
Gestor de Operações e Desenvolvimento da Peace Parks Foundation em Banhine, Donald Sutton (direita)
Chigubo, 04 Out (AIM) – A organização não-governamental Peace Parks Foundation (PPF) reforça o seu papel central na conservação da biodiversidade em Moçambique, apoiando a reintrodução de fauna bravia no Parque Nacional de Banhine para transformar a área num destino emergente de ecoturismo.
Através de uma visão clara, a organização defende que o futuro da conservação passa pela integração entre biodiversidade, turismo e desenvolvimento comunitário.
Em entrevista a AIM, no quadro da translocação de 400 animais para o Parque Nacional de Banhine, o gestor de Operações e Desenvolvimento da PPF em Banhine, Donald Sutton, descreve o momento como “um marco histórico para a restauração da vida selvagem em Banhine”, numa iniciativa, que recoloca Banhine no corredor ecológico entre o Kruger, Limpopo e Zinave, no coração da Área de Conservação Transfronteiriça do Grande Limpopo.
“Quando os turistas pensavam em Banhine, pensavam apenas em aves. Agora, com a chegada dos animais, o parque volta a ser um destino completo, com uma paisagem única e biodiversidade em expansão”, afirmou Donald.
De acordo com a fonte, a operação de translocação, que levou cerca de 400 animais oriundos do Parque Nacional de Maputo, incluiu animais como zebras, impalas, entre outras espécies, simbolizando a ligação entre áreas de conservação com diferentes estágios de recuperação ecológica.
Segundo Donald, o investimento feito pela Peace Parks Foundation na ordem de 350 mil dólares, permitiu a construção de cercas de segurança para o santuário, abertura de furos de água, pagamento de salários e logística. “Empregámos cerca de 40 pessoas locais para apoiar o processo. A conservação só faz sentido quando as comunidades também beneficiam dela”, afirmou.
Para o coordenador da Peace Parks Foundation Moçambique, a visão da organização é clara, “aumentar a biodiversidade, promover o turismo e melhorar as condições de vida das comunidades que vivem dentro e ao redor das áreas de conservação”. A estratégia está alinhada com a filosofia da fundação desde a sua criação no início dos anos 2000, inspirada pelos antigos presidentes Nelson Mandela e Joaquim Chissano, e pelo empresário António Rupert, que idealizaram um modelo de cooperação regional através da conservação transfronteiriça.
“Acreditamos que restaurar a biodiversidade em Banhine é também restaurar a esperança. Cada animal reintroduzido fortalece o ecossistema e cria oportunidades económicas para as pessoas”, sublinhou Donald, acrescentando que o parque tem potencial para se tornar um dos maiores destinos de turismo de natureza do interior moçambicano.
Com o regresso da fauna, a PPF aposta também na valorização cultural e económica das comunidades locais. “Queremos que os visitantes conheçam a cultura local, provem a comida tradicional e convivam com as comunidades. A conservação deve andar lado a lado com o desenvolvimento humano”, referiu, realçando que a fundação já iniciou programas que incentivam o turismo comunitário, a produção artesanal e a formação de guias locais, incluindo mulheres.
Donald acredita que o turismo de conservação é o motor para a sustentabilidade do sistema de parques nacionais. “Quanto mais turistas trouxermos, mais receitas haverá para os parques e mais rendimentos para as comunidades. No ano passado, 20% das receitas geradas por algumas áreas de conservação foram distribuídas localmente, beneficiando centenas de famílias”, afirmou.
O responsável explicou ainda que o trabalho da fundação se estende por mais nove milhões de hectares, conectando os parques do Kruger (África do Sul), Limpopo, Banhine e Zinave (Moçambique), num ecossistema partilhado com o Zimbabwe ao abrigo da Área de Conservação Transfronteiriça do Grande Limpopo
“Se aumentarmos a biodiversidade em Banhine, aumentamos também a do Limpopo e do Zinave. É um sistema interligado, e cada sucesso local fortalece toda a paisagem transfronteiriça”, destacou.
Para Donald, o desafio futuro será consolidar o parque como modelo de conservação participativa, onde natureza e pessoas coexistem em harmonia. “O objectivo final é que as comunidades vejam a vida selvagem não como uma ameaça, mas como uma fonte de sustento e orgulho nacional”, concluiu.
(AIM)
Paulino Checo /sg