
Maputo, 29 Set (AIM) – Especialistas em saúde consideram que o reforço das campanhas tradicionais e de proximidade é essencial para travar a propagação do HIV em Moçambique, país que continua entre os mais afectados pela epidemia em África e no mundo.
Por isso, durante um encontro que reuniu representantes do governo, sociedade civil e parceiros, foi consenso que, apesar da chegada de novos métodos de prevenção, a informação directa e acessível às comunidades permanece como a base mais eficaz para reduzir o número de novas infecções.
O director executivo da LAMBDA (organização que advoga pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), Roberto Paulo, defende a intensificação de palestras nas escolas, mercados e locais de grande aglomeração de pessoas, bem como o uso regular de programas radiofónicos e televisivos, de forma a garantir que mensagens cheguem de maneira simples e compreensível à população em geral, sobretudo aos jovens entre os 15 e 24 anos, grupo mais vulnerável.
Além disso, apontou para a necessidade de recuperar formas tradicionais de comunicação, como teatro comunitário, debates públicos e painéis informativos, que já mostraram eficácia em anos anteriores ao aproximar a mensagem preventiva da realidade cultural e linguística das comunidades.
Outro desafio destacado é a necessidade de assegurar a continuidade no fornecimento de preservativos e lubrificantes, que enfrentam rupturas frequentes, dificultando o acesso da população a métodos primários de prevenção. “Sem insumos básicos, nenhuma campanha terá impacto real”, alertou um dos intervenientes.
Os especialistas reforçaram também a importância de capacitar e valorizar as organizações comunitárias, que desempenham um papel central na disseminação de informação e no acompanhamento directo das populações. Segundo os participantes, investir nestes actores significa garantir uma maior eficácia e sustentabilidade das campanhas de prevenção.
Ainda que as novas opções de prevenção, como o cabotegravir e o lenacapavir, estejam a ser introduzidas, foi sublinhado que estes métodos devem ser integrados numa estratégia de prevenção combinada, onde o uso do preservativo e as abordagens clássicas mantêm lugar de destaque. Houve igualmente o alerta de que o lenacapavir tem sido mal interpretado como “vacina”, o que exige reforço de campanhas educativas para evitar equívocos.
Em paralelo, defendeu-se a diversificação das formas de sensibilização, incluindo o uso de novas tecnologias digitais como chatbots e plataformas interactivas, que podem complementar as campanhas presenciais, mas sem substituir o contacto directo com as comunidades.
Para os participantes, a sustentabilidade da prevenção dependerá de uma coordenação eficaz entre governo, organizações da sociedade civil e parceiros, com maior envolvimento do sector privado. “O futuro passa por combinar inovação com tradição, mas nunca esquecer que é na comunidade que a prevenção acontece de verdade”, concluiu um dos especialistas.
Segundo o ultimo Inquérito Nacional sobre o impacto do HIV e SIDA em Moçambique (INSIDA 2021) a prevalência de HIV entre adultos em Moçambique é de 12,5%, o que corresponde a aproximadamente 2.097.000 adultos vivendo com HIV.
A prevalência de HIV foi maior entre mulheres (15,0%) do que em homens (9,5%).
(AIM)
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