Empresário moçambicano Salimo Abdula, antigo presidente do Conselho Empresarial da CPLP
Bissau (Guiné), 17 Jul (AIM) – A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) enfrenta desafios persistentes em segurança alimentar e nutricional, apesar de contar com condições climáticas favoráveis para a produção agrícola.
Aliás, a maior parte dos Estados-membros continuam dependentes da importação de produtos básicos, o que exige uma transformação urgente no modelo produtivo e de distribuição.
Esta constatação foi feita hoje (17), em Bissau, capital guineense, durante o II Fórum Económico Empresarial da CPLP, que reuniu empresários dos nove países-membros. O encontro sublinhou o papel crucial do sector privado na busca de soluções sustentáveis para garantir a soberania alimentar no espaço lusófono.
O evento reforçou os apelos à mobilização do tecido empresarial para se envolver nos esforços coordenados pela Estrutura Estratégica de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP (ESAN-CPLP) e pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da Comunidade, plataformas lançadas em 2021.
As intervenções apontam a necessidade de maior integração entre recursos naturais disponíveis, conhecimento técnico e políticas públicas, com vista a reduzir a vulnerabilidade alimentar da região e fomentar cadeias de valor sustentáveis.
Em entrevista a AIM, o empresário moçambicano Salimo Abdula, antigo presidente do Conselho Empresarial da CPLP, destacou que países como Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial possuem vastas extensões de terra arável de África, tornando-os fundamentais para garantir a segurança alimentar regional.
“À medida que a população global aumenta rapidamente, os países africanos de língua portuguesa são uma solução natural porque possuem terra, água e jovens prontos para produzir, ainda que falte tecnologia. Essa lacuna pode ser preenchida por Portugal e Brasil”, explicou.
Abdula indicou ainda que outros sectores como turismo e hidrocarbonetos poderão alavancar a economia lusófona. “Os países da CPLP têm sol, mar e terra, factores-chave para um turismo dinâmico e intensivo em termos de mão de obra. Em simultâneo, o sector energético tem potencial para representar até 27% da produção mundial, se aproveitado com estratégia comum”, enfatizou.
De acordo com a fonte, a introdução de um pilar económico formal na agenda da CPLP, impulsionada durante a sua presidência, numa altura em que a cooperação estava virada essencialmente para reforço das relações de amizade, mostra a necessidade de evolução de um enfoque meramente diplomático para uma visão empresarial integrada.
O ministro da Economia, Plano e Integração Regional da Guiné-Bissau, Soares Sambú, destacou a importância de reduzir barreiras comerciais e aumentar os fluxos de investimento, explorando sinergias regionais e blocos económicos. “É vital abrir novas áreas de cooperação, eliminar obstáculos ao comércio e reforçar projectos empresariais concretos entre os espaços de integração económica da CPLP”, sublinhou Sambú.
Durante o fórum, representantes do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) apresentaram o “Compacto Lusófono de Desenvolvimento”, que busca promover parcerias público-privadas e atrair investimento privado nos países lusófonos africanos, com apoio de Portugal e Brasil. Apesar do potencial, o acesso ao financiamento continua sendo uma dificuldade para muitas empresas.
O II Fórum Económico Empresarial da CPLP reforçou a urgência de mobilizar o sector privado para enfrentar os desafios da segurança alimentar, diversificação económica e integração empresarial na comunidade lusófona. O fortalecimento de parcerias e a implementação de políticas estratégicas seguem como prioridades.
(AIM)
Paulino Checo/
