
Kigali, 18 Mai (AIM) – As grandes petrolíferas mundiais que controlam a indústria de petróleo e gás defendem que a transição de energias fósseis para limpas deve ser gradual numa altura em que a demanda energética aumentou exponencialmente em linha com o aumento da população mundial e suas necessidades.
No entanto, reconhecem que a descarbonização com base em energias verdes deverá continuar na agenda das discussões actuais e os investimentos deverão ser triplicados nesse sentido, avisando que a transição deve ser feita da melhor forma sob o risco de causar uma crise energética e aumento de custos.
No entanto, garantem que a extração do gás em África vai conhecer uma transformação radical, com muitos dos novos campos de pré-produção propostos em países que, historicamente, não têm uma tradição de exploração de combustíveis fósseis, uma tendência que contraria o consenso científico global que pede a suspensão da construção de novas infraestruturas de combustíveis fósseis.
Essa visão foi partilhada hoje (18) em Kigali, Ruanda, pelos CEO’s da TotalEnegies, Patrick Pouyané, e Aliko Dangote, empresário nigeriano dono do Dangote Group, dois gigantes mundiais que participaram de um painel sobre os investimentos na indústria petroquímica em África.
O debate contou com a presença dos presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, do Ruanda, Paul Kagame, e do Quénia, William Ruto.
A posição das petrolíferas está em linha com os interesses de Moçambique que nos últimos anos tem descoberto reservas de gás nas bacias do Rovuma, província nortenha de Cabo Delgado, e nos campos de Pande e Temane, província de Inhambane, sul do país, recursos que a sua exploração é cruciar para financiar o desenvolvimento socio-económico.
Na sua intervenção, o CEO da TotalEnergies disse ter falado, recentemente, para o parlamento francês dando uma visão geral sobre a realidade energética mundial, apontando a necessidade de continuar-se a fazer investimentos na produção do petróleo e do gás, e preparando uma transição gradual para energias verdes.
“Provei que se não forem feitos investimentos em campos petrolíferos a produção poderá baixar, daí que não é possível parar de um dia para o outro. A TotalEnergies vai continuar a investir sério, sobretudo em África onde há um potencial energético assinalável e para permitir alavancar as economias locais”, vincou.
“Se não investirmos nos campos petrolíferos, a produção vai cair cerca de 40 por cento numa altura em que a população mundial cresceu em 30 por cento e junto vem o aumento da demanda energética”, referiu.
“No parlamento perguntaram-me se o planeta ainda precisa de gás e eu disse que sim”, assegurou o CEO da TotalEnergies Patrick Pouyané.
No mesmo painel, a TotalEnegies, reafirmou que está em vias de retorno à Cabo Delgado, para a materialização do projecto Mozambique LNG com a melhoria das condições de segurança nos últimos tempos, mas lamenta o facto dos investimentos feitos pela TotalEnergies no continente estarem a ser constantemente inviabilizados pelas guerras e outros factores fora do seu controlo.
“Sobre Moçambique, já falei que estamos em negociações com todas as agências de crédito interessadas na restruturação dos acordos de financiamento para podermos retomar. Mas friso que a questão de segurança é fundamental para as nossas operações”, disse o timoneiro da petrolífera francesa.
Dados recentes da Global Energy Monitor (GEM) que indicam que ocorrem 421 novos projectos de extração no continente, com 79 campos em fase de pré-produção e desse número 84 por cento das novas reservas em fase de pré-produção estão localizadas em novos intervenientes no mercado de gás de África, nomeadamente, Moçambique, Senegal, Tanzânia, Mauritânia, África do Sul, Etiópia e Marrocos.
As novas reservas totalizam mais de 5.137,5 mil milhões de metros cúbicos, com emissões potenciais equivalentes a cerca de 11,9 mil milhões de toneladas de CO2, pelo que a produção de muitos destes campos enfrenta oposição devido aos potenciais impactos nos ecossistemas e comunidades locais.
Espera-se que estes países impulsionem os volumes de desenvolvimento a curto prazo que, com Moçambique, Mauritânia, Tanzânia, África do Sul e Etiópia a representarem mais de metade da produção de gás de África até 2038, e se os planos industriais para esta onda de novos projectos de campos de extração de gás forem cumpridos, a produção de gás de África aumentará em um terço até 2030.
(AIM)
PC/mz