A AIM dialogou com Fenando Ubisse, 66 anos de idade. Ele pertence a quarta geração da sua família que se dedica a pastorícia e prática de agricultura de sequeiro para a subsistência, numa região ciclicamente assolada por secas extremas nos últimos anos, agudizadas pelo fenómeno ElNino que afecta parte considerável da região norte da província de Maputo, desde 2016 a esta parte, como resultado das mudanças climáticas.
A reportagem da AIM encontrou Ubisse na sombra da sua residência sentado no tronco de um estrondoso canhoeiro, espécie de planta abundante em Magude, a escassos metros da vila sede do posto administrativo, escutando noticiário de uma das rádios e cuidando do seu negócio de minimercearia.
Ubisse, que havia deixado Mahel quando jovem à procura de melhores condições na capital do país, Maputo, dada a falta de oportunidades na sua terra natal, hoje regressou à sua comunidade para desenvolver actividades económicas e fixar-se para sempre.
Em conversa com a AIM, a fonte afiançou que Mahel mudou da noite para o dia. De um lugar onde os seus fundadores morreram sem ver a luz eléctrica, um lugar onde os jovens não tinham esperança nem alternativa para além da pastorícia e corte de lenha, um lugar sem acesso à informação como direito fundamental, para, actualmente, um lugar de oportunidades para realização de sonhos individuais e colectivos.
“Hoje bebo água gelada, escuto rádio e vejo televisão. Tenho mercearia onde vendo produtos frescos. A minha esposa faz gelinhos e vende na escola primária. Eu voltei para Mahel porque já tem energia e energia de qualidade. Aqui não há cortes mesmo nos dias de vento e chuva”, assegurou Fernando Ubisse.
Ubisse é apenas um exemplo de vários naturais regressados à Mahel, fora outros cidadãos que simplesmente escolheram o lugar para viver e realizar seus negócios.
A nova dinâmica de Mahel está a ser espevitada pelo Fundo Nacional de Energia (FUNAE) com a colocação da central fotovoltaica, levando energia para aquela região rural e encerrando o ciclo de electrificação dos postos administrativos na província de Maputo, de um total de 26, dos quais 23 pela Electricidade de Moçambique (EDM), através da rede pública, e três pelo FUNAE, através do sistema “off grid”.
Para continuar a melhorar a cobertura e fornecimento de energia nas zonas recônditas, o FUNAE está a investir na construção de 19 mini-redes, de geração de electricidade com capacidade que varia entre 100 e 200MW, projecto que deverá beneficiar cerca de sete mil famílias, e que está enquadrado no programa nacional de acesso universal à energia até 2030.
Na última década, o FUNAE investiu cerca de seis mil milhões de meticais (um dólar norte- americano equivale a cerca de 64 meticais) em projectos de energia fora da rede, num país onde a população rural continua maioritariamente sem aceder à electricidade, apesar dos esforços do governo que permitiram levar energia para 51 por cento da população moçambicana.
No âmbito da iniciativa do governo de alcançar o acesso universal à energia eléctrica até 2030, estão em curso vários projectos de electrificação em todo o país.
Um dos projectos em curso, desde o ano de 2020, é o de electrificação de 135 sedes dos Postos Administrativos, sendo 94 através da Rede Eléctrica Nacional (EDM) e 41 através de sistemas isolados (FUNAE), cujas obras devem terminar nos finais do presente ano de 2024.
Dos 94 postos administrativos, a EDM concluiu a electrificação de 50, tendo sido sete em 2020, 19 em 2021, 11 em 2022 e 11 em 2023.
Por outro lado, foram ligados 12 postos administrativos com base em sistemas isolados, sob responsabilidade do FUNAE.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, que dirigiu a cerimónia de inauguração da Central Fotovoltaica de Mahel, semana finda, exortou a população para cuidar do empreendimento evitando a vandalização da central que está a ajudar a comunidade local, através da criação de uma nova dinâmica social e económica.
A central tem capacidade de produção de 100 kWp, com uma extensão de rede de baixa tensão de 12 quilómetros, financiado totalmente pelo Estado no valor de 77 milhões de meticais.
O sistema tem 132 ligações feitas entre edifícios administrativos, escolas, centros de saúde, posto policial, estabelecimentos comerciais, furos de água e residências, e 109 candeeiros de iluminação pública.
(AIM)
Paulino Checo (PC)/mz