
Lisboa, 26 Abr (AIM) – O novo Primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, vai visitar “brevemente” Moçambique, naquela que será a sua primeira deslocação ao país depois de tomar posse, na sequência da vitória da Aliança Democrática (PSD, CDS-PP e Partido Português Monárquico) nas legislativas de 10 de Março, mas sem maioria absoluta.
Quem assim o disse é o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, falando esta sexta-feira, em Lisboa, no lançamento do Livro “O Fim da Luta de Libertação Nacional em Moçambique, Operação Omar”, da autoria do General na Reserva Atanásio Mtumuke. Para além do homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, a cerimónia contou igualmente com a presença de Luís Montenegro.
Filipe Nyusi não avançou mais detalhes sobre a prevista visita de Montenegro a Moçambique, uma vez que as diplomacias dos dois países encarregar-se-ão na organização dos detalhes. O primeiro país africano de língua portuguesa a ser visitado por Montenegro foi Cabo Verde.
Na ocasião, um dos momentos marcantes foi o abraço entre “inimigos de ontem” (durante a luta de libertação contra o colonialismo português e “irmãos de hoje” (fim do colonialismo há 50 anos). O lançamento enquadra-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, data assinalada esta quinta-feira.
O General na Reserva Atanásio Mtumuke (da Frente de Libertação de Moçambique) e o Alferes Miliciano Monteiro (do exército colonial, que operava nas proximidades da fronteira entre Moçambique e a Tanzânia), abraçaram-se esta sexta-feira, numa das salas do Restaurante moçambicano Zambeze, em Lisboa, perante aplausos da assistência constituída por empresários dos dois países, diplomatas, jornalistas, entre vários convidados ao lançamento da obra.
Mtumuke (que dirigia 700 homens) recordou um dos episódios relatados na obra (a rendição de 141 homens dirigidos por Monteiro), sublinhando que o gesto evitou “um banho de sangue”.
O gesto evidencia que a FRELIMO, hoje partido no poder, não lutou contra o povo português, mas sim contra um regime (fascista e colonialista) que também oprimiu o povo português.
Ainda esta sexta-feira, foi relançado o sinal d Televisão de Moçambique (TVM), órgão de informação Público.
NYUSI NAS COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS DO 25 DE ABRIL
O chefe de Estado moçambicano defendeu esta quinta-feira que a revolução de 25 de Abril foi construída não só em Portugal, mas também pelas antigas colónias, cujos presidentes foram convidados ao evento e reuniram-se em Lisboa.
“É preciso que nas nossas escolas, em Portugal e nos países da lusofonia ensinemos a verdade: o 25 de Abril foi construído em Portugal, em Angola, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, e a nossa presença nesta efeméride é um tributo merecido aos heróis da luta anticolonialista e aos jovens capitães portugueses que a 25 de Abril puseram fim a um regime que subjugava os nossos povos”, disse Filipe Nyusi, na sessão que decorreu no Centro Cultural de Belém (CCB).
Ao intervir na cerimónia que assinalou os 50 anos do 25 de Abril, e que juntou no CCB os Presidentes dos países das antigas colónias, com excepção do Brasil, representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Filipe Nyusi afirmou que esta efeméride é “a celebração da vitória numa luta partilhada”.
O chefe de Estado moçambicano acrescentou o povo português, ao celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, que se assinala a 25 de Abril, não se deve esquecer da contribuição dos povos africanos”.
Milhares de pessoas celebraram na quinta-feira, em Lisboa, o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, que derrubou a mais longa ditadura fascista da Europa e deu início à democracia. A revolução, quase sem derramamento de sangue, foi conduzida por um grupo de oficiais subalternos do exército que queriam a democracia e pôr fim às longas guerras contra os movimentos independentistas nas colónias africanas,
Filipe Nyusi, que aproveitou a ocasião para historiar o percurso da luta de libertação contra o colonialismo, acrescentou que a presença de Moçambique nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril visa “reafirmar a amizade e solidariedade” com o povo português.
Recordou os massacres de Mueda, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, na década de 1960 e de Wiriyamu, na província de Tete, dizendo que o falhanço da operação militar violenta “Nó Górdio”, comandada por Kaúlza de Arriaga, em 1970, para frustrar a luta armada de libertação de Moçambique, “abriu um amplo caminho” para as negociações entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e governo colonial e que culminaram com os acordos de Lusaka, Zâmbia.
(AIM)
DM