
Parque Nacional de Banhine, província meridional de Gaza, Moçambique
Chigubo (Moçambique) 04 Out (AIM) – O Parque Nacional de Banhine, localizado na província de Gaza, sul de Moçambique, entrou numa nova fase de revitalização da fauna com a introdução de 400 animais de diferentes espécies, numa operação histórica que marca o início de um plano de restauração dos ecossistemas locais.
Até fim do próximo ano, o parque deverá receber cerca de 1.100 animais provenientes de outras áreas de conservação, incluindo o Parque Nacional de Maputo, onde a população de animais já atingiu níveis ecológicos sustentáveis.
A confirmação foi dada esta semana passada pelo administrador de Banhine, Abel Nhabanga, em entrevista à AIM, no quadro da reintrodução de centenas de animais e novos investimentos, para tornar o Parque numa das áreas de conservação mais promissoras do sul de Moçambique.
“Estamos a viver um momento histórico. O Banhine foi em tempos conhecido como o Pequeno Serenguete, pela sua extraordinária diversidade de habitats e vida selvagem. Hoje, estamos a dar os primeiros passos para recuperar essa glória perdida”, afirmou Nhabanga.
A operação, coordenada pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) e Peace Parks Foundation, com apoio da ComON Foundation e da German Postcode Lottery, faz parte de um programa de restauração ecológica avaliado em 350 mil dólares. O processo inclui a criação de um santuário de fauna com seis mil hectares, com furos de água, represas e cercas seguras, para garantir a sobrevivência das espécies translocadas e fortalecer o ecossistema.
Os animais reintroduzidos incluem zebras, cocones (boi-cavalo), pivas, changos e impalas, espécies que haviam sido extintos. “Estudos de viabilidade mostraram que o Parque tem condições ambientais favoráveis para acolher estas espécies e garantir o equilíbrio entre herbívoros e predadores”, explicou Nhabanga.
Ocupando uma área de 7.256 km², Banhine é vital para aves migratórias, pelas suas zonas húmidas sazonais, e desempenha um papel estratégico na conexão dos corredores de fauna entre os parques do Kruger, Limpopo e Zinave. “Sem o Banhine, esses parques ficariam isolados, e a conservação em escala de paisagem fracassaria”, alertou o administrador.
Nos últimos anos, o parque tem vindo a consolidar-se com a construção de novas infra-estruturas, formação de fiscais e desenvolvimento comunitário. Só em 2024, foram integrados 35 novos fiscais, incluindo 17 mulheres, reforçando a protecção e patrulha das zonas mais sensíveis. Censos aéreos realizados em 2023 confirmaram o regresso de elefantes, búfalos e predadores, sinalizando o renascimento do ecossistema.
Apesar dos progressos, os desafios permanecem significativos, devido a escassez de água, típica do clima semi-árido da região. “Não temos rios permanentes. Por isso, precisamos fazer furos e construir represas para garantir a sobrevivência dos animais durante a estação seca”, explicou Nhabanga.
A fonte diz que outro foco é o turismo sustentável, visto como motor de receitas e inclusão social. “O aumento de fauna vai atrair mais turistas, sobretudo nacionais, e isso trará benefícios directos para as comunidades, que recebem 20% das receitas geradas pelo Parque”, adiantou o administrador.
Aliás, Banhine já dispõe de zonas de campismo e está aberto a novas concessões privadas para o desenvolvimento de infra-estruturas turísticas, seguindo o modelo de turismo baseado na natureza lançado pelo Governo.
O parque abrange quatro distritos vizinhos, Mapai, Mabalane, Chigubo e Massingir e interage com mais de 15 comunidades que dependem parcialmente dos recursos naturais da região. A administração aposta no diálogo e em projectos comunitários para reduzir o conflito Homem-fauna bravia.
“Queremos um Parque auto-suficiente, capaz de cobrir entre 15 e 20% dos seus custos operacionais através do turismo e de actividades sustentáveis. É essa a meta”, revelou Nhabanga. Entre os desafios, apontou ainda a necessidade de reduzir a caça furtiva, controlar queimadas descontroladas e reforçar a educação ambiental junto das comunidades.
Com uma fauna em crescimento, novos investimentos e o regresso do esplendor natural que outrora valeu o título de Pequeno Serenguete, o Parque Nacional de Banhine renasce como um símbolo da conservação, um espaço onde o equilíbrio ecológico, o turismo e o desenvolvimento comunitário convergem para um futuro sustentável.
(AIM)
Paulino Checo /sg