Massingir, 04 Ago (AIM) – A Peace Parks, uma organização sul-africana especializada em protecção da biodiversidade nas áreas de conservação transfronteiriça, introduziu seis áreas de pastagens seguras do gado bovino para as comunidades residentes no interior do Parque Nacional do Limpopo, no distrito de Massingir, província de Gaza, sul de Moçambique, reduzindo significativamente os índices do conflito homem-fauna bravia.
O modelo é apontado como solução para o crónico problema do conflito homem-animal no interior daquela área de conservação, caracterizado por incidentes ligados a ataques cíclicos aos animais domésticos, com destaque para o gado, espécie que era, vezes sem conta, dizimada pelos felinos abundantes naquela zona, designadamente, hienas e leões.
Num projecto que completou cinco anos de implementação, orçado em pouco mais de cinco milhões de dólares norte-americanos, as pastagens seguras e saudáveis, contemplam componentes como, furos de água para o abeberamento do gado e comunidades, pastagem rotativas, corais móveis, denominados “bomas”, que para além de assegurar a protecção aos animais contra os ataques dos felinos, também concentra o gado no mesmo espaço para maior controlo contra roubos.
Antes da iniciativa, o gato percorria mais de 20 quilómetros para beber água, percurso desgastante para os animais, que para além do sacrifício na busca de água nos rios, enfrentavam problema pela escassez do pasto em algumas regiões de Massingir, sendo que, actualmente, o percurso reduziu para dois quilómetros, e a flora nas áreas delimitadas é abundante graças a técnicas introduzidas para o replantio de algumas espécies de plantas que constituem pasto saudável e preferencial para o gado.
A iniciativa integra igualmente a componente de cuidados de saúde animal, com introdução de alimento fortificado para o gado em período do auge de escassez do pasto, permitindo que o animal cresça saudável e atinja o peso máximo que confere vantagem para os criadores durante a venda dos animais nas feiras de comércio periodicamente organizadas em Massingir.
Em entrevista a AIM, vários criadores manifestaram satisfação com os resultados do projecto e esperam que as outras comunidades que ainda mantém gado no interior do Parque do Limpopo sigam o mesmo exemplo, retirando os animais para pastos seguros e saudáveis.
“No parque os animais eram atacados por leões e hienas, mas aqui fora do parque o gado nunca é atacado. Em Mavodze, no ano passado, perdi 16 bois devorados pelas hienas. Aqui há vantagem, o gado está perto do pasto e da água. Eu vejo vantagem”, disse Davide Mateule, um dos criadores proeminentes das comunidades do interior do parque, com mais de 150 cabeças de gado.
“Era difícil criar no interior do parque o nosso gado era atacado pelos felinos. A própria alimentação dos animais era difícil porque a água estava longe e o pasto também. Os corais móveis construídos protegem os animais e isso nos deixa seguros”, disse Jorge Ngovene, um velho criador em Massigir com perto de 100 cabeças de gado.
Para Délcio Julião, gestor do projecto “Heading for Health”, suportado pela “Peace Parks”, que introduziu as pastagens seguras em Massingir, a iniciativa, para além de reduzir o conflito homem-fauna bravia, estancando os ataques ao gado pelos animais bravios, também resolveu a questão do equilíbrio dos ecossistemas no interior do parque, uma vez que havia competitividade pelo pasto entre os animais selvagens e os domésticos.
Com a retirada do gado bovino, permitiu não só a recuperação do equilíbrio entre a fauna e flora na área de conservação, como também estancou a cadeia de transmissão de algumas doenças como a febre aftosa, enfermidade altamente contagiosa que geralmente passa dos animais bravios para os domésticos, nomeadamente o gado bovino.
“Nós introduzimos o plano de pastagem em blocos rotativos para permitir que haja a restauração. Também introduzimos os corais móveis que são bomas, que são importantes para a segurança do gado principalmente durante a calada da noite. Contratamos pastores profissionais e treinados. Com essas acções os predadores não conseguem atacar o gado”, disse Délcio Julião.
De acordo com a fonte da PPF, pelo impacto da acção, o projecto viu-se obrigado a expandir a colocação de furos de água também para as comunidades que vivem na zona tampão do parque, que também possui gado bovino, e desde a implementação da iniciativa registou-se um aumento de nascimento e aumento massa corporal, que é a carcaça dos animais em alusão.
(AIM)
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