
Feliciano Moreira Bastos, membro do MPLA e professor de filosofia na Faculdade Humanidade na Universidade Agostinho Neto
Maputo, 23 Jun (AIM) – No auge dos preparativos para a celebração do 50º aniversário da independência de Moçambique, o decano da política angolana, Feliciano Moreira Bastos, considera os dois movimentos que conquistaram a independência de ambos países Moçambique e Angola, nomeadamente a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) partido no poder e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), também partido no poder em Angola, como gémeos siameses.
Em entrevista exclusiva a AIM, Feliciano Moreira Bastos, membro do MPLA e professor de filosofia na Faculdade Humanidade na Universidade Agostinho Neto, entende que as duas formações políticas foram determinantes para a libertação dos seus respectivos países do colonialismo português.
“Nós, angolanos e moçambicanos, estou a falar da Frelimo e MPLA, somos como eu chamo, gémeos siameses e os 50 anos de independência dos dois países, fazem-nos repensar sobre os desafios para o futuro das duas nações”, disse Bastos.
De acordo com a fonte, a Frelimo e o MPLA partilham um passado comum de luta armada anti-colonial, ideologia socialista, apoio externo soviético e consolidação pós-independência como partidos, que moldaram a história política de Moçambique e Angola até aos dias de hoje, influenciando ainda o debate sobre democracia, liberdade e reconciliação nacional.
Segundo a fonte, as semelhanças dos dois países incluem desafios pós-independência, designadamente guerra civil onde o governo da Frelimo enfrentou a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo) confronto que durou 16 anos (1977 a 1992), e Angola o MPLA enfrentou a UNITA e FNLA (guerra civil de 1975 a 2002) Ambos os conflitos foram alimentados pela Guerra Fria, e o apartheid sul-africano a apoiarem os movimentos opositores.
Moreira Bastos, que se encontra em Moçambique para participar das celebrações dos 50 anos de independência, evento a ter lugar no dia 25 de Junho no Estádio da Machava, local onde o primeiro Presidente de Moçambique independente proclamou a independência em 1975, chama atenção aos dois partidos para uma leitura rápida das mudanças que foram ocorrendo ao longo dos anos, no sentido de se adaptarem para responder aos anseios e desejos do povo.
“É verdade que lutamos e conquistamos as independências, mas essa libertação ainda não terminou porque ainda temos muitos desafios nos dois países. Neste momento, Moçambique e Angola precisam de alcançar a independência económica. Só assim poderemos criar condições para uma vida digna aos povos. Penso que caberá as lideranças dos dois países encontrar soluções conjuntas, porque são dois países que comungam as mesmas ideias”, vincou.
Para a fonte, os dois partidos no poder em Moçambique e Angola, devem se preocupar em criar premissas para satisfazer as necessidades das populações, pois a juventude actual é exigente o que desafia os governos a se adaptarem às dinâmicas para responder aos anseios deste segmento.
“Temos que nos preocupar na defesa dos interesses do povo e não nos interesses individuais. A partir de agora deve haver mudança de mentalidade. Mudança na maneira de estar e na maneira de gerir os fundos públicos. Neste momento o grande problema é esse, a gestão do dinheiro do erário público”, alertou.
Para o político, 50 anos depois da libertação do colonialismo português, Moçambique e Angola enfrentam desafios complexos e estruturais, apesar dos enormes avanços registados na educação, saúde e infra-estruturas.
Outros desafios incluem conflitos armados, insegurança, desigualdades sociais, pobreza, corrupção sistémica, falta de transparência, fragilidade das instituições democráticas, dependência de recursos naturais, falta de diversificação da economia, pois os próximos anos são cruciais para romper com os padrões do passado e construir economias inclusivas, seguras e resilientes.
(AIM)
Paulino Checo