Presidente da Federação Africana do Instituto de Auditores Internos (AFIIA), Emmanuel Johannes
Maputo, 05 Dez (AIM) – Moçambique precisa de separar com urgência as funções de inspecção e auditoria interna, reforçar o orçamento destinado ao controlo do erário”, recomenda Presidente da Federação Africana do Instituto de Auditores Internos (AFIIA), Emmanuel Johannes.
A fonte deixou a recomendação durante o Workshop de Divulgação dos Resultados de Avaliação do Subsistema de Auditoria Interna
Recomenda ainda a expansão da formação técnica de auditores e implementar sistemas consistentes de gestão de risco em todas as instituições públicas, sob pena de o país continuar a investigar perdas apenas depois de consumadas, em vez de prevenir e evitar prejuízos antes da sua ocorrência.
Johannes falava durante o evento organizado pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF) que divulgou publicamente o diagnóstico sobre o grau de maturidade do subsistema de auditoria interna no país.
Apontou fragilidades estruturais, constrangimentos financeiros e a necessidade de reformas profundas em linha com normas internacionais, sublinhando que misturar funções enfraquece o controlo e gera confusão operacional no seio do Estado.
“Há uma crise de identidade dentro do sector porque, na prática, inspecção e auditoria têm sido tratadas como se fossem a mesma coisa”, disse.
Explicou que na inspecção o foco é verificar o cumprimento das normas e, por isso, os avaliados adoptam uma postura defensiva. Já a auditoria interna procura soluções e actua preventivamente, orientada para gestão de risco.
Se estas funções não forem separadas de forma institucional e técnica, o sistema continuará reactivo e incapaz de evitar prejuízos, advertiu.
O dirigente alertou que o país permanece preso a auditorias de conformidade realizadas depois do dano financeiro já consumado.
“Quando se controla depois do estrago feito, a auditoria limita-se a quantificar perdas. O nosso objectivo deve ser prevenir antes que aconteça, e isso só é possível com auditoria baseada no risco, com autonomia e regras claras”, referiu.
O encontro marcou, segundo o especialista, o início de um ciclo de reformas que visa criar uma força robusta de auditoria interna, tecnicamente independente e alinhada às boas práticas africanas e internacionais.
O relatório apresentado indica que o orçamento para auditoria interna sofreu corte significativo entre 2023 e 2025. Em 2024, apenas 19% das auditorias normais previstas foram executadas, enquanto 87% dos recursos foram canalizados para auditorias especiais.
A mudança demonstra resposta a problemas emergentes, mas reduz o acompanhamento regular que fortalece a disciplina de gestão e o controlo preventivo.
Além da limitação de meios, foram identificadas assimetrias de maturidade. Algumas instituições aplicam normas internacionais e gestão de risco, enquanto outras actuam com modelos desactualizados e sem ferramentas de prevenção.
Já o Inspector-Geral do Ministério da Economia e Finanças, Emanuel Mabumo, reforçou o alerta, explicando que o workshop resultou de uma avaliação externa conduzida por especialista certificado no Instituto de Auditores Internos da Tanzânia.
«Precisávamos trazer alguém com autoridade técnica para diagnosticar o nosso nível actual e indicar fragilidades.
O consultor analisou como o subsistema funciona, o estágio da auditoria interna no país, e guiou-nos sobre o caminho a seguir para alinhamento com normas globais.
O objectivo é claro: seguir boas práticas, normas internacionais e desempenhar auditoria com rigor reconhecido mundialmente», afirmou.
Mabumo reconheceu que a IGF já pratica auditoria baseada no risco, mas admitiu que grande parte das instituições está atrasada e necessita de capacitação, reformas e sistemas de gestão de risco para actuarem preventivamente.
“Hoje já não basta verificar documentos. É preciso antecipar riscos. Mas para haver auditoria baseada no risco, as entidades públicas precisam de implementar sistemas de gestão de risco.
Johannes insistiu na independência funcional das unidades de auditoria interna como condição de credibilidade.
“A auditoria interna não pode depender de quem executa despesas ou gere recursos humanos. A dependência funcional deve estar no mais alto nível, idealmente junto ao Ministro, para evitar interferências e permitir que os auditores expressem conclusões técnicas com independência total”..
(AIM)
NL/ sg
