
Delegação política da Renamo em Chimoio, província de Manica
Chimoio (Moçambique), 17 Fev (AIM) – Alguns antigos guerrilheiros da Renamo amotinaram-se na manhã desta segunda – feira (17), defronte a delegação política provincial deste partido na cidade de Chimoio, capital da província de Manica, centro de Moçambique, e encerraram as portas do edifício, bem como incendiaram panfletos com imagens de Ossufo Momade.
O acto tem em vista exigir a demissão imediata e incondicional do presidente da actual terceira maior força da oposição em Moçambique, alegadamente por má governação.
Os amotinados, que recorreram a correntes e cadeados para encerrar as portas do edifício da delegação, também incendiaram todo o material de propaganda e outros bens que continham a imagem do presidente da Renamo.
Os guerrilheiros, membros e simpatizantes da Renamo querem que o seu líder abandone a direcção do partido, tal como explicou o brigadeiro e general, Fernando Mafenhure.
“Ossufo Momade já deu o que tinha para o partido. Pensamos que é tempo de ele estar em casa e participar nas actividades do partido como um simples membro. Não estamos contra ele, mas todos os membros, principalmente os guerrilheiros da Renamo, acham que ele já fez a sua parte. O que lhe resta agora é deixar que o partido seja conduzido por outras pessoas competentes”, referiu Mafenhure.
“Ele mostrou ser um mau líder. Não é dinâmico e isso não agrada o partido. Desde que tomou a liderança da Renamo, em 2019, o partido afundou-se em muitos aspectos. Mesmo em termos de popularidade, baixou bastante. Isso não nos agrada como guerrilheiros e membros da Renamo” acrescentou.
A fonte disse sentir saudades do falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, porque, segundo ele, era um homem comprometido com a verdade. “Era um lutador pela verdadeira democracia e sabia valorizar aqueles que estiveram nas matas e combateram durante 16 anos [da guerra civil]”.
Mafenhure referiu que “o nosso suor e o trabalho que fizemos durante os 16 anos de luta para trazer a revolução, incluindo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), não estamos a ver os resultados”.
Por isso, explicou, “preferimos, hoje, nos juntarmos aqui para fecharmos a delegação provincial como forma de reivindicar a saída de Ossufo Momade da liderança do nosso partido”.
Mafenhure acusou Momade de ter-se aliado ao partido governamental, a Frelimo, durante as últimas eleições gerais, e das assembleias provinciais de 09 de Outubro.
Disse que a vitória do actual Presidente da República, Daniel Chapo, e da Frelimo, num processo que, segundo Mafenhure, foi fraudulento, e o silêncio de Ossufo Momade mostra, sem qualquer dúvida, que há um nível de cumplicidade muito alto.
“Está claro que ele negociou o processo eleitoral com a Frelimo. Não é normal que um dirigente que vê que o processo está manchado e com indícios de fraude, continue no silêncio”, afirmou.
Ele acredita que “se fosse o falecido líder, Afonso Dhlakama, a reacção seria imediata. Mas ele está calmo e no silêncio. Isso mostra que ele é totalmente da Frelimo. Só está a nos enganar. Não consegue falar perante uma fraude eleitoral. Sentimos que não temos presidente do partido”.
Referiu que outros problemas que preocupam os guerrilheiros desmobilizados têm a ver com o pagamento de pensões.
Um desmobilizado, com a patente de tenente-coronel, por exemplo, aufere uma pensão de seis mil meticais (aproximadamente 100 usd) e um major tem quatro mil meticais.
Disse que quando Ossufo Momade é questionado sobre os procedimentos seguidos para a fixação das pensões, simplesmente ignora a preocupação dos guerrilheiros.
“Ele fica em silêncio. Um tenente-coronel a receber uma pensão de seis mil meticais, e ele nada resolve. Trabalhamos durante 16 anos quase em vão. Portanto, não queremos mais Ossufo Momade como presidente do partido Renamo”, assegurou.
Alertou que “hoje fechamos as portas da delegação provincial. Nos próximos dias, teremos de encerrar as portas de todas as delegações distritais até que ele deixe de ser o nosso presidente”.
Prometeu que “quando ele sair do poder, havemos de sentar e encontrar outra figura dentro do partido para assumir a presidência”.
“Primeiro fechamos a casa grande. Nos próximos dias serão as portas de casas pequenas (distritos) ”, realçou Fernando Mafenhure.
Ossufo Momade foi eleito presidente da Renamo no VI congresso do partido, a 17 de Janeiro de 2019, na Serra da Gorongosa, província central de Sofala.
O congresso tinha, dentre vários pontos de agenda, a eleição do presidente da Renamo, após a morte de Afonso Dhlakama, vítima de doença.
No mês de Maio do ano passado (2024), Ossufo Momade foi reeleito presidente daquela formação política durante o VII congresso, no distrito de Alto Molocué, na província central da Zambézia.
Foi candidato presidencial nas últimas eleições gerais, onde a Renamo, a nível do círculo eleitoral de Manica, conseguiu colocar apenas dois deputados na Assembleia da República (AR), o parlamento moçambicano.
(AIM)
NM/mz