
Administrador do Parque Nacional de Maputo, Miguel Gonçalves (direita)
Maputo, 05 Out (AIM) – O Parque Nacional de Maputo consolida-se como um exemplo de sucesso na conservação da fauna bravia em Moçambique, ao alcançar um ecossistema funcional capaz de sustentar e doar animais para repovoar outras áreas protegidas do país.
Numa operação histórica, o parque ofereceu 400 animais de diversas espécies ao Parque Nacional de Banhine, reforçando o seu papel como referência nacional em recuperação ambiental e turismo sustentável.
A translocação foi conduzida pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), em parceria com a Peace Parks Foundation e apoio da ComON Foundation e da German Postcode Lottery. A operação também marca o início de uma nova fase da cooperação entre as áreas de conservação de Moçambique, onde o sucesso de uma serve de alicerce para a restauração da outras.
“Este é o resultado de muitos anos de trabalho e dedicação de toda a equipa do Parque Nacional de Maputo. Até 2010 praticamente não tínhamos fauna no parque. Hoje, contamos com uma população de animais sustentável e podemos contribuir para repovoar Banhine”, afirmou o administrador do parque, Miguel Gonçalves, em entrevista à AIM.
Estatísticas indicam que, desde 2010, mais de 5.388 animais de 16 espécies foram reintroduzidos no Parque Nacional de Maputo, e os censos aéreos mais recentes apontam para mais de 13 mil animais, o que representa o limite da capacidade ecológica e o fortalecimento da população de predadores como leopardos e hienas. “É um orgulho enorme ver o parque, que há pouco mais de uma década estava vazio, agora a ajudar outros a renascer”, reiterou Gonçalves.
O administrador explicou que as espécies translocadas a Banhine foram seleccionadas com base em estudos sobre a capacidade de carga e as condições ambientais daquele parque. “Nem todas as espécies se adaptam a qualquer ecossistema. Foi feita uma avaliação técnica para garantir o sucesso da reintrodução”, acrescentou.
Apesar do sucesso, Gonçalves alertou para novos desafios: “Temos de gerir o possível excesso de fauna, sobretudo elefantes, que já provocam conflitos com as comunidades vizinhas. O equilíbrio ecológico é uma tarefa permanente.”
O Parque Nacional de Maputo, que recentemente foi inscrito como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, é hoje uma das áreas de conservação mais dinâmicas do país. A nomeação reforça a importância global da região, onde florestas, zonas húmidas e praias coexistem num dos ecossistemas mais diversificados de Moçambique.
“Ser Património Mundial é uma honra, mas também uma responsabilidade. O nosso compromisso é garantir que a integridade do parque se mantenha intacta”, sublinhou o administrador.
Com uma área que se estende até à fronteira com a África do Sul e o Reino de Eswatini, o Parque Nacional de Maputo faz parte da Área de Conservação Transfronteiriça do Lubombo e é cada vez mais um pólo de atracção turística.
Segundo Gonçalves, o parque tem registado um crescimento anual de 20 por cento no número de visitantes, mesmo em anos economicamente desafiantes. “Estamos a investir em infra-estruturas e em novos produtos turísticos. O turismo é essencial para a sustentabilidade do parque e para o desenvolvimento das comunidades locais”, afirmou.
Além da componente ecológica, o parque gera oportunidades económicas através do turismo de natureza, beneficiando as comunidades vizinhas com 20 de receitas das actividades turísticas.
“O Parque Nacional de Maputo é hoje um símbolo de esperança. Mostra que a conservação dá frutos, não só para a natureza, mas também para as pessoas”, concluiu Gonçalves.
(AIM)
Paulino Checo/sg