Antigo Presidente da República, Filipe Nyusi, fala durante palestra intitulada Paz e Reconciliação proferida na Universidade Técnica de Moçambique
Maputo, 29 Out (AIM) – O antigo Presidente da República, Filipe Nyusi, considera que o diálogo directo, e sem intermediários, com o então líder da Renamo, Afonso Dhlakama, foi determinante para cessação das hostilidades na região centro de Moçambique que, nos últimos tempos, tinha a tendência de se alastrar para outras regiões do país.
Esta é a asserção que o antigo estadista defendeu terça-feira (28), durante a palestra que proferiu sobre o tema Paz e Reconciliação, um evento que teve lugar em Maputo, na Universidade Técnica de Moçambique.
“Esse encontro directo serviu essencialmente para o conhecimento mútuo, quebrar o gelo e criar uma relação de respeito e confiança mútua. Sentamos mais ou menos quatro horas de tempo e ninguém quis beber água, pois cada um desconfiava da água do outro”, disse Nyusi.
O antigo estadista explicou que quando tomou posse como Presidente da República, a 15 de Janeiro de 2019, disse no seu discurso inaugural uma visão centrada na paz com o objectivo de quebrar o ciclo de conflitos armados.
Lembrou que mesmo após a introdução de um sistema de democracia multipartidária em Moçambique, a Renamo vinha recorrendo a força das armas para fazer ameaças e novas exigências durante os pleitos eleitorais e, sobretudo na zona centro.
Referiu que na linha de pensamento de que a guerra é a continuação política por outros meios, esta só justifica como último recurso na defesa da integridade da soberania, de interesse legítimo de um Estado.
“Foi com esta convicção genuína, que logo após a tomada de posse, em menos de um mês no poder, procurei contactar directamente o então líder da Renamo, Afonso Dhlakama, é nessa experiência que me foi sugerido a partilhar com a UDM”, disse.
Segundo Nyusi, o diálogo entre as partes foi sempre a chave para o término de conflitos armados.
Aliás, disse Nyusi, a nossa independência nacional foi alcançada ao fim de 10 anos de guerra, opondo o regime fascista colonial português e o povo moçambicano liderado pela FRELIMO, na altura movimento de libertação.
A guerra viria a culminar com a assinatura dos Acordos de Lusaka, na República da Zâmbia, à 7 de Setembro de 1974..
Referiu que este foi o primeiro exemplo do sucesso. É um dos acordos que nunca foi questionado em todos momentos. É duradouro, é um modelo, um claro resultado de diálogo.
Para além da luta de libertação, o país sofreu a guerra de desestabilização dos 16 anos levada a cabo pelos regimes minoritários racistas da Rodésia do sul (Zimbabwe) e do Apartheid da África do Sul , que tinham como braço armado a Resistência Nacional Moçambicana ( Renamo).
“Essa guerra causou cerca de um milhão de mortes, para além de cinco milhões de refugiados do exterior e deslocados internos, só terminou na sua fase basilar através de um processo de diálogo que culminou com o Acordo Geral de Paz em 1992, em Roma, capital da Itália, como resultado de mais um diálogo”, disse.
Referiu que em 1984 foi assinado o Acordo de Incomáti, conhecido como acordo de boa vizinhança entre Moçambique e África do Sul, na altura do regime do Apartheid que tinha por intenção por fim a guerra movida pela Renamo que teve como base o diálogo.
O antigo Presidente da República disse que assumiu o compromisso de restaurar a paz em Moçambique porque o seu sonho era ver o país livre de conflitos, estável e economicamente próspero.
“Por isso, introduzi no vocabulário político, patriótico moçambicano o conceito Moçambique tem tudo para dar certo, mas ter tudo não é suficiente, é preciso fazer acontecer”, disse.
Já, o reitor da Universidade Técnica de Moçambique, Severino Nguenha, disse que a sua instituição é a única de ensino superior que tem no seu currículo um doutoramento em paz, democracia e movimento social.
A UDM vem realizando conferências nacionais sobre a questão da paz , da reconciliação e boa governação.
“Em colaboração com uma instituição chamada Rosa Luxemburgo, alemã, uma grande intelectual da esquerda, nós vemos organizando conferências nacionais sobre a questão da paz, da reconciliação e da boa governação, por isso, esta conferência que inicia com aula hoje não tem absolutamente nada a ver com qualquer evento de um passado recente “, disse.
Participaram no evento estudantes de direito, mestrado, doutoramento em direitos humanos, paz, desenvolvimento e boa governação.
(AIM)
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