
Parlamento português
Lisboa, 03 Mai (AIM)- No dia do arranque da nova legislatura depois das eleições antecipadas de 18 de Maio em Portugal, alguns partidos políticos representados na Assembleia da República, o parlamento português, pediram para que não se deixe passar na AR o discurso de ódio, característico da extrema-direita.
A nova legislatura iniciou esta terça-feira (03) com a reeleição do social-democrata José Pedro Aguiar-Branco para presidente da AR, à primeira votação, com 202 votos a favor, 25 em branco e três nulos. A AR tem 230 deputados.
PSD diz ser tempo de cuidar “do prestígio das instituições”
O social-democrata Hugo Soares considerou que a reeleição de Aguiar-Branco “fala por si” e é “um resultado da normalidade democrática e do prestígio das instituições”.
“É tempo agora de olharmos e cuidarmos do prestígio das instituições, e ele não se cuida e não se assegura (…) com proclamações quando depois não respeitamos aquilo que é tradicional respeitar”, vincou o deputado, citado pela RTP e SIC Notícias.
“Não se cuida nem se assegura quando nos combatemos de forma muitas vezes pouco urbana, muitas vezes mais agressiva, outras vezes até de forma desrespeitosa”, acrescentou.
“Última legislatura da terceira república” – André Ventura
O líder do Chega, André Ventura, felicitou o presidente da Assembleia da República pela eleição. No momento em que se inicia a nova legislatura, frisou que os portugueses “querem que este Parlamento lhes diga que vai fazer a mudança da vida deles”, sem estar preocupado “com balelas de abril (revolução do 25 de abril 1974) nem com balelas de março”. O Chega é um partido de extrema-direita, xenófobo, racista e populista.
Seis anos depois desde eleição do primeiro deputado do partido, Ventura realça o papel de líder da oposição, afirmando que os portugueses “saíram de casa e escolheram o Chega”, após anos de “gozo, humilhação e perseguição”.
Considera que as eleições de 18 de maio e o seu resultado são avisos “à bolha político-mediática”, criticando sondagens “absolutamente manipuladas” e as “tentativas ignóbeis de configurar o Parlamento fora da vontade do povo”.
André Ventura fez também referência às comunidades (emigrantes), que “sabem o que é ter de sair do país” após governos do PSD e PS. Durante a pré-campanha e campanha eleitoral, as sondagens colocavam a o Chega na terceira ou quarta posição, mas acabou ficando em segundo lugar.
Por fim, o líder do Chega deixou um “repto” à coligação AD, que venceu estas eleições: “Que não desista e não tenha medo das reformas de que o país precisa”.
Destacou que, pela primeira vez na história dos últimos 50 anos, é possível fazer uma mudança constitucional sem necessitar o Partido Socialista (PS). E enfatizou, neste aspecto, a importância de consagrar “a luta contra a corrupção”, mas também uma Constituição em que “as minorias podem ser protegidas mas têm de ter tantos deveres como as maiorias”.
Ventura salientou de novo o resultado do Chega nestas eleições e comprometeu-se no esforço de “mudar a face do país”, indo mais longe para declarar que “esta será a última legislatura da nossa terceira República” e que “nada ficará como dantes”.
“A partir de agora é para mudar. (…) É para ir atrás de quem tivermos de ir”, acrescentou ainda.
PS diz que terá um papel de “divergência com lealdade”
Pedro Delgado Alves, líder parlamentar interino do PS, começou a sua intervenção desejando a Aguiar-Branco um mandato “profícuo em defesa da instituição parlamentar” e garante que o PS terá um papel de “divergência com lealdade”.
Recordando os 50 anos da Assembleia Constituinte, o socialista salientou a necessidade de defender a democracia.
“Achamos que ela é um dado adquirido, mas a história da humanidade mostra-nos o inverso. É sempre uma flor frágil e preciosa que precisa de ser cultivada e protegida”, disse.
“O PS estará neste Parlamento como sempre o fez ao longo dos últimos 50 anos: comprometidos com a democracia e com as liberdades fundamentais, mobilizados para reduzir desigualdades, empenhados no crescimento da economia e no bem-estar, na defesa do estado social”, declarou.
“Seremos construtivos e estaremos sempre empenhados em restaurar a confiança”, acrescentou.
IL diz que país exige “soluções concretas”
A deputada eleita pela Iniciativa Liberal (IL), quarta força política, congratulou o presidente da Assembleia da República após a votação e também os novos deputados na legislatura que se inicia.
Numa curta intervenção, Mariana Leitão vincou que Portugal exigem “mais do que palavras”, mas também “resultados” e “soluções concretas” para os problemas na saúde, habitação, justiça e economia.
Ela frisou que os deputados têm a responsabilidade de “devolver a esperança” aos portugueses num país melhor.
Ilivre pede que não se deixe passar discurso de ódio na ar
Isabel Mendes Lopes, do partido Livre, vincou a necessidade de “ser intolerante com a intolerância” e de “não deixar passar o discurso de ódio” no Parlamento.
“Quando permitimos que pessoas e grupos de pessoas sejam insultados, sejam ridicularizados, sejam vilipendiados, estamos a instigar a polarização, estamos a incutir o medo e a restringir a liberdade dessas pessoas”, declarou.
Aguiar-Branco foi único candidato
José Pedro Aguiar-Branco foi o único candidato ao cargo, proposto pelo seu partido, que tem a maior bancada parlamentar, na sequência das legislativas antecipadas de 18 de Maio, que a AD (PSD/CDS-PP) venceu, sem maioria absoluta, conseguindo eleger 89 deputados do PSD e dois do CDS-PP.
O Chega, a segunda maior bancada, com 60 deputados, e o PS, com 58, anunciaram que não iriam obstaculizar a reeleição do presidente da Assembleia da República — ao contrário do que aconteceu há um ano, em que houve candidaturas alternativas destes dois partidos, em momentos diferentes, no arranque de uma legislatura em que PSD e PS estavam empatados em número de mandatos.
Há um ano, Aguiar-Branco só foi eleito à quarta votação, após um acordo com o PS para a divisão do cargo de presidente da Assembleia da República durante a legislatura — que não se concretizou devido à dissolução do parlamento — e obteve 160 votos, contra 50 do seu adversário Rui Paulo Sousa, do Chega.
(AIM)
DM
,