Por Elias Samo Gudo, da AIM
Maputo, 10 Jun (AIM) – A I Cimeira Coreia-África, que juntou pela primeira vez na sua história 25 Chefes de Estado e de Governo na capital coreana Seul, na última terça-feira (04), promete revolucionar o futuro das relações entre as partes e catapultar o desenvolvimento do continente.
O evento teve como lema “O Futuro Construímos Juntos: Crescimento Económico, Sustentabilidade e Solidariedade”, e Moçambique fez-se representar por uma delegação chefiada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.
O lema da Cimeira parece ter sido inspirado no provérbio africano que diz “Se quer ir rápido, vá sozinho. Mas se quer ir longe, vá em grupo”.
Assim, a Cimeira é um sinal inequívoco de que as partes apostam numa caminhada em grupo para percorrer longas distâncias.
Com um PIB nominal calculado em 1,67 biliões de dólares em 2022, de acordo com dados do Banco Central divulgados recentemente, a Coreia ocupa a 13ª posição no ranking das maiores economias do mundo.
Novo Paradigma de Cooperação
É inegável que a maioria dos países africanos, incluindo Moçambique, está a embarcar num novo paradigma no seu relacionamento com as nações mais desenvolvidas.
O novo paradigma, explica Nyusi, “consiste na aceitação de que temos que ser solidários, mas também fazer uma construção (de uma parceria) sustentável e não simplesmente baseada numa relação de doadores e receptores”.
Aliás, os países africanos não foram à Cimeira de mão estendida. Foram sim expor as suas ideias e discutir as oportunidades que cada parte oferece.
O continente africano procura desesperadamente livrar-se da sua dependência da exportação de produtos não processados e, por seu turno, a Coreia está à procura de matérias para alimentar a sua indústria.
Por outras palavras, África está à procura de adicionar valor aos seus produtos de exportação pois, só assim, poderá resolver o problema que a sua população jovem enfrenta, tais como elevados índices de desemprego.
No caso particular de Moçambique, Nyusi aponta as oportunidades existentes nos sectores da agricultura, indústria transformadora, mineração, energia, turismo, sector de serviços como logística, banca, seguros, tecnologia digital, bem como informação e comunicações, energias renováveis, entre outros.
Coreia concede um bilião USD para projectos de desenvolvimento em Moçambique
A margem da cimeira, Moçambique e a Coreia assinaram um memorando de entendimento ao abrigo do qual esta nação do continente asiático compromete-se a desembolsar mil milhões de dólares para financiar projectos de desenvolvimento no país.
O Chefe de Estado anunciou o facto em conferência de imprensa com os jornalistas moçambicanos que cobriram a sua participação na I Cimeira Coreia-África.
“Moçambique, através do Ministério da Economia e Finanças, celebrou um memorando para a Coreia financiar um bilião de dólares americanos”, disse Nyusi.
Advertiu, porém, que urge desenhar projectos bem claros, concretos e prioritários.
Explicou que muitas vezes um determinado projecto até pode ser importante, mas não prioritário.
Questionado se o valor a desembolsar pela Coreia seria na forma de donativo, Nyusi respondeu negativamente, pois se trata de um valor muito elevado.
O valor é para ser reembolsado a médio prazo, mas em condições favoráveis”, disse o estadista moçambicano.
Coreia Quarto Maior Parceiro Comercial de Moçambique
Em termos de cooperação económica, a Coreia começa a assumir como um destino importante para as exportações de Moçambique, que registam uma variação positiva de 396 por cento no período compreendido entre 2018-2023. No mesmo período, o valor global de exportações foi de 1.473,7 mil milhões de dólares.
Mais importante é o facto de a Coreia do Sul figurar na quarta posição na lista dos parceiros comerciais e de seis por cento na ordem das exportações, segundo dados oficiais das autoridades moçambicanas.
Hoje, a Coreia é considerada um milagre económico mundial por ser uma das grandes histórias de superação e rápida ascensão. O país conseguiu mudar a vida de sua população, saindo da linha de um país subdesenvolvido para hoje ocupar a 13ª posição no ranking das maiores economias do mundo.
É precisamente esta história de sucesso, que valeu à Coreia ser chamada “O milagre do Rio Han”, que os africanos, incluindo Moçambique, gostariam de partilhar.
Refira-se que África é considerado o continente do futuro, pois conta com uma população muito jovem, 60 por cento da qual com idade inferior a 25 anos.
O volume das trocas comerciais entre a Coreia e África cresceu 23 vezes, ou seja, de 890 milhões de dólares em 1988 para cerca de 20,45 biliões de dólares em 2022.
Já o volume de investimento anual entre a Coreia e África subiu de 63 milhões de dólares em 1988 para cerca de 700 milhões de dólares em 2019. No fim de 2022 o investimento acumulado era de 9,2 biliões de dólares.
Cooperação Empresarial Inicia Nova Era
A cooperação empresarial entre Moçambique também poderá conhecer um novo ímpeto com a assinatura de um memorando de entendimento entre a Câmara de Comércio de Moçambique (CMM) e a sua congénere coreana KITA.
Criada em 1946, e com mais de 73 mil membros, a KITA é actualmente a maior organização empresarial da Coreia.
Assinaram o memorando o Presidente da CCM, Álvaro Massingue, e o seu homólogo da KITA, Jin Sik Yoon.
Num breve contacto estabelecido com a imprensa, Massingue afirmou que com este acto significa que “as nossas empresas passarão a ter espaço para colocarem os seus produtos, estabelecer parcerias para desenvolver os seus negócios e mobilizar novas parcerias para investimentos”.
Referiu que Moçambique quer aprender dos empresários da Coreia rumo ao desenvolvimento, bem como expor as oportunidades que Moçambique oferece nas diferentes áreas, tais como comércio, comércio, indústria têxtil, bem as oportunidades existentes, incluído no sector de petróleo e gás natural.
Sobre a visita que a missão da CCM efectuou à fábrica de viaturas KIA, Massingue explicou que a mesma tinha por objectivo mobilizar a empresa a regressar ao mercado moçambicano.
“Estamos já a namorar novamente a KIA para entrar em Moçambique, mas, desta vez, não só para comercializar veículos, a ideia é instalar uma unidade fabril no país”, disse Massingue.
Portanto, esse é o objectivo. Já começaram as negociações, e o futuro dirá.
Massingue também conferiu posse ao novo delegado da Câmara do Comércio de Moçambique na Coreia, elevando o número para 25 no mundo inteiro.
“O delegado vai servir de elo de ligação entre empresários coreanos que queiram vir fazer negócios em Moçambique e também entre empresários moçambicanos que queiram fazer negócios aqui na Coreia. Portanto, será o elo de facilitação da comunicação entre os empresários dos dois países”, disse Massingue.
Nyusi faz Balanço Positivo
Fazendo um balanço da participação de Moçambique na cimeira, o Chefe de Estado disse que “foi um encontro amistoso, muito, muito produtivo, tranquilo, não sentimos nenhum aproveitamento político, como se podia pensar que um bloco quer nos puxar para ali”, disse.
“Os africanos têm a clareza daquilo que pretendem. Por isso, quando uma potência nos convida para discutirmos assuntos económicos, não olhamos para ideologias, pois a gente vai mais para aquilo que são interesses dos nossos países”, vincou Nyusi.
(AIM)
Sg/dt