Phokeng (África do Sul), 19 Fev (AIM) – Evaristo Macamo, 29 anos, mais conhecido por “Dragon”, é um rosto que retrata a história de milhares de jovens moçambicanos que vivem na miséria ou em condições deploráveis, na vizinha Africa do Sul, parte considerável dos quais indocumentados.
A história de Dragon também reflecte a frustração de muitos outros, e sonhos desfeitos de jovens que decidiram atravessar a fronteira, a procura de “melhores oportunidades” de vida, a maior parte dos quais indocumentados.
Aliás, a falta de documentos faz com que vivam a margem da lei, privados de um emprego decente, bem como oportunidades de se beneficiarem de uma formação técnica.
O caso de Dragon, que há três anos vive em Phokeng, um bairro rural de Rustenburg, que dista cerca de 20km do centro da cidade, na província de North West, para onde a reportagem da AIM se deslocou, é caso para dizer que a sorte não andou por perto do jovem que, além do desafio de emprego, enfrenta o medo de a qualquer momento ser detido por permanência ilegal e repatriado.
“Neste país as coisas mudaram muito. Eu não contava que até esta altura [desde 2021] estaria a passar necessidades”, conta à AIM, num tom de desespero e arrependimento.
É que, segundo diz, “desde que estou aqui ainda nada melhorou na minha vida. Agora, por exemplo, estou há duas semanas sem trabalho”. O jovem trabalha como ajudante numa empresa de construção civil.
Dragon conta que trabalhando como ajudante nas obras de construção civil chega a auferir 150 rands por dia (cerca de 500 meticais ao câmbio do dia), pagos em duas semanas, a razão de 1.500 Rand (cerca de cinco mil Meticais) – correspondente a dez dias de trabalho.
“Esse dinheiro pode parecer muito, mas para uma pessoa que depois pode ficar até um mês sem trabalhar, não é grande coisa”, desabafa, quando questionado se mesmo com esse rendimento não consegue assegurar o seu sustento.
“Pior, se para mim cá não serve, imagina a minha família em Bilene [na província de Gaza, sul de Moçambique] que espera por mim para enviar algum valor mensalmente? É complicado”.
Embora ciente da necessidade de manter um equilíbrio entre o que ganha, consome e o que deve poupar, confessa que, às vezes, isso é simplesmente impossível.
“Sabe, mano, às vezes, você precisa decidir se faz rancho para si ou manda para a família que também está a passar por muitas privações. É difícil”, segura lágrimas e respira fundo, “mas fazer o que? a vida é assim”.
Sem dinheiro e emprego, Dragon diz que viveu as últimas semanas graças a ajuda, dinheiro emprestado da senhora que lhe alugou um quarto modesto de cinco chapas onde passa a maior a parte do tempo.
“É que, às vezes, mesmo para sair, se você não tem dinheiro é difícil. Aqui tudo paga-se. Por isso, eu penso que lá em casa [Moçambique] algumas coisas são melhores”, disse.
Insiste que a falta de documentação é determinante para conseguir um emprego decente, particularmente para os moçambicanos residentes naquele país vizinho. Por isso, só consegue empregos precários em pequenas obras, onde não há o mínimo respeito pela lei de trabalho.
Por isso, enquanto não aparecer uma oportunidade melhor, Macamo diz que continuará lutando contra as barreiras que encontra, mas diz ter apreendido uma lição.
“Assim que conseguir voltar a Moçambique em Dezembro a primeira coisa que farei é tratar o passaporte. Quando você tem documentos, as coisas melhoram um pouco”, assegura.
A África do Sul é o país que acolhe maior número de moçambicanos no estrangeiro, sendo que actualmente estão contabilizados mais de 200 mil, dos quais um número considerável atravessou a fronteira ilegalmente.
(AIM)
SC/sg