
: Escritor moçambicano, Luís Bernardo Honwana
Maputo, 24 Jun (AIM) – O veterano da Frelimo, partido no poder em Moçambique, Luís Bernardo Honwana, afirma que os moçambicanos jamais teriam alcançado a independência se não tivessem tomado a decisão ousada de pegar em armas e lutar contra o regime colonial português.
Honwana, que também é escritor e autor da célebre obra “Nós Matamos o Cão Tinhoso”, falava em entrevista exclusiva à AIM, no quadro das celebrações dos 50 anos de independência nacional, que se comemora na semana corrente.
Aliás, Honwana que é descrito como nacionalista de gema, enaltece o papel dos combatentes da luta de libertação em Moçambique, pois o seu desempenho foi fundamental não apenas para a conquista da independência, mas também para a formação do Estado moçambicano moderno.
“Se não tivéssemos lutado pela independência, ela não teria nos caído do céu. Claro que até hoje eles estariam aqui, o que impediria isso? Era isso que diziam as autoridades portuguesas. Aliás, até hoje ainda há colónias no mundo e persistem porque ainda existe a vontade de colonizar”, disse Honwana.
Lembrou que Portugal foi o último país europeu a conceder independência às suas colónias, incluindo Moçambique, devido a um conjunto de factores históricos, políticos e ideológicos específicos do regime português da época.
O regime encarava as colónias não como territórios a descolonizar, mas como províncias ultramarinas, parte integral de Portugal. Foi isso, que levou as colónias a enveredarem pela luta de libertação.
Refira-se que a vontade expressa do regime autoritário liderado por António de Oliveira Salazar e, depois, Marcelo Caetano, era manter as colónias para sempre, porque Portugal entendia que a sua definição como entidade política incluía seu império. Por isso, dar a independência estava fora de cogitação, porque encaravam a independência como uma ameaça e negociar com movimentos de libertação era visto como fraqueza.
Apesar do regime colonial ter exibido toda a sua crueldade do ponto de vista de opressão do povo, Honwana entende que a guerra de desestabilização em Moçambique, também chamada de guerra dos 16 anos matou mais moçambicanos do que a luta de libertação.
Apontou o período pós-independência como crítico para o Estado e o povo, devido a guerra que durou 16 anos movida pela Resistência Nacional de Moçambique, com apoio do regime do Ian Smith e do apartheid.
“A guerra de desestabilização foi muito mais mortífera do que a luta de libertação nacional, porque o desígnio era acabar com este projecto revolucionário e os nossos opositores achavam que haviam de inviabilizar isso”, disse o veterano.
Advertiu sobre os perigos que a independência moçambicana enfrenta nos dias de hoje, chamando atenção aos governos para a necessidade de uma interpretação rápida dos novos fenómenos, que demandam inteligência necessária para produzir respostas rápidas que possam levar o país ao desenvolvimento num contexto de carência económica e elevado custo de vida que tem vindo a desencadear levantamentos sociais, a semelhança das últimas eleições gerais.
“O que pode ameaçar a independência é não sabermos interpretar correctamente os fenómenos ao nosso redor para produzirmos respostas necessárias. Isso sim vai pôr em perigo a independência”, alertou.
Lembrou que a crise pós-eleitoral colocou o país numa situação muito delicada através de manifestações desencadeadas por vários factores, algo que poderá ser ultrapassado através de boa uma governação.
(AIM)
PC/sg