Docente do Instituto Superior Mutassa, Vasco Lino
Maputo, 30 Out (AIM) – O docente do Instituto Superior Mutassa, Vasco Lino, defende que as universidades e instituições de ensino superior desempenham um papel central na discussão e produção de conhecimento sobre a exploração sustentável dos recursos naturais, contribuindo para o desenvolvimento económico e social de Moçambique.
Falando hoje (30), em Maputo, durante a primeira conferência internacional com o tema: “Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Mutassa, Lino destacou que Moçambique possui vastos recursos naturais, mas que o país continua a enfrentar elevados índices de pobreza e desigualdade.
“Estamos à procura de trazer algo que possa ajudar e contribuir para que o país encontre novos caminhos para o seu desenvolvimento e que esta conferência abra portas para muitas outras conferências específicas em diferentes áreas dos recursos naturais”
Questionou se não seriam as instituições de ensino, enquanto entidades privadas e públicas de serviço público, que actuam na educação, na investigação e na academia espaços privilegiados para discutir aspectos ligados à preservação, utilização e exploração sustentável dos recursos naturais.
O académico alertou que o actual modelo de exploração beneficia principalmente empresas estrangeiras, enquanto as comunidades locais não têm acesso a oportunidades reais de desenvolvimento.
“O que fica para a comunidade é só o buraco. A riqueza sai toda e a terra fica destruída. As comunidades locais não podem continuar a ser meras espectadoras da exploração realizada nas suas terras. Precisamos de políticas que assegurem a participação nacional e o aproveitamento sustentável dos recursos”, frisou.
Lino argumentou que a participação de empresas nacionais é fundamental para que a riqueza gerada pelos recursos naturais permaneça em Moçambique e seja utilizada para o desenvolvimento local.
“As empresas moçambicanas têm de participar na exploração dos recursos. Só assim poderemos reter a riqueza e promover desenvolvimento sustentável”, acrescentou.
O académico também abordou a necessidade de maior atenção às comunidades locais, propondo a criação de pequenas e médias empresas em parceria com a populacao local, para que o capital gerado pelos recursos seja reinvestido no território, promovendo emprego e infra-estrutura básica.
“Quando falamos de locais, não nos referimos apenas aos aldeões. Os oriundos dessas regiões também devem ter voz e participação. Se conseguirmos envolver esses grupos na exploração de recursos, o impacto poderá ser totalmente positivo”, explicou.
Vasco Lino sublinhou ainda o papel estratégico das universidades e institutos na formação de quadros qualificados e na produção de conhecimento científico, capazes de orientar políticas públicas de gestão dos recursos naturais.
“Temos de fazer a nossa parte, pesquisar, propor soluções, formar quadros capazes de gerir esta riqueza de forma soberana e responsável”, disse.
Lino concluiu reforçando que este debate deve ser contínuo e que as instituições de ensino superior têm um papel permanente de liderança e monitoria, fomentando pesquisas e políticas que garantam a sustentabilidade e a justiça na utilização dos recursos naturais.
Na mesma ocasião, o docente universitário e consultor Patrício José destacou que África continua a enfrentar desafios estruturais decorrentes da exploração histórica do continente pelas potências estrangeiras.
“Historicamente, África foi vítima de trocas comerciais injustas, escravatura e colonização”, afirmou.
Afirmou ainda que “hoje, muitos dos nossos recursos são explorados sem que nós, africanos, tenhamos pleno conhecimento do seu valor ou localização. Dormimos em cima da riqueza e acordamos pobres a chorar”.
O académico explicou que a falta de conhecimento sobre os recursos, a sua localização e valor real na economia global impede que Moçambique e outros países africanos beneficiem do seu potencial económico.
“O conhecimento é fundamental. Se não sabemos o que temos e onde está, não podemos proteger, valorizar ou negociar em nosso favor. Precisamos de quadros altamente qualificados em diferentes áreas sectoriais para gerir estes recursos e garantir que os benefícios retornem à população”, disse.
Patrício José defendeu ainda a necessidade de planificação estratégica integrada e de longo prazo, para que o desenvolvimento económico baseado nos recursos naturais seja sustentável e beneficie efectivamente as comunidades.
“Nenhuma política pública de um sector triunfa perante o fracasso das outras. A educação, por exemplo, é determinante, pois forma os quadros que vão gerir todos os sectores”, sublinhou.
A conferência contou com a presença de académicos, estudantes, representantes do sector privado e actores sociais ligados à temática. O evento teve como objectivo discutir experiências de sucesso em África e avaliar estratégias que possam ser adaptadas à realidade moçambicana, garantindo que a exploração dos recursos naturais sirva efectivamente o bem-estar das comunidades e o desenvolvimento económico do país.
(AIM)
SNN /sg
