
Nampula (Moçambique), 27 Ago (AIM) – A desnutrição custa a Moçambique, perto de 62 mil milhões de meticais (um dólar vale pouco mais de 63 meticais) o que significa quase onze por cento do seu produto interno bruto (PIB) anual.
A mortalidade, associada à desnutrição crónica, reduziu a força de trabalho do país em 10 por cento, responsável também por 18,8 por cento de todas as reprovações escolares por causa do défice de crescimento.
Em Moçambique, 45,2 por cento das crianças que sofrem de desnutrição não estão a receber atenção adequada ao seu estado de saúde.
Estas e outras informações em torno da situação foram partilhadas, nesta quarta-feira, na cidade de Nampula, capital da província do mesmo nome, no norte do país, durante a apresentação dos resultados do rastreio da despesa pública e auditoria social no sector da nutrição, elaborado pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
O relatório resulta de pesquisa feita nos distritos de Eráti, Meconta e Monapo em Junho deste ano.
Segundo Estrela Charles, do FDC, que apresentou o relatório, os dados revelaram que entre 2020 e 2024 a percentagem do orçamento de funcionamento distrital, efetivamente canalizada para intervenções directas de nutrição, manteve-se muito baixa, variando entre 0,04 e 0,11 por cento, muito abaixo das recomendações de instituições internacionais como o Banco Mundial, que sugerem a alocação, mínimo anual, de 10 dólares por criança menor de cinco anos.
O mesmo estudo ressalta que Moçambique é um país jovem, com mais de 16 milhões de crianças, correspondente a 52 por cento da população total.
Acrescenta-se que os dados revelam que 37 por cento de crianças moçambicanas sofrem de desnutrição crónica, enquanto quatro por cento da sua forma aguda.
Nas conclusões deste estudo, refere-se que em Moçambique, nos últimos 22 anos, não houve avanço significativo no combate à desnutrição.
A situação de desnutrição crónica em Moçambique é mais acentuada nas províncias de Nampula e Cabo Delgado, com níveis superiores a 40 por cento e, no sentido inverso, estão Gaza e Maputo com níveis significativamente mais baixos, em torno de 20 por cento.
Entretanto, a autora deste estudo anota que, no recente PQG 2025-2029, verifica-se um avanço relevante ao incluir metas explícitas no domínio da nutrição.”Este documento define como objectivos: reduzir a taxa de desnutrição aguda com menos de cinco anos de quatro por cento, (base 2024), para dois por cento em 2029 e reduzir a taxa de desnutrição crónica de 37 por cento para 30 por cento no mesmo período”.
A pesquisadora acrescenta que “esta evolução demonstra uma crescente atenção política ao tema, mas também sublinha que durante o ciclo anterior, 2020-2024, o combate à desnutrição não teve a devida visibilidade nem priorização nos principais instrumentos de planificação estratégica nacional”.
O estudo foi apresentado numa sessão onde marcaram presença, governantes, membros da Assembleia Provincial, parceiros e sociedade civil.
(AIM)
Rosa Inguane/dt