
Maputo, 17 Mai (AIM) – Jovens estudantes do ensino superior na cidade de Maputo, a capital moçambicana, recorrerem às praças digitais, mecanismo criado para prover internet gratuita nos espaços públicos através da rede wi-fi, e bibliotecas como solução para minimizar os gastos com a internet.
Numa altura em que se registou um reajuste das tarifas do serviço de dados, no país, o denominador comum entre os estudantes, parte da camada social que mais demanda os serviços de internet, é encontrar um ponto de equilíbrio entre “ não gastar muito”, mas também manter-se conectado.
Para tal, as cerca de três praças digitais recém-inauguradas ao nível da cidade de Maputo e equipadas com tecnologia 5G da Vodacom são vistas como “balão de oxigénio”, principalmente por aqueles jovens que estudam ou residem nas proximidades, pois oferecem conexão gratuita à internet através da rede wi-fi.
A biblioteca Brazão Mazula, localizada no recinto da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), é também um dos pontos de eleição para jovens estudantes não só daquela instituição, mas também de outras instituições de ensino médio e superior.
“Sempre procuro um sítio com wi-fI. Como sabe hoje em dia já não é confortável estar a navegar usando dados. A internet está muito cara”, contou à AIM, Rogeiro Munguambe, em plena Praça da Juventude, próximo da sua residência, arredores da cidade de Maputo.
“Se não existisse esta praça com wi-fi não sei como me salvaria nos trabalhos da escola, porque preciso de internet para praticamente tudo que envolve assuntos da faculdade”, afirmou Munguambe, estudante do curso de Gestão na UEM.
No Jardim Tunduru, na baixa da cidade de Maputo, onde opera uma das praças digitais, a AIM encontrou Arnaldo Chavana, também estudante do ensino superior, a fazer um trabalho de pesquisa usando a rede wi-fi.
A fonte disse, porém, que apesar de recorrer a estas praças para efectuar as suas pesquisas, a qualidade de Internet deixa a desejar, uma vez que o sinal cai a qualquer momento.
“Estou a fazer um trabalho de investigação e com a Internet neste estado não ajuda”, disse o jovem, acrescentando que por conta das novas tarifas de Internet, no país, foi obrigado a reduzir o seu tempo de navegação sempre que recorre à internet própria.
As praças, contudo, não beneficiam apenas estudantes, mas também empreendedores digitais com pequenos e médios negócios que, para além de precisar da internet para expor os seus produtos, usam-na para participar em reuniões virtuais, uma prática que acarreta o uso de dados.
“O custo da Internet é um cenário que, de facto, nos afecta negativamente como empreendedores, e olha que muitos de nós [pequenos e médios negócios] ainda estamos a estudar além de empreender. Então, às vezes, o gasto com a internet acaba sendo maior em relação ao que ganhamos”, desabafou Rita Muchinga, empreendedora que actua no mercado digital.
Conta que, nas anteriores tarifas, podia gastar, em média mensal, cerca de mil a 1.500 meticais (um dólar está para cerca de 64 meticais), mas volvidas quase duas semanas após o reajuste das tarifas, já gastou mais de mil meticais.
“Se estar ligado à internet fosse facultativo, até poderíamos, se calhar, entender, mas essa subida está a acontecer numa era em que tudo acontece nas redes sociais e nós precisamos estar atentos a tudo”, disse Eulalia Américo, antes de deplorar, também, a qualidade da internet oferecida nas praças digitais.
Ela trabalha com vendas “online”, negócio que, segundo conta, é dinamizado através das redes sociais. “Mas como sobreviver assim, se mesmo esse wi-fi a que recorremos não é de qualidade. Com muita facilidade o sinal perde-se”, disse, lamentando.
Afirmou que pior situação estão aqueles jovens que vivem em locais sem praças digitais. “Imagina aqueles jovens que vivem numa zona em que não têm acesso a uma praça digital ou, pelo menos, uma biblioteca que tem internet grátis?”, questionou.
O reajuste dos preços da internet em Moçambique acontece numa altura em que estar conectado a uma rede de internet é condição “sine qua non” para um processo de ensino e aprendizagem de qualidade e competitivo, no caso de estudantes, e para expansão de negócios para o caso de jovens empreendedores.
Várias organizações da sociedade civil têm estado a manifestar repúdio à introdução de novas tarifas de internet, um reajuste com efeitos a partir de 04 do mês em curso por decisão do Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), entidade reguladora das comunicações no país.
Aliás, estão agendadas para este sábado, 18 de Maio, marchas, à escala nacional, organizadas por jovens e algumas organizações da sociedade civil como forma de repudiar a insustentabilidade das novas tarifas que excluíram, por exemplo, ofertas como o serviço “ilimitado” de dados e voz.
Junto do INCM já decorrem encontros com os diversos actores interessados no processo e a instituição reguladora já pondera introduzir um pacote especial para estudantes.
Esta sexta-feira, 17 de Maio, o mundo celebra o Dia Mundial da Internet, um sistema global de rede de computadores que, actualmente, é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um direito humano e, por isso, os governos são exortados a outorgarem esse direito às populações.
(AIM)
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