
Embaixador italiano acreditado em Moçambique, Gianni Bardini, fala em entrevista a AIM. Foto Ferhat Momade
Maputo, 11 Ago (AIM) – O Embaixador italiano acreditado em Moçambique, Gianni Bardini, assegura que o terrorismo que assola a província nortenha de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, não afecta as operações da petroquímica italiana, ENI, que opera o projecto Coral Sul FNLG, mas reconhece que a situação impacta negativamente outros empreendimentos.
Garante que o Projecto Coral Sul FLNG, implementado pelas concessionárias da Área 4 da Bacia do Rovuma, está fora da rota do terrorismo porque dista mais de 50 quilómetros da costa.
Contudo, o mesmo já não acontece com a empresa Saipem que está envolvida no projecto da TotalEnergies interrompido por questões de segurança, explicou Bardini numa entrevista concedida à AIM, em Maputo, capital moçambicana.
A Saipem é empresa italiana responsável pela engenharia do projecto Mozambique LNG e fechou um acordo de sete bilhões de dólares para implantar o projecto.
“A segurança para a ENI não é um problema porque o projecto é offshore. O gás está sendo extraído e liquefeito a 60 quilómetros da costa através de uma plataforma flutuante. O gás é extraído a uma profundidade de cerca de 2.000 metros e, por isso, a ENI nunca foi impactada pela insurgência”, disse.
Explicou que apenas afecta outros empreendimentos italianos envolvidos com o projecto Mozambique LNG, da TotalEnergies. Algumas empresas como a Saipem pararam e esperam pela retoma.
O diplomata fez menção ao discurso do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi no último informe sobre a nação prestado semana finda, onde partilhou o ponto de situação das operações da ENI no país.
Referiu que a plataforma flutuante de gás natural Coral Sul FLNG já exportou para o mercado global 4,48 milhões de toneladas, que resultam de 63 carregamentos registados desde o primeiro ocorrido em Novembro de 2022.
O Chefe do Estado moçambicano, sem avançar quanto o país encaixou em receitas fiscais no âmbito dos carregamentos referidos apontou a exploração dos hidrocarbonetos como legado que deixa ao país, findos dois mandatos de governação.
Para Nyusi, as operações da italiana ENI são um marco que simboliza o sonho de décadas e posiciona Moçambique como actor relevante no mercado global de energia.
Bardini reconhece que há avanços significativos no combate ao terrorismo em Cabo Delgado e espera que o projecto da TotalEnergies, orçado em mais de 20 bilhões de dólares norte-americanos, interrompido por motivos de (força maior), retome o mais breve possível, para ajudar a acelerar o crescimento da economia moçambicana.
O diplomata acredita que a economia moçambicana vai crescer nos próximos anos, fruto das receitas dos projectos de gás em curso no país, mas adverte sobre o fardo da dívida pública que atingiu níveis alarmantes, cerca de 70% do PIB.
Para Bardini, a dívida está a limitar o país a mobilizar outras fontes de financiamento nas praças financeiras internacionais, porque o seu nível de endividamento é insuportável.
Referiu que 92% do orçamento do Estado é gasto para pagar salários e o custo da dívida, tanto externa como interna, ficando apenas 8% do orçamento para realizar despesas de investimento, factor que atrasa o desenvolvimento do país a todos os níveis.
Como solução, o país deve reduzir os níveis de endividamento e procurar financiamento externo de fundos concessionários ou donativos.
“Neste momento, o financiamento internacional não tem muita disponibilidade. Para reduzir a dívida, Moçambique deve reduzir a sua despesa interna. Só assim pode recuperar a confiança de parceiros internacionais, mas isso não se resolve da noite para o dia”, advertiu.
Quanto a cooperação bilateral, salientou que estão a bom nível embora haja espaço para melhorias. Destacou a existência em Moçambique de uma comunidade italiana numerosa em todas as províncias do país.
(AIM)
Paulino Checo/sg