Lisboa, 15 Mai (AIM)- O Governo russo reagiu esta quarta-feira acusando o Estado português de ser “hostil” e de agir contra “os interesses do próprio povo”, um dia depois do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter cancelado a visita programada para Portugal e Espanha para o final desta semana, alegadamente devido à “grave situação interna na Ucrânia”,
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, criticou a “posição hostil” de Portugal contra Moscovo por causa da invasão da Ucrânia (na narrativa do ocidente) e “operação militar especial” (na visão da Rússia).
“Lamentavelmente, as relações luso-russas vivem a crise mais profunda de toda a sua história”, afirmou Maria Zakharova, citada pela imprensa lisboeta (televisões, rádios, jornais e outros).
“A guerra híbrida desencadeada pelo Ocidente global contra a Rússia influenciou destrutivamente todo o complexo de relações da Rússia com Portugal. E porquê? Pela posição hostil assumida por Portugal desde o início da operação especial militar. Lisboa enquadrou-se desde logo na política e retórica antirrussa”, afirmou a representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, em resposta a uma questão da agência Lusa colocada por videoconferência.
A directora do Departamento de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros indicou que “foi a parte portuguesa que congelou todos os contactos políticos e reduziu as relações económicas a trocas comerciais muito limitadas”.
“Por decisão da Assembleia da República de Portugal (o Parlamento), foi dissolvido o grupo parlamentar de amizade luso-russo. Foi também posto termo à colaboração inter-regional. A 20 de Janeiro deste ano, a Assembleia Municipal de Lisboa votou o fim do protocolo sobre amizade e colaboração com Moscovo, que vigorava desde 1997”, apontou ainda a fonte.
Zakharova acrescentou que em Portugal está “em curso uma campanha antirrussa alimentada a nível oficial”, com as autoridades portuguesas a reduzirem “ao mínimo os contactos com a Embaixada da Rússia em Lisboa”. “Ao nosso embaixador foi-lhe praticamente imposto, tanto pelas autoridades portuguesas como pelas suas congéneres estrangeiras, um regime de isolamento”, criticou.
“Não se percebe muito bem para que serve isto, já que existem questões que podem e devem ser resolvidas em conjunto, o que é dificultado por posições ilegítimas e russofóbicas – não sei se de Lisboa ou impostas de fora, por exemplo pela NATO, a União Europeia (UE), Estados Unidos ou pelo próprio ‘lobby’ antirrusso que opera em Portugal”, acusou a porta-voz.
Nas mesmas declarações, Maria Zakharova salientou que o “desmoronamento das relações” diplomáticas entre Lisboa e Moscovo não é escolha da Rússia e “não corresponde, de maneira alguma, aos interesses do povo português”, fazendo votos para que “mais cedo ou mais tarde Portugal recupere a análise racional dos factos que ocorrem no mundo moderno”.
A Rússia continua “aberta à construção de boas relações com os parceiros estrangeiros”, incluindo os que chama de “regimes não-amigáveis”, declarou Maria Zakharova.
Cancelamento da visita de Zelensky justificada pela “situação interna”
Face ao agravamento da “situação na Ucrânia”, Zelensky cancelou toda agenda que incluía passagens pela Bélgica, Portugal e Espanha, segundo fonte governamental portuguesa.
A visita do presidente ucraniano à Portugal foi anunciada esta segunda-feira por fonte do governo português que, entretanto, não especificou a data, alegadamente por “razões de segurança”
No último domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, conversou por telefone com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, para reiterar o “apoio incondicional de Portugal” a Kiev.
Em comunicado, o MNE diz que Paulo Rangel “reiterou o apoio incondicional de Portugal à Ucrânia, em todas as suas dimensões, com particular enfoque no processo de adesão à UE (União Europeia)”. “O povo ucraniano pode sempre contar com Portugal”, segundo Rangel.
Portugal, no âmbito do programa europeu de apoio à Ucrânia, já contribuiu com 100 milhões de euros.
O plano é uma iniciativa da República Checa e é considerado uma resposta ao projecto da UE de fornecer um milhão de munições de artilharia à Ucrânia, numa altura em que Zelensky já deu conta da forte necessidade de munições das forças ucranianas.
Desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, a UE e a NATO impuseram, de forma unilateral, sanções maciças e sem precedentes contra a Rússia.
Estas sanções vieram complementar as medidas já impostas à Rússia desde 2014, na sequência da anexação da Crimeia e da não aplicação dos acordos de Minsk.
As sanções incluem medidas restritivas específicas (sanções individuais), sanções económicas e financeiras, medidas diplomáticas e medidas em matéria de vistos.
O objectivo das sanções económicas, segundo os implementadores, é provocar na Rússia consequências graves.
(AIM)
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